Coronavírus: embargo é “ainda mais cruel” durante a pandemia, denuncia Cuba. Remessa de máscaras, kits de testes e respiradores oferecidos pelo fundador do grupo chinês Alibaba não chegou ao país porque a empresa americana que devia transportá-la temia sofrer sanções
Recentemente, Cuba denunciou que o embargo aplicado pelos Estados Unidos contra a ilha desde 1962 é “ainda mais cruel” durante a pandemia do novo coronavírus, complicando a compra de insumos médicos em um país que soma 564 casos de covid-19, com 15 mortes.
“O bloqueio econômico-financeiro dos Estados Unidos é o sistema de sanções mais injusto, severo, prolongado de um país para outro em todos os tempos”, disse em coletiva de imprensa Néstor Marimón, diretor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde.
“O sistema de saúde é o que mais afetação tem, porque compromete o bem-estar do nosso povo”, explicou. O bloqueio é ainda mais cruel e genocida do que normalmente é (…), quando não estamos com uma epidemia”, acrescentou Marimón.
Embora a medida aplicada pelos Estados Unidos permita desde 1992 o envio à ilha de medicamentos, desde que em benefício exclusivo da população, muitas companhias e bancos temem sofrer sanções por participar de trocas comerciais com a ilha.
Cuba denunciou recentemente que uma remessa de máscaras, kits de testes e respiradores oferecidos pelo fundador do grupo chinês Alibaba não chegou a Cuba porque a empresa americana que devia transportá-la temia sofrer sanções.
“É muito difícil adquirir equipamentos, insumos, medicamentos. Somos obrigados a adquiri-los de mercados muito distantes, onde os custos dobram, triplicam, e muitas vezes chegam com atraso”, afirmou Marimón.
Segundo cálculos preliminares, entre abril de 2019 e março de 2020, “o dano” causado pelo embargo “ao Ministério da Saúde chegou a 160 milhões de dólares, 60 milhões (de dólares) a mais que no ano passado”, e o montante acumulado desde 1962 excede “3 bilhões de dólares”, detalhou.
Com a chegada de Donald Trump ao poder, as sanções americanas foram reforçadas, o que complica a chegada de insumos de outros países.
Em uma ilha afetada pela escassez recorrente de alimentos e medicamentos, a ONG Oxfam reivindicou recentemente a suspensão do embargo, assim como oito organizações favoráveis à abertura a Cuba.
“As sanções dos EUA a Cuba são desenhadas para negar recursos ao regime de Castro”, escreveu no Twitter recentemente o vice-secretário interino dos Estados Unidos para o Hemisfério Ocidental, Michael Kozak.
Estes recursos “são usados para controlar e abusar dos direitos do povo cubano e interferir nos países da região”, como a Venezuela, assegurou.
Líderes repudiam bloqueio
Mais de 40 líderes que compõem o Grupo de Puebla manifestaram repúdio ao bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba e Venezuela. A organização finalizou um documento após reunião por videoconferência em que debateram o tema, na sexta-feira 10.
Criado em 2019, o bloco reúne o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e mais dez ex-presidentes, como Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia), Ernesto Samper (Colômbia), Martin Torrijos (Panamá), Leonel Fernández (República Dominicana), Fernando Lugo (Paraguai) e José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha).
Para o grupo, os Estados Unidos contrariam princípios humanitários ao manter sanções econômicas a Cuba e Venezuela, em plena pandemia do novo coronavírus.
As penalidades dos EUA a Cuba começaram na década de 1960, após o sucesso da Revolução Cubana com Fidel Castro contra a ditadura de Fulgêncio Batista.
Em 2015, o governo de Barack Obama reatou as relações com o país, mas o presidente Donald Trump reaplicou as penalidades quando chegou ao poder. A Casa Branca impede que empresas cubanas façam transações com firmas de outras nações, o que já desencadeou, por exemplo, o desabastecimento de combustíveis.
No caso da Venezuela, Obama impôs sanções contra o governo de Nicolás Maduro em 2015, colocando o país sul-americano como “ameaça à segurança nacional”. No governo Trump, as ações se intensificaram. Em 2019, por exemplo, o presidente americano proibiu transações com país e congelou bens do governo venezuelano nos EUA.
Na prática, empresas deixam de vender ou comprar da Venezuela por medo de serem multadas. Num país que importa cerca de 80% do que consome, a ação provoca a falta de produtos, como peças de máquinas e remédios.
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