Redação Pragmatismo
Notícias 27/Abr/2020 às 15:23 COMENTÁRIOS
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Com amigo de Carlos Bolsonaro no comando da PF, inquéritos devem ser engavetados

Publicado em 27 Abr, 2020 às 15h23

Amigo pessoal de Carlos Bolsonaro deve interromper inquéritos que investigam a família presidencial. Associação de delegados da Polícia Federal divulga carta ao presidente

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Alexandre Ramagem em festa de ano novo ao lado de Carlos Bolsonaro. Futuro diretor-geral da PF é amigo pessoal do filho do presidente

Escolhido por Jair Bolsonaro para substituir Maurício Valeixo no comando da Polícia Federal, Alexandre Ramagem é amigo pessoal de Carlos Bolsonaro, implicado no inquérito das fake news. A informação sobre a investigação e a foto que atesta a intimidade foram divulgadas na tarde do último sábado (25) pela Folha de S. Paulo.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) comentou a relação promíscua e disse que está com uma ação judicial pronta, aguardando a nomeação de Ramagem no Diário Oficial, para contestá-la.

“Será que ainda precisa desenhar? Esse aí [na foto, circulado de roxo] é o Alexandre Ramagem passando o réveillon com o Carluxo. É esse amigo íntimo da família que Bolsonaro quer colocar na chefia da Polícia Federal. Não permitiremos. A PF não pode ser transformada numa guarda pessoal do presidente”, disse o deputado.

Ramagem era chefe da Abin desde julho do ano passado. Sua ascensão à direção-geral da PF ocorre depois que Bolsonaro exonerou Valeixo, provocando a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

O ex-juiz caiu atirando: afirmou que a intenção de Bolsonaro é interferir na PF para ter acesso a informações privilegiadas sobre inquéritos em andamento, sobretudo os que estão no Supremo Tribunal Federal, envolvendo o gabinete do ódio (e eles apontam para Carlos Bolsonaro) e outras ações nos tribunais do Rio de Janeiro e Pernambuco.

Associação Nacional dos Delegados da PF

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal divulgou neste domingo (26/04) uma carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro pedindo autonomia financeira para a PF e com críticas à interferência do chefe de governo no comando da entidade.

A associação afirma que há uma “crise de confiança” na indicação do novo diretor-geral e também reivindica que o presidente se comprometa publicamente a garantir “total autonomia” ao novo chefe do órgão, argumentando que tais medidas contribuirão para a “dissipação de dúvidas” sobre as intenções de Bolsonaro quanto à PF.

Após a demissão de Moro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que a PF mantenha em seus cargos os delegados que trabalham na investigação do esquema de divulgação de fake news [1] e de promoção de manifestações ilegais que pedem AI-5 e ditadura militar [2].

Os investigadores da PF não têm dúvidas de que a decisão do presidente de exonerar o diretor-geral da corporação e pressionar o Ministério da Justiça a substitui-lo por um nome mais dócil aos interesses do Planalto esteja ligada aos inquéritos que contrariam seus filhos.

“Da maneira como ocorreu, há uma crise de confiança instalada, tanto por parte de parcela considerável da sociedade, quanto por parte dos delegados de Polícia Federal, que prezam pela imagem da instituição”, afirma a carta dos delegados. “Nenhum delegado quer ver a PF questionada pela opinião pública a cada ação ou inação. Também não quer trabalhar sob clima de desconfianças internas.”

O documento cita a exoneração de Valeixo e o pedido de demissão de Moro como fatos que vão impor ao novo delegado-geral um “desafio enorme: demonstrar que não foi nomeado para cumprir missão política dentro do órgão” e ressalta que, por isso, existe o risco de que ele enfrente “uma instabilidade constante em sua gestão”.

Os delegados também pedem que Bolsonaro encaminhe um projeto ao Congresso para fixar mandato para o diretor-geral e que a escolha seja feita após uma lista de candidatos ser apresentada pelos delegados ao presidente, seguida de uma sabatina.

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