América Latina

O escândalo de espionagem de Macri e a obsessão de Jair Bolsonaro

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Acaba de explodir na Argentina um escândalo de espionagem que serve de alerta aos brasileiros. O fim da era Macri possibilitou acesso a informações que são vazadas agora pelos próprios arapongas. A pergunta é inevitável: algo semelhante pode estar em funcionamento aqui?

Bolsonaro e Macri

Moises Mendes, em seu blog

A Argentina se ocupa desde a semana passada do desvendamento de mais um escândalo político que serve de alerta aos brasileiros.

É o esquema de espionagem adotado durante o governo de Maurício Macri, para perseguir adversários políticos. A pergunta é inevitável: algo semelhante pode estar em funcionamento aqui?

Bolsonaro, obsessivo com informações da sua área de inteligência, que ele mesmo considera precária, não estará dispondo de uma estrutura de arapongagem nos moldes da usada pela direita argentina durante quatro anos, até o final de 2019?

O jornal Página 12 divulga desde a semana passada detalhes do esquema de bisbilhotagem do governo de Macri para invadir a vida de quem considerava inimigo.

Congresso e Justiça começam a abrir a caixa preta da estrutura criminosa, que teria sido montada a partir da Agência Federal de Inteligência (AFI), a ABIN deles.

Cristina Kirchner, que tinha todos os seus passos seguidos pelos espiões, sempre foi o principal alvo. Mas deputados, especialmente os peronistas, eram vigiados até mesmo no estacionamento da Câmara.

Os arapongas compartilhavam suas tarefas num grupo de WhatsApp chamado Super Mario Bros, numa referência ao jogo eletrônico, sob as ordens do diretor de Operações da AFI, Alan Ruiz.

Uma espiã tinha, por exemplo, a tarefa de anotar as saídas dos carros de deputados da oposição do estacionamento da Câmara e repassar a informação com as placas a uma central. O que faziam com isso? Ainda não se sabe.

O Pagina 12 levanta uma possibilidade assustadora: a espiã do estacionamento (na verdade uma mandalete) pode apontar para um sistema tão amplo em que políticos argentinos seriam espionados dentro de seus gabinetes.

O Super Mario Bros tinha inclusive um apartamento alugado especialmente como QG dos arapongas, comandado por um servidor público chamado Gustavo Arribas.

Uma comissão do Congresso está analisando as denúncias, a partir da confissão de agentes que participavam do esquema (vários órgãos da área de segurança estavam envolvidos nas espionagens).

O fim da era Macri possibilitou acesso a informações que são vazadas agora pelos próprios arapongas.

Saberemos um dia por que Bolsonaro tanto reclamava dos seus serviços de inteligência, a ponto de provocar a fuga de Sergio Moro do governo?

No link abaixo, a reportagem de Raúl Kollmann hoje no Página 12, que remete a um texto de ontem sobre o esquema montado para seguir os passos de Cristina Kirchner.

https://www.pagina12.com.ar/273636-los-agentes-de-la-afi-que-marcaban-diputados-para-seguirlos-