Redação Pragmatismo
Saúde 04/Abr/2020 às 16:41 COMENTÁRIOS
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Gabinete do ódio promove ação orquestrada contra governador da Paraíba

Publicado em 04 Abr, 2020 às 16h41

Gabinete do ódio promove ação orquestrada contra governador da Paraíba. Por trás dos ataques está o interesse em deslegitimar medidas adotadas pela gestão estadual no combate ao coronavírus e encorajar as pessoas a desistirem do isolamento social

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Vídeos, imagens e textos contra governadores de estado foram disseminados de maneira consistente nos últimos dias e alcançaram milhões de pessoas no WhatsApp. A origem e o teor das publicações indicam uma ação orquestrada pelo gabinete do ódio — grupo gerenciado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Por trás dos ataques está o interesse em encorajar as pessoas a desistirem do isolamento social. O fim da quarentena no país é um desejo pessoal do presidente da República, que contraria até mesmo as recomendações do seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Um dos principais alvos das fake news é o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania). Não por acaso: o estado foi pioneiro na adoção das medidas de isolamento para conter a expansão do coronavírus. Até a tarde deste sábado (4), a Paraíba permanece com um número considerado baixo de infectados pela covid-19 — são 32 casos confirmados em 18 dias. Mesmo estados com populações menores apresentam mais casos.

Nas últimas horas, os paraibanos estão sendo bombardeados com a notícia de que João Azevêdo teria recebido R$ 11 milhões de Jair Bolsonaro para ações contra o coronavírus, mas utilizou o dinheiro para contratar artistas e empresas de publicidade “ao invés de comprar respiradores para UTIs”. A notícia surgiu nos sites ‘O Alerta’ — página especializada em destruir reputações de quem se opõe ao governo Bolsonaro — e Bombeiros do Distrito Federal

Carlos Bolsonaro posta Fake News

A Agência Lupa desmentiu a informação na noite desta sexta-feira (3). “A informação é falsa. O governo da Paraíba não utilizou verba emergencial para contratar artistas. Em março, o estado recebeu R$ 11.605.736,52 do Ministério da Saúde para ações de enfrentamento à Covid-19. A Comissão Intergestores Bipartite da Paraíba, órgão que reúne representantes das secretarias estadual e municipais de saúde, destinou R$ 210 mil do montante total à secretaria estadual e distribuiu o restante (R$ 11,4 milhões) aos 223 municípios [ver aqui]. De acordo com a declaração da comissão, a verba deve ser utilizada para ‘aquisição de insumos a fim de garantir atendimento nas Unidades de Saúde que estão atuando no enfrentamento da pandemia’ de Covid-19″, verificou a agência de checagem.

Outra corrente de WhatsApp afirma que o governo da Paraíba aumentou a verba de publicidade neste período de pandemia e um texto indica que o governador tem promovido aglomerações sociais na Granja Santana, a residência oficial dos governadores. Essas informações também foram desmentidas.

Como na guerra da desinformação a verdade quase sempre é coadjuvante, é provável que o desmentido não tenha o mesmo alcance do boato. Carlos Bolsonaro usou seus próprios perfis nas redes sociais para garantir que a mentira prevaleça, espalhando a falácia contra o governo da Paraíba para milhões de pessoas.

A propagação

De acordo com denúncias, mensagens e capturas de telas as quais Pragmatismo Político teve acesso, um grande disseminador das fake news na Paraíba é o deputado estadual Wallber Virgolino, que é delegado de polícia. Curiosamente, enquanto utiliza o WhatsApp para encorajar o povo a ir às ruas, ele refugiou-se com a família em um condomínio de luxo na cidade de Bananeiras (PB) e permanece em quarentena restrita.

Apoiador incondicional do atual governo federal, Wallber é uma espécie de expoente do bolsonarismo na Paraíba. No dia 25 de março, um dia após o primeiro pronunciamento de Jair Bolsonaro sobre o coronavírus em rede nacional, o parlamentar foi uma das poucas figuras públicas a defender a fala do chefe do executivo federal.

