Bolsonaro marcou para as 17h um pronunciamento sobre as demissões de Maurício Valeixo e Sergio Moro. A narrativa da provável fala do presidente, construída no gabinete do ódio, está sendo propagada pelo que ainda restou do bolsonarismo
Ex-juiz Sergio Moro chegou ao governo Bolsonaro com status de “superministro”
Leonardo Sakamoto, em seu blog
Após Sergio Moro se demitir acusando Bolsonaro de cometer crime de responsabilidade ao interferir indevidamente na Polícia Federal, o presidente anunciou uma coletiva às 17h desta sexta (24). Afirma que “restabelecerá a verdade sobre a demissão” do diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, e do próprio ministro da Justiça de Segurança Pública.
É possível, de acordo com fonte no governo que conversou com a coluna, que o presidente venha a usar a investigação sobre o atentado cometido por Adélio Bispo de Oliveira contra ele, na campanha eleitoral de 2018, em sua justificativa.
Disparos organizados de mensagens de WhatsApp para grupos bolsonaristas afirmam que o presidente da República demitiu Valeixo — pivô da saída de Moro – por que o diretor-geral estaria “escondendo” uma conspiração por trás da facada sofrida por ele em 6 de setembro de 2018.
Após longa investigação, a PF apontou que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho e sofria de transtornos mentais. O presidente criticou várias vezes a instituição por não apontar a identidade de um mandante, nem uma trama política por trás do atentado.
“Valeixo é aquele que disse que Adélio agiu como louco, um lobo solitário no ataque ao presidente e que não havia ninguém financiando o ‘maluco’, mas o PGR [procurador-geral da República, Augusto] Aras não se deu por satisfeito e deu continuidade às investigações”, diz um trecho padrão das mensagens. Ela teria sido bombada pelo Gabinete do Ódio – como é chamada a estrutura montada no Palácio do Planalto para defender o presidente e atacar seus adversários nas redes sociais.
Na entrevista coletiva em que anunciou a saída de seu governo, na manhã desta sexta, Moro revelou que Bolsonaro sabia que estava interferindo politicamente na Polícia Federal ao demandar a troca de diretor-geral.
Desde que assumiu, o presidente vem tentando engolir instituições de monitoramento e controle, como a Polícia Federal, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Receita Federal, Procuradoria-Geral da República. Desta vez, a razão seria proteger os filhos.
O senador Flávio Bolsonaro está envolvido em denúncias de desvios de recursos públicos via “rachadinhas” dos salários de servidores públicos. E o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro são acusados de atuar na desinformação nas redes sociais e em linchamentos digitais de autoridades e jornalistas.
Em seu discurso de saída, na manhã desta sexta, Sergio Moro não apenas descolou Bolsonaro do combate à corrupção, mas denunciou pressão por parte dele para manipular a Polícia Federal, indicando tentativa de obstrução em investigações por parte de Bolsonaro. Na prática, Moro imputou um crime de responsabilidade, ao vivo, na TV.
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