Política

A crise de representatividade da nossa sociedade

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Nós brasileiros somos dependentes da influencia cultural de outros países para que essa luta por direito faça parte das discussões políticas da nossa sociedade

Ato contra o racismo nos EUA (Imagem: Chip Somodevilla)

Rodrigo Pirovani*

Quem abriu alguma rede social durante essa semana se deparou com inúmeras postagens referentes à luta antifascista e ao racismo. Novos movimentos virtuais como #somos70porcento e #blacklivesmatter surgiram e vem ganhando apoio da população.

Em relação ao primeiro, este foi criado visando se contrapor aos 30% da população que ainda apoia o Jair Bolsonaro apesar das denuncias envolvendo o seu governo e a sua família. Esse ponto gera inúmeras questões que precisam ser respondidas: quem são esses brasileiros que apoiam esse governo? Como foi seu processo de escolarização? Qual foi e como se deu a participação da imprensa brasileira na construção dessa geração? Qual foi o papel das igrejas? Essas entre outras questões precisam ainda ser respondidas.

Com relação ao segundo movimento que tem origem internacional e que reflete o passado escravocrata dessas nações é de grande valia na luta por direitos que apesar de garantidos por suas constituições foram parcialmente ou ineficientemente aplicados a políticas de reparação histórica.

Entretanto, o que incomoda é a importação de movimentos virtuais de países do hemisfério norte, como se não houvesse no Brasil casos suficientes para uma revolução da população devido a essa brutal desigualdade existente.

Por mais que existam movimentos que busquem por esses direitos aqui, nós brasileiros somos dependentes da influencia cultural de outros países para que essa luta por direito faça parte das discussões políticas da nossa sociedade.

Essa dependência nos mostra como falhamos em analisar nosso próprio país apesar das manchetes de jornais nos apresentarem a realidade diariamente. Talvez seja devido ao tamanho continental do Brasil ou ao fato de estatísticas nos afastarem da nossa humanidade já que olhamos somente números. A pergunta que fica é como resolver esse problema.

Em minha opinião, está faltando representatividade. Por exemplo, a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de aproximadamente 210 milhões de brasileiros em 2019 sendo 52% (~108 milhões) desse número se referente ao sexo feminino e 55% (~115 milhões) da população se declara preta e parda. Quando analisamos os dados referentes à câmara de deputados (513 deputados no total) do congresso nacional não vemos esses números diretamente representados nele.

Por exemplo, somente 15% (77 deputadas) são mulheres e somente 24,3% (125 deputados) se declaram pretos e pardos. É um contraste ou diria um paradoxo que necessita ser mudado imediatamente. Analisando esses dados, podemos ver como o nosso congresso precisa representar nossa sociedade. Além do mais, essa carência de representatividade pode ser estendida a todas as carreiras profissionais e em diversas áreas. Como fazer isso?

Primeiramente escolhendo seus parlamentares adequadamente, são eles os responsáveis pela criação de leis, projetos e pelo orçamento do governo impactando diretamente na sua vida. Segundo, nossa cultura precisa mudar começando por uma educação de qualidade e adaptada aos tempos modernos.

Essas mudanças são processos longos e exigem continuidade sempre. Ninguém muda do dia pra noite, imagina uma sociedade diversa como a nossa. Contudo, podemos começar a construir essas mudanças em nós mesmos e desconstruir essas crenças obsoletas, racistas e antifascistas dia após dia com estudo e diálogo.

*Rodrigo Pirovani é Químico e Doutor em Ciências – UNICAMP

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