O Brasil de Bolsonaro e o fim do diálogo
Luís Felipe Machado de Genaro*, Pragmatismo Político
Para muitos a política é a guerra “por outros meios”, mas também o espaço “civilizado” da resolução de conflitos sobre e para a coletividade. Para outros, ela não passa da simples, mas necessária arte do diálogo.
São diversas as matizes filosóficas e sociológicas que nos levam a crer que a política é um instrumento virtuoso, onde o racional impera e a violência deve ser evitada a qualquer custo.
Se retornarmos para Aristóteles, ainda em Atenas, na academia de Platão, a política seria a continuação da ética, que nos conduziria à felicidade, quando seríamos capazes de construir instituições públicas e formas de governo que propiciariam maneiras melhores de se viver em coletivo.
Outras formas de pensar o poder, advindas em certa medida pelos greco-romanos, influenciariam a nossa forma de pensar a política. Maquiavel e Hobbes, por exemplo, durante a era moderna, enxergavam tensões e lutas (como Marx futuramente enxergaria) como parte integrante da ordem política, distantes de um “idealismo frouxo”. Nunca é demais lembrarmos da “guerra de todos contra todos” e do gigante Leviatã.
De lá pra cá vivemos a ascensão da burguesia e a sua Revolução Industrial – que hoje se encontra em estado avançado de proporções inimagináveis –; desigualdades sociais e políticas abissais entre as regiões de um mundo globalizado; tentativas de se agarrar e concretizar uma utopia pelas mãos dos explorados, o proletariado, com a ascensão dos bolcheviques na Rússia, de guerrilheiros em Cuba e de soldados anticoloniais na África. Duas guerras mundiais, o surgimento de armas nucleares, o aquecimento global e, por fim, mas não menos catastrófico, nova pandemia que hoje nos atordoa.
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O Brasil, desde 2018, segue um ritmo frenético contra a História – e, diga-se, contra professores de História e seus pesquisadores. Somos os maiores vilões do conto de fadas insano urdido pelo “não presidente” da República e sua camarilha ignóbil de ministros e secretários. Estamos em marcha à ré. Na vanguarda da estupidez mais atroz.
A reação contra todo o pensamento racional, a verdade factual e a ciência médica estão, a passos largos, sendo deixados de lado. Por isso não há diálogo neste novo Brasil. E não deve haver. A política, no Brasil de Bolsonaro, tornou-se polarizada a ponto de não mais regredir – talvez, chutando, daqui algumas décadas retornaremos ao transe em que nos encontrávamos.
Não deve haver diálogo com quem nega o aquecimento global e a iminente devastação de populações marginalizadas; não deve haver diálogo com quem exalta torturadores, assassinos e censores de ditaduras militares brutais que grassaram a América Latina; não há diálogo com quem não sabe debater baseado na concretude real e racional dos acontecimentos históricos e biológicos; com quem incita a violência contra populações vulneráveis e possuí um projeto de destruição em massa; não há mais diálogo com o bolsonarismo: ou o extirpamos da vida pública ou viveremos uma eterna guerra de todos contra todos.
Finalmente, não poderá existir diálogo com quem nega que vivemos hoje um dos mais tenebrosos e obscuros momentos de nossa História, onde a autocensura, o medo, doenças, desemprego e a agonia de um país distópico corrói a mente e o coração de todos nós.
Às vezes é preciso ser radical. É preciso dizer o óbvio.
*Luís Felipe Machado de Genaro é historiador, mestre em história pela UFPR e professor da rede municipal de Itararé