Filho do presidente da República defende abertamente uma ruptura institucional após as ações da PF contra blogueiros aliados do bolsonarismo que disseminam fake news
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que é inevitável que o país tenha uma “ruptura” institucional.
“O problema não é mais se, mas quando [haverá uma ruptura]”, disse o filho do presidente Jair Bolsonaro em transmissão em vídeo pela internet na noite dessa quarta-feira (27), na qual atacou ao inquérito do Supremo Tribunal Federal que investiga a existência de um esquema de disseminação de ataques a autoridades e instituições e notícias falsas ligado à família.
“Quando chegar a um ponto que o presidente não tiver mais saída e for necessário uma medida enérgica, ele que será taxado como ditador”, completou o deputado.
As declarações foram recebidas como uma ameaça de golpe por parlamentares da oposição, que foram às redes sociais para protestar contra Eduardo Bolsonaro.
Também na quarta-feira o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião com os ministros para discutir uma reação a ação do STF. O presidente também fez uma postagem no seu Twitter criticando a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a ação da PF.
Ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que Eduardo defende o “golpe do papai”. “Aviso ao filhote de ditador: o Brasil não é nem será a Venezuela apesar de vocês”, escreveu no Twitter a líder do PSL na Câmara, que rompeu com Bolsonaro e hoje faz forte oposição ao presidente.
A líder do Psol na Câmara também reagiu. “A declaração de Eduardo Bolsonaro expõe novamente a sanha golpista da familícia”, publicou a deputada Fernanda Melchionna (RS), utilizando a hashtag #DitaduraNuncaMais. Outros parlamentares também criticaram a declaração de Eduardo.
Eduardo deu as declarações em entrevista ao canal Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos, um dos alvos das ações da Polícia Federal ontem no inquérito das fake news. O deputado atacou o Supremo Tribunal Federal por ter avançado com as investigações, autorizado a divulgação da gravação da reunião ministerial de 22 de abril e ter pedido à Procuradoria-Geral da República manifestação sobre solicitações de depoimentos e apreensão do celular de seu pai.
“Essa postura, eu até entendo quem tem uma postura mais moderada, vamos dizer, para não tentar chegar ao momento de ruptura, um momento de cisão ainda maior, um conflito ainda maior. Eu entendo essas pessoas que querem evitar esse momento de caos. Mas falando bem abertamente, opinião do Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opinião de ‘se’, mas de ‘quando’ isso vai ocorrer”, afirmou.
Ele cogitou da possibilidade de uma “medida enérgica” por parte de Bolsonaro. “Quem que é o ditador nessa história? Não se enganem: quando chegar ao ponto em que o presidente não tiver mais saída e for necessária uma medida enérgica, ele é que será taxado como ditador”, afirmou o filho do presidente.
Segundo ele, os apoiadores do presidente vão protestar em frente ao Supremo. “Os ministros Alexandre de Moraes e o Celso de Mello conseguiram a proeza de fazer com que a manifestação, que até então ocorreu em seis fins de semana consecutivos em Brasília, e o pessoal vai lá na frente do Palácio do Planalto saudar o presidente da República, agora o pessoal vai se voltar para o outro lado da praça [dos Três Poderes] para voltar as suas críticas ao STF”, disse.
Ao autorizar buscas e apreensões no inquérito das fake news, o ministro Alexandre de Moraes diz que há indícios da existência do chamado “gabinete do ódio”, grupo formado no entorno do presidente com o objetivo de disseminar ataques e notícias falsas contra autoridades e instituições.
“As provas colhidas e os laudos técnicos apresentados no inquérito apontaram para a existência de uma associação criminosa dedicada à disseminação de notícias falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”, escreveu o ministro.
Além de blogueiros e empresários ligados a Bolsonaro, também estão na mira das investigações seis deputados bolsonaristas. Uma das investigadas, Bia Kicis (PSL-DF) participou do programa do Terça Livre ao lado de Eduardo.
A deputada chamou o ministro Celso de Mello de “juiz de merda” por ter autorizado a divulgação do vídeo da reunião ministerial na íntegra e ter pedido, como de praxe, opinião da PGR sobre a solicitação de diligência feita em notícia-crime.
Congresso em Foco
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