Além de enterrados em valas comuns, corpos de vítimas de coronavírus agora serão empilhados em camadas triplas. Familiares protestam: "Não é digno; não há respeito algum. Me sinto humilhado pelo poder público". Sepultamentos também passam a ocorrer durante a noite
Em Manaus, familiares denunciaram que os caixões com corpos estão aguardando para serem empilhados nas valas comuns abertas no Cemitério Nossa Senhora da Aparecida.
Manaus teve, neste domingo (26), o maior registro de enterros feitos desde o início da pandemia do novo coronavírus. Em 24 horas, foram 140 sepultamentos e duas cremações registrados só na capital.
Desde a manhã desta segunda-feira (27), Janecy Lobato luta para enterrar dignamente o sogro, que faleceu por insuficiência pulmonar. “Disseram que vão enterrar um em cima do outro e que nós devemos aceitar. Isso não é digno. Somos cidadãos que pagaram impostos, temos direitos de enterrar nossos entes dignamente. Isso é desumano”, disse.
Leonardo Garcia, que aguarda no cemitério para enterrar o pai, que morreu por causas naturais, também se diz revoltado com a situação. “Querem enterrar vários corpos. Um em cima do outro. Não há respeito algum. Disseram que não tem espaço e a única saída é enterrar os corpos empilhados. Me sinto humilhado, desprezado pelo Poder público”, lamentou.
Com aumento no número de mortes e o risco de colapso no sistema funerário, Manaus também passa a ter enterros noturnos. Uma TV local flagrou o movimento no cemitério, que realizava enterros com a ajuda de refletores para iluminar sepulturas e máquinas.
Atualização: A Prefeitura de Manaus informou, na tarde desta terça-feira, 28, que pretende cancelar o sepultamento em “sistema de camadas”. A decisão se dá em razão dos protestos de dezenas de familiares de vítimas de Covid-19. O método, que pretendia colocar um caixão em cima do outro em valas mais profundas, provocou revolta.
No entanto, a prefeitura informa que vai manter o modelo de valas comuns, chamadas de trincheiras, “como já vinha ocorrendo, preservando a identidade dos corpos e o vínculo das famílias”.
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