5 fatos que você precisa saber para levar o coronavírus a sério
A exemplo do presidente Jair Bolsonaro, ainda não leva o coronavírus a sério? Conheça cinco fatos que você precisa saber sobre a doença que já matou mais de 62 mil pessoas nos últimos meses
Você provavelmente tem algum parente, amigo ou conhecido que concorda com as opiniões do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao novo coronavírus. Tudo seria um grande exagero, ou, como ele disse, uma “histeria”.
Se você discorda do presidente, mas nem sempre tem à mão informações práticas para mostrar como a pandemia é grave, aqui vai uma lista rápida que pode te ajudar:
1 – Não é uma ‘Gripezinha’
A Covid-19 não é uma doença qualquer ou uma “gripezinha”, como já disseram algumas pessoas, inclusive o presidente Jair Bolsonaro.
A situação é tão complexa que, após três meses se espalhando pelo mundo, mesmo com medidas restritivas, a doença já afetou mais de 1 milhão de pessoas e provocou cerca de 62 mil mortes.
A Europa luta para controlar o vírus pelo menos desde o começo do mês passado. Na Itália, país europeu mais afetado até o momento, registrou 969 mortes pelo novo coronavírus em um único dia, e a documentação de centenas de mortes pela doença tem sido uma rotina. O total de mortos já gira em torno de 14 mil.
No início da crise epidêmica, a cidade de Milão minimizou a ameaça e lançou a campanha “Milano Non Si Ferma” (Milão Não Para) —o governo brasileiro, nesta semana, lançou campanha semelhante: #OBrasilNãoPodeParar. Bolsonaro tem criticado, sem apresentar argumentos científicos, medidas de isolamento mais restritivas para conter o vírus.
Na Itália, a Lombardia, região onde se localiza Milão, é a área mais afetada do país, com mais de 42 mil casos. O prefeito da cidade, Beppe Sala, admitiu nesta quinta que errou: “Foi um erro. Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus“.
A Espanha, com cerca de 110 mil casos e mais de 10.000 mortes, também se encontra em situação crítica.
Fora da Europa, o panorama também preocupa as autoridades. Na sexta, os EUA ultrapassaram os 245 mil infectados pelo novo coronavírus. A OMS (Organização Mundial da Saúde) tinha alertado que os casos americanos estavam crescendo com rapidez e que o país poderia se tornar o novo epicentro da doença no mundo. Naquele momento, eram mais de 50 mil doentes.
E, claro, tem também a China, que, após medidas severas de isolamento, aparente ter conseguido controlar a epidemia. O país teve pouco mais de 80 mil casos e de 3.000 mortes. Com a transmissão local controlada, o país agora luta contra os casos importados da doença.
Uma “gripezinha” não faria um estrago assim nesses países.
2 – Não tem cura
O impacto da doença, em parte, tem a ver com o fato de o Sars-CoV-2 ser novo. Isso quer dizer que nosso sistema imunológico não reconhece o vírus e, dessa forma, não consegue combatê-lo adequadamente. A outra explicação é que ainda não há uma droga para combater a doença nem vacina para preveni-la.
Os casos mais leves e moderados da doença —que são a maioria— são tratados em casa, com medicação usada para gripes.
A questão é que os casos mais graves precisam de hospitalização por semanas e ajuda de respiradores. Com o grande número de pessoas tendo contato com o vírus pela primeira vez e ficando doentes ao mesmo tempo, o número de pessoas que precisa de atenção médica cresce e os serviços de saúde não conseguem dar a assistência adequada aos pacientes.
Começam então as mortes.
É importante frisar novamente: a Covid-19 ainda não tem cura. Tem se falado muito (o que foi incentivado por Bolsonaro e pelo presidente americano Donald Trump) que a hidroxicloroquina tem efeitos positivos sobre o novo coronavírus. Não há, porém, qualquer literatura científica sólida sobre o assunto. No momento, há estudos em curso (alguns inclusive com a hidroxicloroquina) em todo mundo em busca de uma droga contra a doença. Vitaminas e outras promessas milagrosas também não são a resposta.
