Com estratégia agressiva, Nova Zelândia venceu o coronavírus fazendo tudo o que o governo brasileiro rejeita. País anunciou fim de novos casos e deixa 3 lições para o Brasil
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, afirmou nesta segunda-feira (27), que o país não registrou mais casos de contágios locais de coronavírus, uma etapa fundamental para começar a afrouxar o isolamento. “Vencemos esta batalha”, celebrou, após cinco semanas de restrições.
O país registrou até hoje 1.122 casos do novo coronavírus, com 19 mortes. Nas últimas 24 horas, apenas um novo caso foi detectado. Apenas nas últimas 24 horas o Brasil teve 5.300 novos casos, e o número de mortos já passa dos 5.000. A Nova Zelândia é um país rico de apenas 5 milhões de habitantes. Mas seu sucesso no combate ao coronavírus, e seu processo de retomada, oferecem lições ao Brasil.
A primeira é o comprometimento do governo federal (mais simples, é claro, num país muito menor que o Brasil). Jacinda Ardern e seus ministros reduziram os salários em 20% por seis meses. Desde 25 de março o país fechou suas fronteiras, proibiu aglomerações, fechou escolas e lojas.
Saiba mais: Com estratégia agressiva, Nova Zelândia desacelera mortes e casos de coronavírus
Os 1.600 moradores de rua foram transferidos para hotéis e motéis, e depois devem ir para abrigos do governo, onde podem ser rastreados, a um custo da 100 milhões de dólares. “Foram quase cinco semanas vivendo e trabalhando de formas que dois meses atrás teriam parecido impossíveis. Mas nós fizemos isso, e fizemos juntos”, disse a presidente nesta segunda-feira, segundo o Business Insider.
Jacinda Ardern é uma progressista de centro-esquerda, mas seu colega australiano, o cristão-conservador Scott Morrison, também vem conseguindo bons resultados. O que os fez serem exemplos em reportagem recente do jornal americano The New York Times. Os dois têm rotinas de discursos explicativos à população — no caso de Ardern, em lives no Facebook.
A segunda lição é que uma clareza sobre os números é essencial para uma abertura. A Nova Zelândia só anunciou medidas para aliviar a quarentena depois de ter 1.180 recuperados num total de 1.122 doentes. Nesta segunda-feira, Ashley Bloomfield, diretora de saúde do país, afirmou que houve apenas um novo caso no dia, além de quatro casos prováveis, todos eles rastreáveis. Há outros 347 cidadãos esperando o resultado de seus testes.
O número de casos de doentes no país está em que da desde 9 de abril, quando chegou a 929, e agora está em 309. Ou seja, desde o início do declínio foram 18 dias até o anúncio das primeiras medidas de alívio da quarentena. Qualquer novo caso no país, segundo as autoridades, agora pode ser prontamente rastreado. O modelo era Taiwan, que conseguiu controlar a propagação do vírus com testagem em massa.
A terceira lição foi reforçada por Ardern nesta segunda-feira — a economia vai ser retomada, mas os cuidados vão continuar. Algumas empresas, os estabelecimentos que entregam comida e as escolas foram autorizadas a reabrir as portas. Negócios considerados não-essenciais serão autorizados a reabrir sem contato pessoal com os clientes.
“Estamos reabrindo a economia, mas não a vida social das pessoas”, disse Ardern. O governo segue pedindo que as pessoas fiquem em casa quando não estiverem trabalhando ou na escola. Novas medidas de relaxamento, se tudo sair como previsto, devem ser anunciadas no dia 11 de maio. É quando o estado com mais casos do Brasil, São Paulo, deve estar começando a restringir a quarentena — boas lições para esse momento podem ser encontradas a 12 mil quilômetros de distância.
Leia também:
Trump sugere que governo Bolsonaro foi incompetente no combate ao coronavírus
Cientistas detectam coronavírus no ar em ruas e prédios próximos a hospitais
Exame
Acompanhe Pragmatismo Político no Instagram, Twitter e no Facebook