Redação Pragmatismo
Esporte 06/Mai/2020 às 19:44 COMENTÁRIOS
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Casagrande discute com Caio Ribeiro ao vivo após comentário sobre Raí

Publicado em 06 Mai, 2020 às 19h44

Nem mesmo as intervenções de Galvão Bueno e Cleber Machado impediram Casagrande de desnudar, ao vivo, a alienação de Caio Ribeiro

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Casagrande e Caio Ribeiro

Blog do Cosme Rimoli

A discussão entre Casagrande e Caio Ribeiro é mais profunda do que parece.

Tanto que, nem as inúmeras intervenções diplomáticas de Galvão Bueno e Cleber Machado conseguiram amenizar o clima entre os dois.

20 minutos no programa Bem, Amigos, no Sportv, não trouxeram a harmonia.

Pelo contrário até.

A noite de ontem acabou tensa, como nunca, entre os comentaristas da Globo.

A discussão só mostrou o quanto os dois são antagônicos.

Seguem por linhas absolutamente incompatíveis.

E escolhidas por cada um.

Walter Casagrande tem 57 anos.

Nascido em uma família classe média baixa.

Foi um dos fundadores do Movimento Democracia Corinthiana (com h, mesmo). Amigo íntimo de Sócrates, um dos maiores ídolos do Corinthians e um dos jogadores mais inteligentes e, politicamente corajosos, surgidos no Brasil.

Como jogador, com talento para atuar na seleção brasileira, e disputar a Copa de 1986.

Teve excelentes momentos no Corinthians, Ascoli e Torino.

Mesmo consumindo drogas quando era atleta profissional.

Sua opção sempre foi não se omitir.

Fosse qual fosse o tema.

Dava entrevistas sinceras, ótimas, com profundidade.

Ao encerrar a carreira, a opção por se tornar comentarista foi natural.

E em 1996, começou na ESPN Brasil.

No ano seguinte, ele foi chamado para trabalhar na Globo.

No livro “Casagrande e Sócrates – uma História de Amor”, ele relembrou a situação que afastou os dois, que ficaram anos sem se falar. Só se aproximaram quando Sócrates estava hospitalizado, perto de sua morte, em 2011.

“Certa vez, ele (Casagrande) estava no prédio da TV Globo quando recebeu uma ligação de Sócrates no celular.”

“‘Oi, Big, tudo bem? Fiquei sabendo que a Globo está querendo mais um comentarista em São Paulo.”

“Só tem você aí…”

“Dá uma sondada, vê se interessa eu ser comentarista também.'”

Foi o que Casagrande fez.

Mas ainda não tinha a resposta definitiva quando encontrou o amigo.

“Naquela mesma semana, três ou quatro dias depois, eu fui ao restaurante Lellis para entrevistar um convidado para a coluna que eu tinha no Estadão. E encontrei o Sócrates, numa mesa com o (José) Trajano, o Juca Kfouri e outros jornalistas.”

“Eu me aproximei para cumprimenta-los e aí, na frente de uma porrada de gente, ele falou:”

“‘Taí o cara que se vendeu para a TV Globo’. Eu fiquei muito puto.'”

A revolta de Casagrande se justifica. Além de Sócrates ter pedido emprego a ele, o atacante sempre se respeitou, indo até além dos severos limites impostos pela Globo a seus comentaristas.

Caio Ribeiro tem 44 anos.

Nascido em uma família classe alta.

Jogador mediano, esforçado, obediente.

Jamais brilhou dentro do campo.

Surgiu no São Paulo, fracassou na Inter de Milão e no Napoli.

Passou pelo Santos, Fluminense, Flamengo, Botafogo.

Ficou longe de disputar uma Copa do Mundo.

Sua opção foi ser politicamente correto nas entrevistas. Superficiais, fugindo sempre das polêmicas. Por escolha, porque intelectualmente sempre foi bem dotado e teve ótima formação educacional.

Seus amigos no Pinheiros, clube sofisticado de São Paulo, revelam que suas opiniões são muito mais radicais do que as mostradas na tevê.

