Mulheres violadas

Médica que atua na linha de frente é espancada por frequentadores de festa clandestina

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Médica de 35 anos que atua na linha de frente contra o coronavírus é brutalmente espancada por frequentadores de festa clandestina. A profissional de saúde foi pisoteada e teve o joelho fraturado. Bombeiros testemunharam tudo e não fizeram nada. Um dos agressores é sargento da PM

Ticyana Azambuja

Uma médica de 35 anos foi brutalmente espancada no Grajaú, Rio de Janeiro, por frequentadores de uma festa clandestina no último sábado (30). Ticyana Azambuja foi pisoteada por cinco homens e teve fratura no joelho esquerdo.

Ticyana disse ter tocado a campainha do imóvel onde ocorria a balada para pedir que a festa acabasse. Após ouvir um palavrão como resposta, quebrou o retrovisor e o vidro traseiro de um carro estacionado irregularmente em frente à calçada.

A Polícia Civil já identificou alguns dos frequentadores da festa com base em imagens, que registraram as agressões. Entre eles, o sargento Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, que atua no Batalhão de Choque, dono do carro depredado pela médica. O envolvimento do agente no caso é investigado pela polícia.

A Corregedoria da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) instaurou inquérito para apurar a participação do policial no episódio.

“Estou morrendo de medo. Tenho um filho pequeno e muita gente está falando que mexi com gente poderosa. Mas a minha exposição é uma forma de garantir a minha segurança”, disse Ticyana ao sair da delegacia. Com lesões nas duas mãos, precisou escolher uma delas para engessar. “Estou à base de analgésicos”.

Na linha de frente no combate ao coronavírus, Ticyana trabalha em três hospitais. No sábado à tarde, precisava descansar para assumir um plantão, à noite, quando decidiu falar com os frequentadores da balada clandestina. A médica passou a dormir na sala nos últimos dias por causa do som alto durante as madrugadas.

Após quebrar o retrovisor e o vidro traseiro do carro de um frequentador da festa, ela foi perseguida inicialmente por dois homens, que saíram correndo da casa onde acontecia a festa.

“Eles vieram pra me matar. Saí correndo. Um deles gritou: ‘Não adianta correr, porque nós vamos te matar’. Eles me pegaram, me enforcaram e me jogaram no chão, como se eu fosse um saco de batatas. Eu desmaiei. Quando acordei, estava com uma bota em cima do meu tórax. Não conseguia respirar”.

A médica, que teve o joelho fraturado quando foi jogada no chão, disse que ouviu os agressores combinando entre eles como fariam para se desfazer do corpo, após matá-la.

“Um deles falou: ‘Abre o carro porque a gente vai dar um sumiço no corpo dela’. Naquela hora, eu sabia que ia morrer. Eu comecei a gritar desesperadamente, para que alguém impedisse aquilo. O que mais me doeu foi ver que muitos olharam e passaram adiante”.

Mas a omissão mais chocante, segundo ela, foi a dos bombeiros que atuam na unidade ao lado da casa onde ocorria a festa clandestina, com pessoas sem máscaras de proteção que não cumpriam as determinações de isolamento social.

“Os bombeiros viram toda a ação e não fizeram absolutamente nada. Eu pedi ajuda, eu pedi pra entrar no quartel para que eles pelo menos garantissem a minha integridade física. Eles falaram que eu era bandida e merecia morrer”.

Um vizinho, que tentou defendê-la, acabou sendo agredido. “Falaram: ‘É defensor de bandido’ e deram um soco na boca dele. Quando a polícia chegou, os marmanjos voltaram para a casa”, lembra.

Ela chegou a discutir com o policial dono do carro. “Ele me pediu R$ 6.800 por fora. Falei que não pago nada por via extrajudicial. Que não dou propina a ninguém. Ele falou que isso poderia prejudicá-lo no trabalho e decidiu também abrir mão de dar queixa contra mim”, contou.

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