Domésticas denunciam assédio e até estupro durante a pandemia
Domésticas denunciam assédio e estupro durante procura de emprego em meio à pandemia. Em um dos casos, o assediador pediu para que a trabalhadora ficasse de roupas íntimas e ofereceu pagar mais se ela topasse "tudo"
“Uma amiga foi estuprada. Uma pessoa trocou mensagem de texto com ela e a foto era de uma mulher. Quando ela chegou no local, o apartamento estava vazio, e o homem que se passou por outra pessoa cometeu o crime. Então morro de medo”.
O depoimento acima é de Nielly Vasconcelos, de 23 anos. A jovem é mãe de uma menina de 1 ano, trabalha como diarista e viu diminuir as oportunidades de emprego durante a pandemia do novo coronavírus. As informações são do Universa.
Além de todas as dificuldades para encontrar trabalho, Nielly relata que ainda teve de enfrentar assédio. Ela nunca anunciava o número do seu celular, mas passou a publicar o telefone numa tentativa de ter mais alcance em suas publicações do Facebook.
“Num primeiro contato, um cara ligou logo cedo, de um número privado, perguntando se eu poderia limpar um apartamento vazio. Fiquei com medo e perguntei se haveria alguém no local”, conta Nielly. “Quando ele respondeu que estaria lá, declinei. À tarde ele ligou de novo e perguntou se eu não toparia fazer a faxina por R$ 1.200, mas depois teria que masturbá-lo. Desliguei e ele passou a insistir, mandava ainda fotos íntimas. Tive que mudar o número.”
Uma outra doméstica, que prefere não se identificar, diz que um homem sugeriu que ela ficasse de roupas íntimas e ofereceu pagar mais se ela topasse “tudo”. “Eu estava tão feliz que tinha conseguido uma faxina. Ele falou que me pagaria R$ 150 toda terça e sexta, aí depois veio com essas conversas”, relata.
Indignada, a moradora de São Paulo expôs toda a conversa nas redes. Ela diz que está pensando em entregá-las à polícia.
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Estupro virtual
Mensagens como essas que o homem identificado como Alex enviou já caracterizam a tentativa do crime de importunação sexual. E se o homem agir com grave ameaça, como falar que vai matar a filha caso a vítima não aceite suas propostas, pode ser considerado crime de estupro virtual.
É o que explica Débora Rodrigues, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
“O importante é que a vítima tenha dados do autor. E quando ele oferecer o emprego, ela deve já perguntar o nome e o endereço em que vai se apresentar, porque ele pode usar um chip pré-pago e usar a identidade de outra pessoa, e com isso teremos dificuldade em identificar o autor”, orienta ela.
“Mas, mesmo que não tenha nenhum dado, o importante é denunciar, e vamos cruzando informações até identificá-lo”, alerta a delegada.
Para a coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Flavia Nascimento, trata-se de uma situação em que o homem está se prevalecendo de uma relação hierárquica, de poder de gênero. Ela lembra que, além da importunação sexual, ele pode ser enquadrado — caso receba fotos da vítima — no crime de divulgação não consentida de imagem íntima, ambos com pena de 1 a 5 anos, se o fato não constitui crime mais grave.