A fluência e a simpatia o levaram para a Rádio Globo, em 2007. Logo foi chamado para o Sportv.

Em 2008, com o afastamento de Casagrande por conta do uso de drogas, Caio ocupou seu lugar nas transmissões da Globo.

O ex-jogador do Corinthians se recuperou e voltou a trabalhar em 2009.

Desde então ficou claro a diferença de postura.

Não é por acaso que Caio já ‘ganhou’ enquetes como o comentarista querido dos jogadores. Porque ele ameniza, busca explicações, as mais diversas possíveis, faz tudo para não criticar atletas, treinadores.

Acaba ‘amigo’ de todos, como mostra em algumas reportagens que, de vez em quando, faz.

O que é um desperdício, porque ele tem ótima visão tática dos jogos. Fica nítido que ele se segura para não se expor.

Os elogios são fáceis demais.

Ao contrário de Casagrande.

Ele usa todo seu conhecimento para questionar, criticar, cobrar de forma veemente, jogadores e treinadores. Já precisou se desculpar, por exemplo, com Gabriel Jesus, que fez uma péssima Copa do Mundo em 2018.

Também teve coragem de criticar Neymar, Tite e tantos outros.

Elogios são raros, o que os torna mais valorizados.

A discussão entre os dois no Bem, Amigos foi por conta de Raí, executivo de futebol do São Paulo. E irmão justo de Sócrates.

Raí questionou a volta do futebol e também o presidente Bolsonaro.

Caio disse que Raí, como executivo do São Paulo, deve se restringir a falar de futebol.

Casagrande ficou revoltado.

E falou na frente de Caio, ontem.

Que qualquer pessoa tem o direito de falar sobre o assunto que quiser.

Foi apoiado, de forma discreta, por todos os companheiros do Bem, Amigos.

Caio percebeu que havia ido longe demais.

Logo a ligação familiar que possui com o São Paulo veio à tona. Seu pai, o médico Dorival Decoussau, é conselheiro da oposição do clube. Crítico do presidente Leco e, também do executivo de futebol, Raí.

As redes sociais estão massacrando Caio Ribeiro. Como se os internautas tivessem descoberto apenas agora, 11 anos depois, que ele é um comentarista que foge de polêmicas, se força, diante dos microfones, a ver o lado bom das situações, até mesmo quando não existe.

E que se indignou, com o posicionamento político do executivo de futebol do São Paulo, como se Raí não tivesse direito a se posicionar como cidadão.

Em 2018, ele deu uma entrevista ao jornal L’Equipe.

Raí confessou que votou no PT e lutou por votos para Fernando Haddad, rival de Bolsonaro.

“Quando eu sentia uma abertura, eu tentava convencer as pessoas. Eu acho que mudei alguns votos, mas não tanto quanto o que eu queria. A grande maioria dos partidos de esquerda não apoiou Fernando Haddad.”

“Mas como convencer os eleitores se até o PT não conseguiu convencer seus aliados?”

“Assim, fica ainda mais difícil”, disse em outubro de 2018.

Raí sempre se posicionou politicamente, desde os tempos de jogador.

Também ao contrário de Caio.

Após a discussão de ontem, Galvão Bueno amenizou a situação entre os comentaristas. Disse para não tocarem mais no tema e deixassem tudo para trás. E seguissem trabalhando. Cada um da sua maneira.

Ambos concordaram.

Mas os 20 minutos de ontem, amplamente divulgados na Internet, deixaram claro.

Separaram a postura de cada um.

A sinceridade, no limite, de Casagrande.

O compromisso com a sua verdade.

Com o que enxerga.

Doa a quem doer.

Do outro lado, a postura politicamente correta, estudada, superficial de Caio.

Que diz ver apenas o que deseja.

O que não trará problemas.

Nem inimizades.

Por isso, se deu tão bem com o apresentador de Big Brother, É de Casa, Zero 1, Tiago Leifert, que sempre considerou futebol mero entretenimento, diversão.

Casagrande e Caio.

Cada um escolheu seu legado.

Há muitos anos…

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