Bolsonarista promete invadir STF neste final de semana com "comboio de 300 caminhões"
Homem que ameaça invadir o STF com 300 caminhões trabalha pela criação do partido 'Aliança pelo Brasil' com mais devoção do que o próprio presidente. Nas redes ele se define como “cristão, patriota, monarquista de direita e filho honrado de pais honestos”
Erick Mota, Congresso em Foco
Um grupo de bolsonaristas que levantou acampamento nas redondezas da Praça dos Três Poderes está convocando a população para invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Um desses manifestantes é Marcelo Stachin, que tem participado de campanhas pela criação da Aliança Pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro vem tentando fundar desde que deixou o PSL. Stachin chegou a ter um carro todo plotado com a identidade do partido, foto de Bolsonaro e do vice-presidente General Hamilton Mourão.
Morador de Sinop (MT), Stachin é fã de Olavo de Carvalho e se define no Instagram como “Cristão-Patriota-Ativista Político de Direita-Monarquista-Conservador-Filho Honrado de Pais Honestos-Empreendedor-Ucraniano”.
Paulo Felipe é outro defensor de Jair Bolsonaro que aparece na convocação para o próximo domingo (10). Em suas redes sociais, é possível ver a presença dele em diversas manifestações pró-Bolsonaro.
Paulo se apresenta como criador do grupo Soldados do Brasil, Voluntários da Pátria, e afirma que a invasão dos Poderes conta com o apoio de militares da reserva. Eles prometem “dar cabo” dos poderes.
“Nós temos um comboio organizado para chegar a Brasília até o final dessa semana, no dia 8 de maio de 2020. Pelo menos com 300 caminhões, muitos militares da reserva, muitos civis, homens e mulheres, talvez até crianças, para virem para cá para Brasília, para nós darmos cabo dessa patifaria que está estabelecida no nosso país há 35 anos, por aquela casa maldita ali, Supremo Tribunal Federal, com 11 gângster (sic), que têm destruído a nossa nação. São aliados com o Foro de São Paulo e o narcotráfico internacional”, diz Paulo em um vídeo publicado na terça (5) e nessa quinta (7) no Facebook.
(continua após o vídeo)
“Se você realmente não puder vir, quando chegar o dia D, onde nós vamos invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, saia para as ruas, chame seus vizinhos, pegue uma bandeira do Brasil, se manifeste”, diz.
“Que a imprensa internacional fique sabendo que já estamos em ação nos arredores do Congresso Nacional, a missão é o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, para que o nosso presidente Jair Messias Bolsonaro possa governar”, afirmou Paulo Felipe.
Questionado sobre se pretendia tomar alguma atitude quanto a atuação do grupo, o Ministério da Defesa afirmou que “a segurança pública e a proteção do patrimônio público constituem atribuições dos órgãos de segurança pública estadual e federal. A apuração de crimes e a prevenção para que crimes não venham ocorrer também constituem atribuições dos órgãos de segurança pública”.
“Quanto a eventual e suposta participação de militares da reserva, o MD entende que estes militares são responsáveis pelos seus atos e respondem nos termos da legislação vigente”, disse a pasta em nota.
“As Forças Armadas sempre cumprirão duas missões constitucionais de defesa da pátria, da garantia dos poderes constituídos e, quando determinado pelo presidente da República, de garantia da lei e da ordem”, afirmou.
“As Forças Armadas, enquanto instituições de Estado, não apoiam nenhum movimento social ou político, de qualquer natureza”, finalizou a nota da Instituição.
Outras ameaças
Essa não é a primeira vez que Paulo declara o objetivo de fechar o Congresso. Há dois meses ele publicou outro vídeo no Facebook, afirmando que isso aconteceria no dia 15 de março, data em que aconteceram manifestações de apoio a Bolsoanro. “Vamos fechar o Congresso no dia 15 de março de 2020, não existe outra pauta, não queremos mais argumento, não queremos mais desculpas”, afirmou.
“Vamos chamar o nosso presidente, vamos chamar os nossos generais, vamos invadir o Congresso e o Supremo, não sairemos de lá enquanto aquelas duas Casa malditas não forem fechadas”, disse. Bolsonaro participou dessa manifestação, mas não há registro de tentativas de invasão dos Poderes.
Frequentemente o presidente Jair Bolsonaro demonstra apoio a atos em que esse tipo de manifestação golpista é comum.
“Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos que a ação seja feita no Brasil. O que havia de novo ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, são os patriotas. Acabou a época agora. O povo não tem poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo seu país. Contem com o seu presidente”, disse Bolsonaro diante dos manifestantes que pediam por um novo AI-5, ato mais radical de toda ditadura militar.
Em diversos vídeos e fotos, tanto Marcelo quanto Paulo, aparecem com fardamento militar. Segundo o artigo 172 do Código Penal Militar usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia militar a que não tenha direito é crime, com pena de detenção de até seis meses.
Há, também, uma contravenção (o que significa um delito de baixo potencial ofensivo) nas ações dos dois, prevista no artigo 46 do Decreto-Lei 3.688, de 03 de outubro de 1941, com a seguinte redação: “Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública que não exerce; usar, indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprego seja regulado por lei”.
Deputados bancam
O grupo “300 do Brasil” defende o “extermínio da esquerda” e faz treinamentos paramilitares. O grupo foi um dos responsáveis pela manifestação de domingo (3), que registrou agressões a profissionais de imprensa.
As deputadas federais Carol de Toni (PSL-SC) e Bia Kicis (PSL-DF), duas ativas defensoras de Bolsonaro na Câmara, foram ao acampamento e discursaram para os presentes. Um assessor de Bia Kicis tem ajudado na organização do movimento.
O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, também endossou publicamente o acampamento com uma publicação em seu Twitter.