Ministério sem Educador
Ex-ministros do governo Bolsonaro desconheciam a estrutura da educação brasileira e não sabiam o que fazer para mudar os rumos do ensino
Israel Aparecido Gonçalves*
Até agora, completando 18 meses de governo, Jair Bolsonaro não teve um ministro da Educação de verdade, pois nada foi feito na eminente pasta. Este é o discurso clichê de uma parte da mídia e de intelectuais de plantão. Há outros comentaristas que apontam o ex-ministro Abraham Weintraub como um gestor ligado a ala ideológica do governo. As duas teses citadas caminham para um discurso vazio.
Primeiro, indicar que os dois ex-ministros da Educação do governo de Jair, Ricardo Vélez Rodríguez e o já citado Weintraub, eram apenas estátuas e nada fizeram é minimizar o grande prejuízo que eles deram para a educação e o erário público. Prejuízos que levam em conta questões fundamentais como o debate sobre o FUNDEB, cuja revalidação não se efetivou, e a explícita perseguição aos cursos de Humanas.
Somam-se também como pontos deficitários o fato de Weintraub, no início da sua gestão, tentar bloquear verbas públicas para a Educação Superior, embora não tenha conseguido, e a pífia gestão do ministro no último ENEM, quando quase 6 mil alunos tiveram suas provas corrigidas de forma errada. Já neste ano, foi responsável por cortes em bolsas de estudos – de mestrado e de doutorado – depois de atribuídas aos alunos. Isso prejudicou a pesquisa no país.
Os discursos de ódio e as brincadeiras sem graça no horário de trabalho, como aparecer de guarda-chuva em um vídeo, só acentuaram ainda mais negativamente a imagem do ministro.
Segunda questão, apostar que os ministros da Educação tinham um lastro ideológico é atribui-los uma certa coerência teórica. Na realidade, os ex-ministros desconheciam a estrutura da educação brasileira e não sabiam o que fazer para mudar os rumos do ensino. São atitudes que demonstram ignorância, desconhecimento total de causa e não uma ideologia. Para uma pessoa elaborar uma ideologia é necessário estudar, fato lacunar na estrutura governamental de Jair.
A saber, o grande problema dos dois gestores, Rodríguez e Weintraub era a crença em uma mentira. A falácia do chamado marxismo cultural. Esse marxismo estaria na estrutura educacional e modelava os corações e mentes dos inocentes alunos. Como não existe marxismo cultural aqui nos trópicos e em lugar algum, os ministros teriam que trabalhar muito para inventá-lo e depois, como mágica, destruí-lo, salvando o país do comunismo.
Weintraub não conseguiu, como ministro, sequer avançar em suas alucinações de extrema direita, por exemplo, na desqualificação da educação pública. Nem foi capaz de dar de bandeja as universidades públicas para o setor privado, pauta admirada pelo seu chefe amado que está na presidência da República e em processo de efetivação por Wilson Witzel, governador da “cidade maravilhosa” e ex-amigo da família Bolsonaro.
No final do mandado de Weintraub, ficou evidente que o ódio às instituições era a única coisa de verdadeiro no discurso do ex-ministro, exposto em rede nacional a pedido de outro “ex” da família de Jair: Sérgio Moro. Depois disso, ele foi para os braços do povo em Brasília buscando mostrar que a sociedade o compreendia. Foi vergonha alheia profunda. A máscara caiu e o próprio optou por fugir para os EUA, como um lambari. Pois é, o peixe morre pela boca. Weintraub será o símbolo maior deste ditado.
*Israel Aparecido Gonçalves é autor de quatro livros, cientista político e doutorando em Sociologia Econômica (UFSC).