Cabo Gilberto e Wallber Virgolino (dir), representantes do bolsonarismo na Paraíba (reprodução/instagram)

Integrante da bancada da bala, Wallber rebelou-se no ano passado após a Assembleia Legislativa da Paraíba reiterar a proibição a parlamentares de portarem arma de fogo no plenário. Na ocasião, um decreto de Jair Bolsonaro permitiu que deputados estaduais pudessem andar armados sem que seja necessário justificar a necessidade, mas a ALPB fez valer o regimento interno da casa e manteve a proibição.

Gabinete do ódio

O início das fake news contra os governadores coincide com a chegada de Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto. O filho do presidente mudou-se recentemente do Rio de Janeiro para Brasília e está instalado em uma sala ao lado da do pai. Interlocutores do governo garantem que Carlos assumiu interinamente a comunicação do Planalto.

O chamado “gabinete do ódio” é composto pelo núcleo ideológico do governo — um grupo que incentiva Jair Bolsonaro a adotar um estilo mais beligerante na crise do coronavírus. Além de Carlos Bolsonaro, as diretrizes do gabinete do ódio são pautadas por Olavo de Carvalho. O escritor afirmou, há pouco tempo, que não há nenhuma morte comprovada no mundo decorrente do coronavírus e insiste na tecla de que a pandemia não passa de uma conspiração comunista da China para provocar um colapso global.

Defensores da pauta de costumes e de uma estratégia de guerra, integrantes do gabinete do ódio trabalham no terceiro andar do Planalto, a poucos metros de Bolsonaro. Produzem “artilharia pesada” para mídias digitais, além de conteúdos para discursos do presidente. Além dos governadores, seus alvos preferenciais são o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a imprensa.

Desde o início do governo, o gabinete do ódio vive em confronto com a chamada ala militar. Em um exemplo recente e ilustrativo da divergência de condutas, o pronunciamento de Jair Bolsonaro de 24 de março, quando desdenhou do coronavírus em rede nacional, foi escrito pelo núcleo ideológico. O discurso de 31 de março, por sua vez, claramente mais moderado e conciliador, teve o dedo dos generais Luiz Eduardo Ramos, Braga Netto e o secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha.

Governadores reagem

Na Paraíba, o governo sancionou uma lei que estabelece multa para quem divulgar notícias falsas em meios eletrônicos sobre epidemias, endemias e pandemias. A lei estabelece um valor de R$ 1 mil até R$ 10 mil para os propagadores de fake news. Conforme o texto, a multa estabelecida será revertida para o apoio do tratamento de epidemias no estado.

Segundo o Estadão, além de João Azevêdo, outros governadores estão se empenhando em rastrear e desmentir as notícias falsas. No Pará, três inquéritos já foram abertos para apurar as fake news. Em São Paulo, João Doria (PSDB) fez uma nova queixa-crime à Polícia Civil contra um perfil intitulado “robô conservador” por crimes de injúria e infração de medida sanitária.

Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, também se pronunciou: “Nesta crise terrível, infelizmente, essa quadrilha, esse gabinete do ódio, que atua espalhando fake news, resolveu intensamente se voltar contra os governadores. Só servem para atrapalhar, com seus crimes e delírios”.

Ainda de acordo com o jornal, estão sendo poupados pelo gabinete do ódio apenas os governadores vistos como “menos combativos” — isto é, aqueles pouco inteirados do propósito de assegurar as ações restritivas contra o coronavírus.

Os robôs e as fake news

Um estudo científico realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP) mapeou que robôs foram responsáveis por 55% das postagens favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro feitas no dia 15 de março.

Naquele dia, em meio à pandemia do coronavírus, cidadãos de várias cidades do país foram às ruas manifestar apoio ao governo federal e também criticar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional. O estudo foi obtido em primeira mão pelo jornal “Valor Econômico” e identificou que mais da metade dos 1,2 milhão de posts que usaram a hashtag “#BolsonaroDay” partiram de robôs. No dia 15 de março, a expressão chegou a ficar entre as dez mais usadas no Twitter no mundo.

“Os robôs que usaram a hashtag #bolsonaroday postaram uma média de 700 tuítes no dia 15 de março. Os robôs mais ativos chegam a mais de 1.200 tuítes por dia. Os usuários comuns têm uma média de três a dez tuítes por dia. Os usuários humanos mais ativos chegam até 50 tuítes por dia”, diz o estudo. Segundo conclusões preliminares da CPMI das Fake News, os robôs são coordenados pelo gabinete do ódio.

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