Jornalista trava luta para se despedir da mãe, internada na UTI com coronavírus
“Nas estatísticas, minha mãe será mais um número, mas, para mim, ela é minha mãe, e queria apenas poder dizer a ela o quanto a amo”. Nas redes sociais, a jornalista publicou um apelo
A jornalista Silvana Andrade, fundadora da Agência de Notícias Anda, publicou um depoimento comovente nas redes sociais nesta quinta-feira (16).
A publicação de Silvana é um apelo para que os médicos permitam que ela se despeça da sua mãe, internada com coronavírus na UTI do Hospital Português de Pernambuco.
“Eu sei que todos os profissionais de saúde estão sobrecarregados nesta época, mas é preciso pensar num protocolo de despedida. Nas estatísticas, minha mãe será mais um número, mas, para mim, ela é minha mãe, e queria apenas poder dizer a ela o quanto a amo”, diz.
Na Itália, no auge das mortes por coronavírus e com o sistema de saúde em colapso, uma campanha para que pacientes terminais pudessem dizer adeus aos familiares comoveu o país.
Silvana foi entrevistada pelos jornalistas Fábio Pannuzio e Florestan Fernandes. Também participaram da conversa com ela o economista Eduardo Moreira e o historiador Jesse Souza (vídeo abaixo).
A seguir, a íntegra do apelo de Silvana Andrade:
Em nome do mais Sagrado, leiam meu apelo.
Minha mãe está internada na UTI do Hospital Português de Pernambuco, no Recife, há 14 dias, após contrair Covid -19 no próprio hospital. Ela está sedada e entubada. Os médicos não acreditam que ela possa sobreviver. Diante do quadro crítico dela, eu solicitei que fosse feita uma chamada de vídeo para que pudesse ver minha mãe e me despedir dela virtualmente.
Em todo o mundo estão dando esse direito humanitário aos familiares de pacientes com coronavírus.
Mas a princípio me negaram e depois de insistir disseram que poderia fazer uma chamada comum. Como assim? Como terei certeza de que ela estará ouvindo e por que não posso ver minha mãe? O celular é o mesmo para ligação com vídeo ou sem vídeo.
A chamada pode ser feita pelos assistentes sociais dos hospitais, não estou pedindo isso aos médicos ou enfermeiros.
Há um mês meu pai faleceu no mesmo Hospital Português. Um dia antes, os médicos ligaram para nos avisar. Toda a família teve tempo de se despedir dele.
A situação agora é a mesma e não entendo porque a dificuldade de fazer uma chamada de vídeo. De dizer o quanto amo minha mãe olhando para ela.
Deveria ser um protocolo simples e humanitário de todos os hospitais. Temos o direito à despedida. Quem sabe o paciente ao ouvir a voz dos seus familiares possa inclusive melhorar? Pais, filhos, maridos e esposas, avós têm o direito natural de se despedirem de seus entes amados. Negar isso é crueldade. Um dia no futuro isto será considerado uma vergonha, um ato violento, sem consciência.
Não precisamos tornar esta pandemia ainda mais cruel do que já é. Aliás, precisamos com ela nos tornar mais humanos. Esta é a grande lição que temos que aprender.
Eu e todos os familiares de paciente com Covid-19 precisam e querem se despedir. E isto não custa nada aos hospitais, apenas humanidade.
O post teve quase 4 mil reações e mil comentários. Ontem, por liberalidade de um médico, ela conseguiu se despedir da mãe, com uma chamada por vídeo. Foram cerca de dois minutos de fala.
Silvana teve esse conforto em dias muito difíceis, que continuarão difíceis. Mas quantas outras pessoas não conseguem exercer o direito de despedida?
Está na hora de pensar de fato em um protocolo para situações desse tipo, alguém que possa conectar a família ao doente, em seus últimos momentos de vida.
A jornalista publicou uma atualização após o apelo inicial:
VÍDEO: