Saúde

Coronavírus: Weintraub desdenha de morte de vítima que era sogra de médico

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Ministro da Educação ironiza informação sobre médico cuja sogra era sua paciente e morreu vítima do coronavírus. "Sou intensivista há 30 anos, já fui chefe de várias UTIs e levava isso bem. Agora estou deprimido e perdi 7kg", desabafou o médico que está na linha de frente

Ministro da Educação, Abraham Weintraub (Agência Brasil)

“Atendi o caso zero no Equador, no fim de fevereiro. Desde então, têm sido dias muito duros. Perdi 7 kg. Minha vida mudou, como profissional e como pessoa. Sou intensivista há 30 anos, já fui chefe de várias UTIs ao mesmo tempo, eu levava isso bem. Mas agora estou deprimido. Nossa UTI está lotada, todos os 19 leitos ocupados por pacientes graves com Covid-19. A taxa de mortalidade do paciente intubado e com ventilação artificial é de mais de 80%. Significa que de dez, só sobrevivem dois. Imagine você perder todo dia três ou quatro pacientes com os pulmões totalmente brancos, sem conseguir respirar. Minha sogra foi minha paciente. Minha segunda mãe. Ela faleceu. Saiu uma vez só, para ir ao supermercado. E nunca tossiu, tinha febre, mal-estar, achamos que fosse dengue. Ficou grave, foi intubada e em cinco dias morreu. Sou o chefe da UTI e não pude fazer nada. Isso foi muito forte para mim.”

O desabafo acima é do médico equatoriano Stenio Cevallos, que está na linha de frente do combate ao coronavírus em Guayquil, uma das cidades mais devastadas no mundo pela pandemia.

Para qualquer pessoa comum e com o mínimo de sensibilidade, o relato do profissional de saúde é algo comovente. Mas não para Abraham Weintraub, ministro da Educação do governo Bolsonaro. No Twitter, o chefe do MEC escreveu, ao comentar a matéria: “Mais uma morte suspeita”.

(continua após o tuíte)

A deputada Janaina Paschoal (PSL), que recentemente superou o coronavírus, comentou: “Cala a boca, sem noção. Toma vergonha na cara e respeita um pouco as pessoas”.

“Cara desumano. Não tem capacidade cognitiva para o exercício do cargo. Lamentável”, publicou outro internauta.

Veja outros trechos do relato do médico Stenio Cevallos:

Vi amigos morrerem. Só aqui em Guayaquil, mais de 70 médicos faleceram. Dos 16 profissionais da minha equipe, 15 adoeceram, com sintomas leves.

O contágio intra-hospitalar é muito alto, apesar dos equipamentos de proteção. Você tem contato íntimo com seu paciente e, no caso da UTI, é tudo fechado, com ar-condicionado. No restante do hospital, você ainda pode abrir uma janela, circular o ar.

No meu hospital, um funcionário de atendimento ao cliente e um garçom da cafeteria morreram. Tinham 38 anos, eram saudáveis. É uma grande mentira dizer que só velhos ou pessoas com outras doenças morrem.

Fiz quatro testes, todos negativos. Isso me traz uma grande intranquilidade, porque ainda posso ser contaminado e não sei qual será minha evolução. Temo mais a doença do que a morte, porque sou muito católico. Tenho medo também de contaminar minha família.

As imagens de cadáveres na rua e dentro das casas são reais. Até uma semana atrás tínhamos que rejeitar muitos pacientes. Agora a curva baixou, melhorou um pouco. Mas quando começar novamente o contato social não sabemos o que vai acontecer. Calculo que em uns 15 dias deve haver outro pico, especialmente nas periferias. Guayaquil tem 3,2 milhões de habitantes. Imagine o que nos espera ainda.

Quem disser que não tem medo é porque baixou a guarda. E com isso se perde a prudência. Vivo muito tenso, mas sigo. Sigo adiante.

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