Um breve comentário entre Marx e Weber sobre o sistema capitalista
Marx e Weber são indispensáveis para compreender o mundo em que vivemos, este mundo que continua capitalista no século XXI, ainda que sob formas diferentes daquelas do século XIX.
“A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes.” —Karl Marx
“A história ensina-nos que o homem não teria alcançado o possível se, muitas vezes, não tivesse tentado o impossível.” —Max weber
Reginaldo Donizete Borges* e Wesley Martins Santos*ecnoo, Pragmatismo Político
O capitalismo é um sistema político, econômico e social que se baseia na propriedade privada, lucro e sua relação producente. Surgiu entre os séculos XVIII e XIX, provocando mudanças significativas no que se refere ao cotidiano e relação com o trabalho.
É necessário destacar também o advento da Revolução Industrial, fato esse, que reorganizou a demanda de tempo e perdura até a sociedade contemporânea.
Sob um olhar reflexivo e metodológico, nos remetemos a uns dos principais teóricos e ensaístas desse objeto de discussão. Karl Marx e Max Weber.
A proposição desse trabalho é mostrar o que difere a suma de suas obras dentro de um mecanismo dialético. Mas é preciso ressaltar que é apenas a tentativa de um ensaio com viés didático e meramente instrutivo, ou seja, não será um texto estritamente acadêmico em fazer uma analogia mais densa
Karl Marx, de ascendência judaica, nasceu em 05 de maio de 1818 na cidade Treviris, na Alemanha, no meio de uma família acomodada. Ingressou primeiro na Universidade de Bonn e mais tarde, transferiu para a de Berlim com o intuito de estudar Direito. Abandonaria o curso para se dedicar ao estudo da Filosofia na mesma instituição. Ali, sofreria a influência dos Jovens Hegelianos que criticavam especialmente a religião e o Estado. Marx se torna um economista, historiador e filósofo e cria uma nova perspectiva em seus estudos sobre a dialética e o que ele mesmo sugere, o materialismo histórico.
Marx e Engels, seu fiel amigo, escudeiro e ensaísta inglês, publicam o primeiro capítulo do Manifesto Comunista com a notória passagem: “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes” (MARX, 2007, p. 40). A luta de classes são a força de transformação das sociedades, se mostram apenas como resultado de uma crítica dialética que está contida na da própria sociedade.
Assim, para compreender a sociedade capitalista, Marx parte da forma de relações econômicas que aparece de modo mais imediato: a circulação de mercadorias, ou seja, para Marx e não o marxismo, o materialismo histórico é determinante para se entender e explicar a história e as ciências sociais.
Essa proposição de Marx do estudo da luta de classes revela que são os fatores econômicos que moldam a sociedade, a divisão do trabalho e sua estrutura de organização econômica: a burguesia que é detentora dos meios de produção e o proletariado, massa operária responsável pela mão de obra.
Max Weber, nascido em 21 de abril de 1864 e falecido em 14 de junho de 1920, foi um dos precursores da sociologia econômica. Seus estudos recaíram sobre questões teórico-metodológicas acerca da origem da civilização ocidental e seu lugar na história universal. Max Weber vivenciou a Primeira Guerra Mundial e, em 1919, foi conselheiro da delegação alemã nas conferências que antecederam o Tratado de Versalhes.
Weber relaciona o surgimento do capitalismo moderno com estruturas de pensamento religioso, sobretudo do protestantismo ascético. Para Weber, foi preciso uma ética para transformação do trabalho racional. Em sua maior obra, A Ética Protestante e o Espírito Capitalista, esse “espírito capitalista” se torna um fenômeno de massa e não apenas uma motivação de indivíduos capitalistas isolados (WEBER, 2004a, p. 50). Vale ressaltar que Weber não pretende atribuir ao protestantismo ascético a causa suficiente do surgimento do capitalismo moderno.
Weber vê o surgimento do capitalismo a partir de fatores e valores, reconhecendo que a própria ideia de protestante foi influenciada por condições sociais e culturais, sobretudo as econômicas, na linha do materialismo histórico. A relação, para Weber, entre a orientação racional da ação econômica tipicamente capitalista e o modo de produção capitalista se dá nas afinidades, ou seja, como um processo recíproco entre diversos fatores.
O capitalismo era “o poder mais fatídico de nossa vida moderna”. Em linhas gerais, segundo ele, um dos fatores que permite a existência do capitalismo é a capacidade do homem de acumular o racionalismo. Esse vínculo com a racionalização está ligado a vários fatores, como a racionalização contábil, científica, jurídica e do homem.
Outra ramificação do pensamento de Weber deriva do processo de acumulação de capital. Em resumo, quanto mais dinheiro se consegue, menos a pessoa quer gastar, podemos trazer como exemplo o Tio Patinhas, personagem fictício da Disney, rico banqueiro que se recusa a gastar seu dinheiro com seus sobrinhos.
Assim sendo, o capitalismo é um sistema econômico hegemônico. Mas apesar desse pensamento parecer muito concreto e sólido, ainda encontra embates na sociedade como uma postura apenas de tolerância.
Weber acredita que o materialismo histórico é extremamente importante. Mas diferente de Marx, sugere que sua aplicabilidade é condicionante e não determinante como no viés de Marx. Assim, Weber critica o marxismo dizendo que ele está muito preso na economia, ou seja, a economia determina as condições sociais, políticas e culturais. Para Weber a economia não é tão determinista, a economia também pode sofrer algum tipo de influência, não é apenas a economia que determina.
Weber quer pensar o capitalismo de acordo com suas influências na questão social e cultural, como uma ética profissional o capitalismo vai racionalizando a vida de acordo com suas funções, ou seja, nesse caso o materialismo histórico seria condicional e não determinante:
“Um mundo separa Max Weber de Karl Marx, tanto do ponto de vista político quanto do metodológico e do filosófico. Seria absurdo e inútil negar ou minimizar essas divergências fundamentais. Contudo, como espero ter mostrado, existem convergências, analogias possíveis e, sobretudo, uma larga esfera de complementaridade entre seus dois pensamentos. Essas “afinidades” permitem compreender a teoria critica e o marxismo weberiano, que deixaram um rastro tão profundo nas ciências humanas e na cultura radical do século XX.
Além disso, Marx e Weber são indispensáveis para compreender o mundo em que vivemos, este mundo que continua capitalista no século XXI, ainda que sob formas diferentes daquelas do século XIX. É claro que as ferramentas teóricas desses dois autores nem sempre são suficientes para compreendermos certas realidades atuais, por exemplo, a crise ambiental, mas nem por isso são menos necessárias. Pois, mais do que nunca, e mais do que na época de Marx ou Weber, somos submetidos ao poder total de forças impessoais: o mercado, as finanças, a dívida, a crise, o desemprego que se impõem aos indivíduos como um destino implacável. Jamais como em nossa época as regras de aço da civilização capitalista industrial moderna exerceram tamanha coerção sobre as populações”.
Portanto, se no período capitalista anterior, ou o Capitalismo Industrial, onde sua essência seria a obtenção do lucro com a produção em larga escala, e embora o comércio e a indústria fazem parte do sistema capitalista, atualmente, o sistema financeiro é o que mais controla a economia, aumenta os lucros, acumulando cada vez mais o capital. Isso quer dizer que os empréstimos, bancos e o novo modo de circulação de moedas e suas dinâmicas mostram a dicotomia entre Marx e Weber e nos apontam para uma metamorfose no modo de agir do capitalismo.
*Reginaldo Donizete Borges é especialista em História e professor da Rede Pública e Etec; Wesley Martins Santos é mestre em História e professor da Rede Pública e privada.