O relato é de uma médica que trabalha na linha de frente contra a pandemia de Covid-19. Quantidade de mortes por "causas indeterminadas" durante o surto aponta que o número de vítimas de coronavírus pode ser sete vezes maior que o divulgado oficialmente
A quantidade de mortes por síndromes respiratórias e causas indeterminadas registradas durante a pandemia do novo coronavírus no Amazonas aponta que o número de pessoas que morreu por Covid-19 pode ser sete vezes maior do que o divulgado oficialmente.
Entre os dias 21 e 28 de abril, o governo divulgou que ocorreram 118 óbitos em decorrência do novo coronavírus em Manaus, sendo que, neste mesmo período, 262 pessoas foram enterradas por causa indeterminada nos cemitérios públicos da capital.
Segundo a Prefeitura, dos 988 sepultamentos nos últimos sete dias, apenas 77 foram de casos confirmados de Covid-19. Além disso, 395 foram registrados por suspeita de Covid-19 ou síndromes respiratórias (como insuficiência respiratória e pneumonia), que podem ter sido provocadas pelo novo coronavírus.
Se todos as mortes — por causas indeterminadas e síndromes — se confirmassem por Covid-19, o número de óbitos em Manaus poderia ultrapassar a casa dos 700 na semana analisada, uma vez que os números de sepultamentos em cemitérios particulares não entraram na análise. Pelo menos 266 mortes que ocorreram dentro de casa no mesmo período, de acordo com a Prefeitura, também entram na contagem.
No último dia 19 de abril, o número de mortes pelo novo coronavírus no Amazonas já havia superado as mortes por SRAG (síndrome respiratória aguda grave), em 2019: foram 182 mortes por Covid-19 até aquele dia, enquanto no ano inteiro de 2019 o número de óbitos por SRAG chegou a 89.
Patrícia Sicchar, vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas e funcionária do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Manaus confirma as informações.
“Cada vez mais as pessoas morrendo em casa nessa pandemia. E essas pessoas não estão sendo testadas. Os parentes procuram o médico para emitir o atestado de óbito. O médico não sabe as circunstâncias da morte e acaba colocando como causa indeterminada”, afirma.
Moradores de Manaus continuam divulgando vídeos nas redes sociais em que mostram aglomeração nos cemitérios e dezenas de enterros sendo realizados de maneira simultânea.
“A gente saiu de uma média de por volta de 30 enterros por dia para um pico de 120. Achávamos que chegaríamos a 90 sepultamentos diários em maio, agora já há quem fale em até 200 por dia. A situação está muito crítica em Manaus. Queremos evitar que isso aqui se torne um novo Equador”, disse um agente funerário, com 30 anos de experiência no ramo.
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