“Me bateram, me chutaram com coturno, me deram cassetetadas. E eu sem nada nas mãos, apenas com uma mochila nas costas. Aqueles canalhas tinham idade de ser meus netos”, desabafa professor de física, que só escapou porque foi arrastado para o lado por outros dois colegas
“Aqueles canalhas maiores que o Capitão América tinham idade de ser meus netos”. As palavras são de José de Jesus Cherrin Fernandes, professor de 64 anos que dá aulas de Física na Escola Estadual Isaltino de Mello, no bairro Campo Grande, Zona Sul da capital paulista.
Os “canalhas” a quem Fernandes se refere são os policiais militares que agrediram professores e servidores públicos durante a votação da reforma da Previdência paulista na Assembleia Legislativa do estado (Alesp), nesta terça-feira (4). O professor foi uma das vítimas da Tropa de Choque da PM, que transformou o saguão da Alesp em uma verdadeira praça de guerra. Uma guerra, porém, que somente um dos lados estava armado.
Com bombas de gás, balas de borracha e agressões, a PM reprimiu a manifestação dos servidores contra a reforma da Previdência do governador João Doria que, em meio ao desespero dos servidores agredidos, foi aprovada.
Fernandes, que já é aposentado mas resolveu somar na luta dos colegas, conta que estava sentado no saguão da Alesp, sem absolutamente nada nas mãos, quando começou a ser agredido pelos policiais com socos, chutes e golpes de cassetetes.
“Aos 64 anos não tenho mais agilidade para ficar em pé. Eu estava sentado no chão e eles vieram que nem uma tropa de cavalos para cima de mim. Me bateram, me chutaram com coturno, e me deram cassetetadas. E eu sem nada nas mãos, apenas com uma mochila nas costas”, contou o professor à reportagem. Ele relatou ainda que ficou “desnorteado” por vários minutos e que só não foi assassinado no espancamento porque dois professores conseguiram o arrastar para o lado de fora do saguão da Alesp.
“Escapei por milagre”, desabafou.
Fernandes foi atendido no Hospital do Servidor Público, onde passou mais de 8 horas tomando medicamentos e fazendo exames.
“Como nas 8 chapas de Raio X apareceram fissuras em cima das costelas, a junta médica achou por bem eu ficar 5 dias em casa. Foi muito soro, anti-inflamatórios e medicamentos para dor. Demorou bastante a aplicação dos medicamentos. Após muita demora, houve constatação de fissuras leves nas costelas frontais do lado direito do tórax. Meu antebraço direito ficou muito inchado pelas borrachadas de cassetetes. Sinceramente, não sei como não houve fratura. Osso velho ainda com bastante cálcio, nem posso rir pois dói os machucados”, relatou.
Na noite desta quarta-feira (4), o professor registrou um Boletim de Ocorrência por lesão corporal no 36º DP da Vila Mariana. Na quinta-feira (5), ele passará por um exame de corpo de delito.
Fernandes vem recebendo apoio de outros professores e assistência jurídica do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
VÍDEO:
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