Redação Pragmatismo
Notícias 02/Abr/2020 às 11:00 COMENTÁRIOS
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Infectada, advogada de Bolsonaro minimiza coronavírus: "todos vão pegar"

Publicado em 02 Abr, 2020 às 11h00

"Não tive o cuidado de, no aeroporto, usar máscara e passar álcool em gel", admite a advogada de Bolsonaro. Ela repete o discurso do chefe, se diz contra o isolamento social e afirma que mandaria o filho de 4 anos para a escola se voltassem as atividades

Karina Kufa
Karina Kufa (divulgação)

A advogada eleitoral de Jair Bolsonaro, Karina Kufa, foi uma das 23 infectadas pelo coronavírus na famosa comitiva presidencial que viajou para os Estados Unidos para encontrar Donald Trump.

Após ser diagnosticada, Karina se isolou durante semanas e hoje é considerada curada do covid-19. A advogada, no entanto, se diz contra as medidas de distanciamento social adotadas pelos governadores e afirma que, se pudesse, mandaria o filho de 4 anos para a escola. Abaixo, confira trechos de sua entrevista ao portal Universa:

Apesar de o coronavírus ter atingido mais de 900 mil pessoas pelo mundo e feito mais de 49 mil mortos desde dezembro, aqui no Brasil ainda existe uma parcela da população que apoia quando o presidente Jair Bolsonaro fala que devemos voltar para as nossas atividades. A senhora concorda?

Eu concordo. Se a gente mantém o isolamento agora, vamos jogar o pico da doença para o inverno, quando temos outras doenças associadas à gripe, como pneumonia. Acredito que o caminho seja isolar as pessoas do grupo de risco e retomar as atividades. Hoje tenho meus pais em casa, e quando chego tenho o cuidado de tirar a roupa, lavar muito bem as mãos, os braços, para não contaminá-los. O que me preocupa é a demissão em massa, que ocasiona a desestrutura familiar, a violência doméstica, o suicídio também. Além de saques a supermercados e farmácias. Quando o presidente fala que ele está preocupado com a economia, ele não está diminuindo a vida. Vejo boa intenção dele quando fala que, se a gente quebra o país, mais pessoas irão morrer.

São mais de 183 países e territórios passando pelo mesmo problema. E parece que só o presidente do Brasil concorda que a gente deva voltar às atividades, sendo que o próprio ministro da Saúde dele pede que as pessoas fiquem em casa. Se o mundo inteiro está indo num caminho e só o Brasil está indo para o outro lado, qual seria a solução?

Vários países que estão com um índice pequeno de letalidade também não estão adotando o isolamento horizontal. Hoje, a gente está no isolamento horizontal, mas se viesse para o vertical, não seria exceção. E para isso a gente precisa de algumas medidas, contar com a tecnologia. Hoje você consegue monitorar as pessoas. Tem plano de saúde com aplicativo que manda mensagem caso a pessoa que está com coronavírus ou que é do grupo de risco saia de casa. A gente tem que ter em mente que o índice de letalidade é pequeno, e está sendo visto pelo governo federal com muita responsabilidade — ou seja, ele está buscando alternativas. Antes mesmo dos Estados Unidos, o Brasil autorizou o uso da cloroquina para o tratamento do coronavírus.

No último domingo (29), o presidente saiu às ruas do Distrito Federal, cumprimentou a população e foi criticado por desobedecer uma recomendação da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde de manter o isolamento horizontal. O Twitter decidiu excluir vídeos do presidente na rua, porque não considerou legal aquele tipo de conteúdo. Não seria um crime desobedecer uma recomendação médica?

Não vejo problema algum o presidente sair de casa, até porque ele está todos os dias no Palácio do Planalto trabalhando. Não vejo nenhuma ilegalidade nisso. O que me espanta, e é uma coisa que a gente tem que avaliar juridicamente, é a posição do Twitter em excluir post. Inclusive o Eduardo Bolsonaro teve, acho que no Facebook, uma exclusão feita e eu entrei com ação e ganhamos no Tribunal de Justiça por essa exclusão indevida. Então, o que me impressiona é ver as redes sociais monitorando a liberdade de expressão, de manifestações. O presidente estava como cidadão. Inclusive era um domingo. Ele não faria nada de ilegal, até porque ele tem um corpo jurídico qualificado, que daria qualquer orientação antes de fazer qualquer coisa. [A entrevista foi dada antes de partidos ingressarem com uma notícia-crime no STF por considerarem que Bolsonaro colocou em risco a saúde da população ao incentivar e participar de aglomerações.]

A senhora tem um filho de 4 anos e um de 17. Mandaria eles para a escola normalmente?

Entre as crianças, o índice de óbito é zero*, então eu não teria essa preocupação. Eu acho que todo mundo vai acabar sendo contaminado. De que adianta eu blindar todo mundo, inclusive minha família, nesse período, que ninguém está com nenhuma outra doença, e deixar ele pegar o coronavírus no inverno? E meu filho fica muito doentinho no inverno, como qualquer criança. Se eu tiver que escolher entre ele pegar agora ou no inverno, eu prefiro que ele pegue agora. A hora que retornar a atividade da escola, ele vai retornar também, obviamente.

*Ao afirmar que crianças não morrem vítimas de coronavírus, a advogada repete uma fake news amplamente desmentida pelos países. Na Europa, adolescentes morreram e nos EUA até bebês foram a óbito.

Além de advogada de Jair Bolsonaro, Karina Kufa é tesoureira do Aliança Pelo Brasil, o novo partido que o presidente pretende criar.

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