Nuvem de gafanhotos: praga ainda pouco conhecida se aproxima do Brasil e preocupa autoridades. Agrônomos explicam por que as nuvens de insetos se formam
A nuvem de gafanhotos que avança pela Argentina está a 130 km em linha reta do município brasileiro de Barra do Quaraí, no oeste do Rio Grande do Sul, de acordo com o último levantamento do governo argentino nesta quarta-feira (24). Para meteorologistas, a chegada vai depender da condição climática no Sul nos próximos dias.
Segundo o governo brasileiro, os fatores que levaram ao ressurgimento desta praga em “sua fase mais agressiva” na América do Sul ainda estão sendo avaliados pelos especialistas e podem estar relacionados a uma conjunção de fatores climáticos, como temperatura, índice pluviométrico e dinâmica dos ventos.
O professor de entomologia da Universidade de Cruz Alta Maurício Pazzini afirmou que a estiagem que o Rio Grande do Sul passou neste verão poder facilitar a chegada dos insetos ao Brasil. No entanto, Pierozzi Júnior diz que não é possível afirmar que apenas a seca e a mudança de clima que atingiu o estado e, por consequência, o Sul do continente neste ano, tenha estimulado a formação da nuvem de gafanhotos.
Adeney de Freitas Bueno, da Embrapa, diz que o crescimento excessivo da população de gafanhotos é estimulado pelo clima quente e seco associado a um desequilíbrio ambiental provocado pelo uso excessivo e incorreto de agrotóxicos nas lavouras.
Segundo ele, o manejo incorreto de inseticidas destrói agentes que são controladores naturais do crescimento de insetos e da proliferação de pragas. Esses agentes naturais são, por exemplo, os sapos, pássaros, bactérias e fungos.
“Há fungos, por exemplo, que são responsáveis por causarem doenças que matam os percevejos e gafanhotos. E, quando você usa incorretamente os agrotóxicos, você destrói todos esses microrganismos que seriam importantes para controlar, naturalmente, o crescimento da população de insetos”.
“É como o nosso organismo. Se você tomar muito antibiótico, você destrói bactérias que são importantes para o nosso organismo”.
De acordo com o governo argentino, essa espécie de gafanhoto é uma praga migratória, “que não reconhece limites ou fronteiras e, em um dia, pode viajar até 150 quilômetros e, por exemplo, atravessar de uma província para outra, ou mesmo de um país para outro em poucas horas”.
Mais agrotóxico
O governo do Rio Grande do Sul afirmou hoje que os agricultores estão apreensivos com a possível chegada da nuvem com milhões de gafanhotos. A administração local afirma que está elaborando um plano de contingência e estuda a liberação de alguns agrotóxicos.
“Estamos trabalhando com o próprio Ministério (da Agricultura), estudando fazer um decreto de alerta para o Rio Grande do Sul devido a essa nuvem, porque assim vamos conseguir dispor até de recursos orçamentários por parte do governo do estado e ministério”, explicou hoje Covatti Filho, secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural.
“Também estamos estudando a implementação de defensivos agrícolas e procurando entidades parceiras para que, caso essa nuvem chegue, tenhamos condições de conter e amenizar os prejuízos”, acrescentou o secretário.
A origem da nuvem
Os insetos chegaram à Argentina a partir do Paraguai, onde destruíram lavouras de milho. O Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa, na sigla em espanhol), uma agência do governo argentino, emitiu o primeiro alerta em 11 de maio após ser avisada por autoridades paraguaias que a nuvem se dirigia em direção à fronteira entre os dois países.
A praga entrou na Argentina em 21 de maio, mas logo retornou ao Paraguai e permaneceu no país por uma semana antes de voltar ao território argentino. As Províncias argentinas de Santa Fé, Formosa e Chaco foram as mais atingidas até agora.
De acordo com o governo brasileiro, essa praga existe no Brasil desde o século 19. Embora seja uma praga rural, ela pode tornar-se urbana, chegando a vilas e cidades, diz a Senasa. Mas estes insetos não afetam a saúde humana ou de animais, porque se alimentam apenas de material vegetal e não são vetor de nenhum tipo de doença.
Pode haver 40 milhões de gafanhotos em cerca de 1 km². Eles consomem em um dia o equivalente a consumo alimentar de 2 mil vacas ou 350 mil pessoas, explicou o engenheiro agrônomo argentino Héctor Medina à agência de notícias Reuters.
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