Corpos no RN estão sendo liberados após autópsia verbal, sem exame cadavérico e com "causa indeterminada" na declaração de óbito. A recomendação, segundo a Secretaria Estadual de Saúde Pública, é do Ministério da Saúde. Familiares de mortos protestam: "misto de dor e incerteza"
No Rio Grande do Norte, o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), responsável pelos exames cadavéricos para determinar as causas das mortes que acontecem no estado, restringiu o atendimento para evitar propagação da Covid-19. A mesma restrição ocorre em outros estados do Brasil.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), os corpos estão sendo liberados após autópsia verbal — sem exame cadavérico — e eventualmente com “causa indeterminada” na declaração de óbito. A alteração mostra o tamanho do problema das subnotificações de mortos por coronavírus no Brasil.
Sem o exame de necrópsia convencional, os médicos patologistas devem declarar a autópsia verbal a partir de análise externa do corpo e entrevista com familiares. Apenas em alguns casos, a partir dessa entrevista, é possível fechar a causa da morte.
Ainda segundo a Sesap, a nova medida de segurança é uma recomendação do Ministério da Saúde. De acordo com a Sesap, nas mortes “de causa imediata” e de “bases desconhecidas”, os médicos estão autorizados a assinarem declaração de óbito com “causa indeterminada”.
Foi o que aconteceu com o pedreiro Antônio Araújo da Silva, de 34 anos, que foi sepultado, na terça-feira (21), sem que a causa da morte fosse especificada. Segundo familiares, Antônio faleceu com “sintomas de tuberculose”. Ele não foi testado para a Covid-19 porque não foi considerado um caso suspeito e também não foi levado para a necrópsia em razão do novo funcionamento do SVO.
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“O médico só colocou na declaração que a morte não tinha causa determinada, só que a gente quer que seja feita a autópsia para saber o que de fato aconteceu. Isso não é justo, é um misto de dor e incerteza”, lamenta Rafaela Cristina Araújo Silva, irmã do pedreiro.
Petrônio Spinelli, secretário adjunto de saúde, afirma que as necrópsias são inviáveis. “Isso é uma orientação nacional, do governo federal. A ideia é que não tenhamos necrópsia nesse período de pandemia porque existe um risco muito grande”.
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