Jair Bolsonaro

Corrida ao hospital mostra que Bolsonaro só menospreza o coronavírus dos outros

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Diante da rapidez das ações tomadas por Bolsonaro frente ao mal-estar que sentiu por conta do coronavírus, percebe-se que ele se preocupa com sua saúde da maneira como gostaríamos que se preocupasse com a dos brasileiros. Não é que ele menospreza a doença sempre. Apenas quando ela atinge os que não ostentam seu sobrenome

por Leonardo Sakamoto

A saúde de um presidente da República é sempre notícia, mas há certa melancolia diante da cobertura do quadro clínico de Jair Bolsonaro, que testou positivo para covid-19 após ter febre e sintomas.

Diante da rapidez das ações tomadas frente ao mal-estar que sentiu, percebe-se que ele se preocupa com sua saúde da maneira como gostaríamos que ele se preocupasse com a saúde dos brasileiros. Não é que ele menospreza a doença sempre. Apenas quando ela atinge os que não ostentam seu sobrenome.

Nos últimos meses, Bolsonaro pouco se importou se brasileiros viviam ou morriam desde que voltassem logo ao trabalho para salvar o seu mandato. Tornou-se, dessa forma, sócio das mais de 65 mil mortes registradas até agora.

Para o povão é “gripezinha”, “resfriadinho”, “fantasia” e “histeria”, coisa sem importância. Tanto falou que levou muita gente, de lebloners a AI-5ers, a agirem como se nada estivesse acontecendo, contribuindo com a difusão do vírus. Quando o caso o envolve, contudo, é levado ao Hospital das Forças Armadas rapidamente. Se acreditasse no que disse, tomava seu “elixir mágico” e esperava para ver o que acontece em casa. E se desse errado, paciência. Afinal de contas, como ele nos explicou, “a gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”.

Não desejo a ele o mesmo sofrimento que relegou aos brasileiros, ou seja, que melhore. Primeiro, porque essa é a diferença entre civilização e barbárie. Mas também porque precisa estar vivo e bem consciente para ver que sua tentativa de derrubar a democracia vai falhar miseravelmente e seu governo ficará registrado no rodapé dos livros de História como um período de autoritarismo “golden shower”, um ensaio incompetente de gestão bananeira digital.

Bolsonaro pode fazer o que faz, ignorando os riscos da irresponsabilidade, da ignorância e do terraplanismo biológico porque ele é tutelado por um grupo de assessores e familiares que o protegem dele mesmo e tem ao seu alcance os melhores médicos — que darão o melhor tratamento efetivo, mesmo que ele insista em tomar apenas cloroquina.

O problema é quem nos protege dele, que nos condena a atravessar uma pandemia assassina sem ministro titular da Saúde, sem plano de enfrentamento, sem liderança nacional?

E há os efeitos colaterais positivos a ele. O alvoroço causado por sua ida ao hospital e coleta de material já foi útil para reduzir momentaneamente a repercussão das investigações que pairam sobre ele e sua família.

Neste domingo, reportagem da Folha mostrou movimentações de cargos e salários dos funcionários de seu gabinete quando deputado federal. Fato que, com muita boa vontade, é possível chamar apenas de bizarro. Ou seja, já cumpriu uma função política.

E, a partir de agora, vai poder fazer propaganda da cloroquina, que ele estaria tomando. O fato é que vai precisar de muito merchand a fim de compensar os mais de R$ 1,5 milhão que o Exército já gastou para ampliar de forma desnecessária a produção do medicamento, cujo uso não é recomendado pela imensa maioria de infectologistas por trazer mais efeitos colaterais do que soluções.

O que faz dele uma grande metonímia deste governo e de seu presidente.

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