Como "punição por sair mais cedo do trabalho", funcionária foi obrigada a caminhar com pulsos e braços amarrados na frente dos colegas de produção e foi chamada de 'negra fujona'. Justiça condena empresa Autoliv e mulher desabafa
“Passei por vários casos de preconceitos, discriminação e assédios. Mas o que mais doeu, o que foi pior foi ser amarrada na linha de produção para que meus colegas de trabalho pudessem ver que eu estava sendo punida por algo que não havia cometido”.
O desabafo acima é de uma funcionária da Autoliv, empresa do setor automobilístico de Taubaté (SP). A mulher, que não teve seu nome revelado, foi obrigada a caminhar com pulsos e braços amarrados diante dos colegas na linha de produção. Enquanto caminhava pela empresa, os líderes a chamavam de ‘negra fujona’.
Na última terça-feira (12), a Justiça do Trabalho condenou a Autoliv a indenizar a mulher em R$ 180 mil. A decisão é de segunda instância, mas cabe recurso ao Tribunal Superior do Trabalho.
A mulher, que trabalhava na Autoliv há 15 anos, cumpriu seu expediente normalmente e deixou o posto de trabalho no horário correto, mas saiu do local sem comunicar seus superiores.
No dia seguinte, ao chegar, foi abordada pelos líderes do setor que amarraram seus pulsos e braços com fita e fizeram com que ela caminhasse pela fábrica. Os homens ainda alertaram aos demais funcionários que “era isso que acontecia com negro fujão”.
“O horário que eu havia saído era o horário que tinha para sair mesmo e tantas outras pessoas estavam saindo, mas aquela atitude só foi feita comigo. Ser amarrada por dois líderes e sair pela linha afora me mostrando que assim que se fazia com fujão”, disse.
“Eles discriminam, criticam, humilham as pessoas e não veem o que pode causar na pessoa. A dor, o desconforto que pode causar naquela pessoa. Que sirva de lição não só para essa fábrica, mas qualquer outra que possa agir dessa maneira. Isso não se faz, todos nós, independente da cor, somos seres humanos”, desabafou.
No processo, a funcionária apresentou à Justiça do Trabalho outros trabalhadores da empresa que presenciaram a cena e comprovaram o episódio.
“Ficaram comprovados dois episódios gravíssimos, no meu entendimento, inadmissíveis, que esta Relatora nunca tinha vislumbrado em qualquer processo e que expuseram a Reclamante diante de seus colegas de trabalho, como relatado acima. É certo que as agressões merecem ser repudiadas e civilmente indenizadas”, disse a relatora do caso, Luciane Storel.
Em nota, a defesa da funcionária destacou a importância da decisão para reforçar que há punição para o racismo no ambiente de trabalho.
“O racismo existe e é forte no mercado de trabalho. Um caso como esse, escracha essas situações. O chefe, que deveria apoiar a funcionária, era o autor do episódio. Essa decisão mostra o quão importante é a Justiça do Trabalho e seu papel pela integridade do trabalhador” comentou a advogada Shayda Daher de Souza.
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