Saúde

Coronavírus: taxa de mortos com cloroquina é a mesma de quem não usa

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Estudo feito com a cloroquina pela Fiocruz mostrou que a mortalidade no grupo de pacientes com coronavírus em estado grave é a mesma de quem não usou o medicamento. Outra pesquisa aponta remédio contra a AIDS mais eficaz que a cloroquina no combate ao Covid-19

Fachada externa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) (Imagem: Peter Ilicciev)

Os resultados preliminares de um estudo feito com a cloroquina pela Fiocruz e pela Fundação de Medicina Tropical mostraram que a letalidade no grupo de pacientes com Covid-19 testado, em estado grave, foi de 13%.

De 81 doentes internados que tomaram o medicamento, 11 morreram. A taxa de mortalidade verificada em pacientes em iguais condições que não usaram a droga é de 18%, segundo estudos internacionais, inclusive da China. As informações são da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.

A proximidade dos dois índices não permite afirmar, por enquanto, que a cloroquina possa fazer diferença fundamental no tratamento dos doentes infectados pelo novo coronavírus.

“Os otimistas podem achar que [a taxa com o uso da cloroquina] é menor. Os pessimistas podem achar que é igual. Estatisticamente, é igual, na margem de confiança”, diz o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz, que participa do estudo.

A pesquisa deve seguir, portanto, até que os dados sejam conclusivos. “Tudo pode. Mas não podemos achar nada”, diz ele, reafirmando que é preciso esperar pelas conclusões científicas e seguras do estudo.

Ele prevê que 440 pacientes, de diferentes hospitais do país, sejam testados –e pode durar ainda de dois a três meses. O grupo de pesquisa é integrado também pela cardiologista Ludhmila Hajjar, do Incor de SP.

A ideia inicial era que a metade dos doentes tomasse uma dose de 10g de cloroquina e o outro grupo, a metade disso.

A dose maior, no entanto, se mostrou tóxica, provocando reações indesejadas, como arritmia e “outras complicações graves”, diz Marcus Lacerda.

As conclusões preliminares já foram enviadas para publicação numa revista científica justamente porque os testes mostraram que a dose maior de cloroquina pode causar danos. E conclusões sobre a segurança dos doentes precisam ser rapidamente conhecidas.

“Quando comparamos os grupos de diferentes doses, vimos mais toxicidade na alta dose. Por isso suspendemos esse braço do estudo”, afirma o médico. “Agora todos usarão apenas a baixa dose.”

“Nosso estudo [até agora] apenas pode afirmar que a dose alta e muito tóxica”, conclui Marcus Lacerda.

O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com coronavírus viraram uma palavra de ordem do presidente Jair Bolsonaro, que quer liberar o uso mesmo antes da conclusão segura de estudos feitos no Brasil e no mundo.

O ministro Luiz Mandetta, da Saúde, tem se recusado a endossar o uso generalizado antes da palavra final dos cientistas.

Medicamento para a AIDS

Cientistas da Fiocruz também publicaram um outro estudo a respeito dos efeitos do Atazanavir, já usado no tratamento de pacientes com HIV, e seus efeitos sobre o coronavírus. Os resultados foram promissores: o medicamento, em laboratório, performou melhor do que a cloroquina.

Os testes foram feitos in vitro. Ainda é preciso fazer ensaios clínicos, em pessoas, para que seus efeitos positivos sejam comprovados no uso prático. No laboratório, ele se mostrou eficiente para quebrar uma enzima chave para a multiplicação do novo coronavírus, o que impediria a sua multiplicação no organismo.

“O Atazanavir pode vir a compor o arsenal de medicamentos contra o coronavírus”, diz Thiago Moreno Souza, da Fiocruz, que afirma ainda que uma das vantagens do Atazanavir é ser um antirretroviral já conhecido e fabricado no Brasil.

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