3 – Não é uma doença apenas de idosos
Os dados até o momento mostram que a Covid-19 tem maior letalidade entre pessoas acima de 60 anos —a taxa de mortalidade acima de 80 anos passa de 14%. Até os 50 anos, a mortalidade fica abaixo de 1%.
Mas isso não quer dizer que jovens não peguem a doença e não necessitem de ajuda médica.
Nos primeiros 2.500 casos nos EUA, por exemplo, dos 508 pacientes que foram internados, 38% tinham entre 20 e 54 anos, segundo dados do CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA). Quase metade dos 121 pacientes que precisaram ir para unidades de tratamento intensivo eram adultos de menos de 65 anos.
Um quadro semelhante é visto na Coreia do Sul, que tem uma agressiva política de testagem. A distribuição dos casos do novo coronavírus acompanha a proporção das faixas etárias, exceto na faixa de jovens entre 20 e 29 anos de idade —13% dos coreanos, mas 30% dos casos confirmados.
Fora os registros de casos de pessoas jovens que são contaminadas (como um bebê de três meses no Mato Grosso do Sul) e que eventualmente morrem (no Brasil, já há casos de mortes de pessoas com menos de 40 anos com doenças associadas).
Isso quer dizer que os jovens, além de potencialmente necessitarem de auxílio médico, são transmissores.
4 – Transmissão ocorre mesmo sem sintomas
As pesquisas indicam que mesmo quem não tem sintomas ou tem sintomas muito leves pode transmitir o vírus. O potencial de contaminação é menor em relação a quem tem quadro sintomático mais marcante, mas, mesmo assim, existe.
Um estudo recente mostrou que 90% das pessoas doentes passaram despercebidas quando ainda não havia restrições de viagens em território chinês.
O mesmo estudo aponta que os casos documentados da Covid-19 provavelmente eram mais eficientes para transmitir —provavelmente pelos sintomas mais intensos, como tosse, e por produzirem mais vírus— mas os casos mais leves conseguiriam passar o vírus com 55% da eficácia dos mais severos.
Isso mostra que alguém que não sabe pode estar contaminado com o novo coronavírus e transmitir para outros. Daí a importância do distanciamento social.
5 – O isolamento é fundamental
A capacidade de transmissão mesmo sem sintomas ajuda a explicar a importância de medidas rígidas, como quarentenas que impedem o funcionamento de comércio e escolas e que, consequentemente, diminuem a circulação do vírus no território.
No Brasil, Bolsonaro tem falado sobre isolar somente os grupos de risco da doença (o que chama de “isolamento vertical”), que são idosos (cerca de 30 milhões de pessoas acima de 60 anos, segundo estimativas do IBGE para 2020) e pessoas com doenças associadas (como câncer, problemas cardiorrespiratórios e diabetes, que sozinha tem mais de 16 milhões de doentes no Brasil).
O Reino Unido chegou a tentar implementar medidas desse tipo, com orientações para que maiores de 70 anos não saíssem de casa por quatro meses, proibição de eventos públicos e incentivo para que as pessoas trabalhassem de casa quando possível. A posição do primeiro-ministro, Boris Johnson, mudou após um estudo apontar que, sem restrições mais amplas, o número de mortos no país poderia chegar a 250 mil.
As pesquisas têm caminhado nesse sentido e mostrado que medidas mais brandas de distanciamento social ainda ocasionam um grande número de infecções e colocam em risco o sistema de saúde —especialistas falam que é necessário achatar a curva da epidemia, ou seja, evitar que haja um pico de contaminações em um curto espaço de tempo.
Pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine estimam que as medidas tomadas no epicentro da pandemia, a cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China, podem ter reduzido em até 92% a gravidade que a epidemia teria no meio deste ano e em 24% a gravidade projetadas para o fim do ano.
A quarentena incluiu fechamento de escolas, proibição de eventos públicos, expansão do Ano Novo Chinês (o que evitava que as pessoas voltassem ao trabalho) e a determinação para que a população ficasse em casa.
Phillippe Watanabe, FolhaPress