A incapacidade dos militares fica cada dia mais latente. Acredito que devem existir muitos que se envergonham de terem esse vínculo com a caserna que Bolsonaro sempre reafirma.
Anderson Pires*
O Ministro Interino da Saúde, General Eduardo Pazuello, deu mais uma demonstração das limitações dos militares para gerirem um país. Para quem ainda não percebeu, o Brasil é governado por um conjunto de oficiais, que, cotidianamente, dão exemplo de despreparo, autoritarismo e ligações com atividades suspeitas.
Em entrevista coletiva, o General Ministro Pazuello deu uma aula de geografia e falou sobre o clima nas regiões do nosso país e a relação com a pandemia. Demonstrou total desorientação, algo temerário para um paraquedista. Apesar de ter servido em Roraima e no Amazonas, fez comparações com relação ao clima das regiões Norte e Nordeste, dizendo terem um inverno mais aproximado do encontrado no hemisfério Norte.
Com relação a saúde, a incapacidade do General já é mais que evidente, mas para quem se diz um militar da área operacional logística, parece que sua debilidade é ainda mais grave. Um tema que deveria ser de fácil compreensão para uma criança na faixa dos dez anos de idade, não parece ser tão simples para Pazuello.
Talvez, tenhamos um novo exemplo de funcionário fantasma ou, durante sua passagem pela região Norte, tenha ficado mais tempo sobre as nuvens que o recomendado. Assim, como o Presidente que também foi paraquedista, Pazuello mostrou que nada sabe sobre aspectos regionais brasileiros e que sua capacidade para formular políticas públicas nesse sentido é zero.
Como já disse em outros textos, o oficialato bolsonarista é um ajuntado de ignóbeis, com dificuldades cognitivas insuperáveis. Basta ver que, enquanto Pazuello dava sua aula de geografia, o Presidente debatia sobre os efeitos do enxofre presente no alho para curar a COVID-19, com uma de suas fãs no cercadinho do Palácio da Alvorada.
Parece piada, mas não é. O conjunto da obra é deprimente. Vale lembrar que essa é a turma que propagou o kit gay, a mamadeira de piroca e resolveu debater o perigo da URSAL em pleno processo eleitoral. Pra quem não sabe do que se trata, a União das Repúblicas Socialistas da América Latina foi uma ironia feita por uma professora de sociologia em 2001. Na campanha, o General Heleno resolveu transformar o tema em polêmica, afirmando que existia um risco da URSAL interferir nas eleições. Foi pego pela piada e ainda criou um debate ridículo. As redes sociais aproveitaram o mote e fizeram a festa.
Mas o mesmo General Heleno, um dos homens mais próximos do Presidente, também afirmou ter dúvidas sobre o aquecimento global e se a Terra era redonda. Alguém com tantas dúvidas, não mediu as palavras quando ameaçou o Supremo Tribunal, caso fosse determinada a apreensão do celular de Bolsonaro para realização de perícia, no inquérito que apura a tentativa de uso político e pessoal da Polícia Federal.
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Uma coisa podemos destacar nesse Governo: a forma planificada como é composto. Onde o General vira subalterno do Capitão, mas todos apresentam o mesmo nível intelectual. O grande perigo é que, assim como entre os animais irracionais, por mais dóceis que pareçam, podem ter atitudes guiadas pelo instinto. O que temos que tomar cuidado é com a periculosidade. Um mini poodle por mais agressivo que seja seu ataque de raiva, jamais produzirá o estrago de um pitbull. Sem contar que o poodle se destaca pela inteligência.
Os paraquedistas que tomaram posse do Governo Federal pelo voto popular, acreditam ter um atestado para descumprimento de leis e normas. As insígnias não fazem do militar um homem idôneo e competente. O mesmo Pazuello que não sabe diferenciar os aspectos regionais do país, também foi investigado num processo de favorecimento ilícito para uso de área pública, para atividades de um clube de paraquedismo no Rio de Janeiro, que cobrava valores consideráveis aos seus alunos.
Tanto o Presidente como seus generais demonstram a forma distorcida que enxergam a coisa pública. Dessa forma, querem impor medidas ilegais, interferir indevidamente em órgãos do Estado, alterar dados, quebrar normas de controle e toda sorte de ações que tenham como norte a autoridade que imaginam ser soberana.
O ambiente dos quartéis é muito propicio para que exageros sejam cometidos. Em muitos casos, existe a cultura de que a superação se dá pela violência e imposição, mesmo que isso desrespeite a legislação e coloque em risco a vida. Exemplos de absurdos praticados na formação e treinamento já foram alvos de diversas denúncias. Essa lógica que é abominável mesmo que praticada em instituições fechadas como as forças armadas, torna-se ainda mais perigosa quando transferida para a gestão de um país.
Imagine que alguém como Pazuello no comando de sua tropa, provavelmente, submeteria seus comandados a absurdos, como negar o calor causticante do semiárido nordestino ou atribuiria sintomas da COVID-19 a mera “frescura”. Esse é o perfil dos militares que estão nos governando. Vivemos num estado de demência, sob o risco permanente que os instintos do pitbull maior produzam estragos irreparáveis.
Os prejuízos já são bem maiores que o esperado. Temos uma sucessão de absurdos cometidos e, agora, agravados por uma pandemia. A incapacidade dos militares fica cada dia mais latente. Acredito que devem existir muitos que se envergonham de terem esse vínculo com a caserna que Bolsonaro sempre reafirma. Talvez, o treinamento intenso, com tantos saltos com paraquedas de altitudes muito elevadas, tenha diminuído a oxigenação e provocado danos irreparáveis. Alguma explicação deve haver. Só espero que não cheguem a conclusão que é algo contagioso. Afinal, esse Governo é mais perigoso que qualquer vírus.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.
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