"Cidadão de bem" que não quis usar máscara em supermercado e provocou morte de funcionária é empresário fabricante de agrotóxicos. Vídeos mostram momento exato da tragédia
Alceu Castilho, De olho nos ruralistas
As cenas tomaram as redes sociais nesta terça-feira (28): o empresário Danir Garbossa, de 58 anos, morador de Contenda (PR), entrou num supermercado de Araucária, município vizinho na região metropolitana de Curitiba, e se recusou a utilizar a máscara — proteção ao contágio por coronavírus — oferecida pelo fiscal. Em seguida, socou-o. Minutos depois, enfrentou um segurança e tentou tirar sua arma. Resultado: uma mulher de 44 anos, Sandra Ribeiro, fiscal de loja da rede Condor, foi morta.
Garbossa é dono de uma empresa de agrotóxicos, a Gota Ltda, ou Gota Agr’óleo, junto com o filho homônimo. Garbossa é o sócio-administrador. A empresa com capital social de R$ 2,5 milhões foi fundada em 17 de abril de 1998 no bairro Lagoa das Almas, em Contenda, com a “fabricação de defensivos agrícolas” como atividade principal. Entre as outras atividades estão a fabricação de adubos, fertilizantes e — ironicamente — desinfetantes.
O carro-chefe da empresa é um produto chamado Agróleo, definido em peças publicitárias como “a evolução da pulverização agrícola”. Trata-se, segundo o site da Gota, de um espalhante adesivo composto por 97% de óleo natural, extraído da soja. É aplicado em conjunto com os demais pesticidas, para aumentar a eficácia da pulverização aérea.
A empresa dos Garbossa já foi multada, em 2010, pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Mais precisamente, pela Divisão de Fiscalização de Agrotóxicos da Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins.
Sandra Ribeiro
Moradora de Araucária, Sandra Ribeiro nasceu em Pitanga (PR) e começou a trabalhar em dezembro na rede Condor. A loja fica na marginal da Rodovia do Xisto, nome naquele trecho para a BR-476, que vai do Vale do Ribeira, em São Paulo, até a divisa com Santa Catarina.
Sandra deixou dois filhos, um deles adolescente. Cerca de trinta funcionários reuniram-se na quinta-feira, em frente do supermercado, de mãos dadas, para homenageá-la, em oração. Ao lado, guardas metropolitanos baixavam a cabeça, quase a completar o semi-círculo.
A prefeitura de Araucária tornou obrigatório o uso de equipamentos de proteção individual nos estabelecimentos comerciais do município. A rede Condor informou, em nota, que o disparo atingiu de raspão o cliente agressor e a fiscal de loja, “que estava tentando apaziguar a situação e prestar os esclarecimentos sobre os decretos”.
A rede de supermercados Condor pertence à família Zonta. Um de seus membros mais conhecidos é o piloto Ricardo Zonta. A empresa ficou conhecida nacionalmente em novembro, quando suspendeu os anúncios na Globo, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro — o presidente que, quando tentou usar máscaras, não exatamente conseguiu.
O segurança
Em seu depoimento, o segurança Wilhan Pinheiros Soares, de 27 anos, disse que o empresário Danir Garbossa estava bem alterado por não poder entrar no mercado sem máscara de proteção. Segundo o vigilante, quando pediu que o homem se acalmasse, o cliente disse que ia embora, mas deu a volta e tentou tirar a arma dele. Foi aí que a briga entre os dois começou.
Wilhan também falou que o segundo tiro foi acidental e só aconteceu porque Danir segurou o braço dele e continuou tentando tirar a arma de sua mão. Foi esse o disparo que atingiu a colega de trabalho do segurança, Sandra Ribeiro.
Segundo o vigilante, ele e Sandra eram amigos. Wilhan disse que está completamente abalado pelo que aconteceu. Ela foi sepultada nesta quarta-feira.
Em seu depoimento, o empresário Danir Garbossa preferiu ficar em silêncio, conforme orientação de seu advogado. Vídeos mostraram o momento exato da tragédia. As imagens também mostram o empresário tentando fugir do local:
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