Saúde

Coronavírus: EUA compram todo estoque mundial de remdesivir dos próximos 3 meses

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Após abolir a hidroxicloroquina, governo dos Estados Unidos compra praticamente todo o estoque mundial do remédio remdesivir para os próximos três meses. A droga é a primeira aprovada por autoridades americanas e europeias para ser usada no tratamento contra o coronavírus

(Imagem: JIM WATSON/AFP)

O Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) anunciou nesta segunda-feira que alcançou um acordo com o laboratório californiano Gilead Sciences para garantir que praticamente toda a produção do remdesivir ― único medicamento aprovado pelas autoridades norte-americanas e europeias para o tratamento da covid-19 ― permaneça no país nos próximos três meses.

Em nota divulgada na segunda-feira, o HHS anunciou que reservou a aquisição de 500.000 tratamentos de remdesivir, sendo 94.200 a serem fabricados em julho, 174.900 em agosto e 232.800 em setembro. Estas cifras representam 100% da produção do remdesivir da empresa em julho, e 90% em agosto e em setembro.

Cada tratamento se compõe de seis ampolas do medicamento. O HHS atribuirá o remdesivir aos departamentos estaduais e territoriais saúde dos EUA, levando em conta a situação epidemiológica de cada área, e a partir deste nível intermediário as doses serão distribuídas aos hospitais.

O medicamento foi aprovado em maio em regime de urgência pela Administração de Alimentos e Drogas (FDA). No fim de junho, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou a comercialização do fármaco, à espera do sinal verde definitivo da Comissão Europeia (Poder Executivo da UE).

A recomendação da EMA se baseia principalmente nos resultados preliminares do maior estudo já feito com este medicamento, publicados na revista norte-americana New England Journal of Medicine (NEJM), que concluíram que com esse fármaco os doentes se recuperavam em média de quatro dias antes que o resto dos pacientes.

A NEJM já publicou três artigos científicos certificando a eficácia do remdesivir, enquanto outro, na The Lancet, não encontrava benefícios. O ensaio negativo foi realizado com 237 pacientes tratados na China. Já o primeiro da NEJM, publicado em 22 de maio, trazia os resultados preliminares de um estudo internacional com 1.065 pacientes, financiado pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (Niaid), que demonstrava uma redução de 31% no tempo de recuperação (de 15 dias no grupo placebo para 11 nos pacientes tratados com remdesivir) e também ligeiramente a mortalidade (era de 12% na amostra com placebo, e 8% na amostra medicada com o antiviral), embora isto não fosse estatisticamente significativo.

O segundo artigo da NEJM, de 27 de maio e financiado pela Gilead, concluía que não havia diferenças significativas entre tratar os pacientes por 5 ou 10 dias. E o terceiro, com 53 pacientes em uso compassivo e pago pelo laboratório que o comercializa, concluía que tinha havido melhoras clínicas em 68% dos pacientes.

“É um bom fármaco, mas estamos decepcionados porque, se estivesse associado a uma redução da mortalidade, seria melhor. Não será o fármaco definitivo, mas é importante ver que os dois que vão bem [o remdesivir e a dexametasona] mostraram resultados para tratar pacientes graves”, opina Toni Trilla, chefe de Medicina Preventiva do Hospital Clínic de Barcelona.

SAIBA MAIS: Dexametasona é celebrada como primeiro remédio que reduz mortalidade do coronavírus

Em seu comunicado, o secretário (ministro) de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Alex Azar, se desmanchou em elogios ao presidente Donald Trump, que segundo ele “conseguiu um acordo incrível para assegurar que os norte-americanos tenham acesso ao primeiro tratamento autorizado para a covid-19. Queremos assegurar que qualquer paciente norte-americano que necessite do remdesivir poderá consegui-lo. A Administração Trump está fazendo tudo o que está ao seu alcance para aprender mais sobre tratamentos para a covid-19 e assegurar estas opções ao povo norte-americano”.

Depois do anúncio dos Estados Unidos, a Comissão Europeia indicou nesta quarta-feira que está em processo de negociação com a farmacêutica Gilead para reservar a compra do fármaco. “A comissária (ministra) da Saúde, Stela Kyriakides, manteve numerosas conversações com o fabricante, incluídas as relativas à sua capacidade de produção. A Comissão também negocia neste momento com a empresa a reserva de doses de remdesivir para os Estados membros da UE”, afirmou o organismo comunitário, informa Bernardo de Miguel.

No Brasil

Na contramão do mundo, o governo brasileiro continua insistindo no uso da hidroxicloroquina para tratar pacientes com coronavírus. A obsessão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo medicamento ocasionou a demissão de dois ministros da saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Sem eficácia comprovada, a cloroquina acabou suspensa nos hospitais dos Estados Unidos — país que, inicialmente, fez propaganda do medicamento.

Apesar da proibição nos EUA, o presidente Donald Trump informou no último mês que continuará exportando a hidroxicloroquina para o Brasil. No fim de maio, os EUA anunciaram o envio de 2 milhões de doses.

O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército Brasileiro já gastou mais de R$ 1,5 milhão para ampliar, em 100 vezes, sua produção de cloroquina. A ampliação da produção entrou no alvo do Tribunal de Contas da União, que investiga suspeita de superfaturamento nas compras do Exército, além da participação do presidente Jair Bolsonaro em suposta má aplicação de recursos públicos, já que o medicamento nunca teve comprovação científica para tratar a covid-19.

com informações do El País

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