Família convive com 152 cobras cascavéis no Paraná. A espécie é a principal responsável por mortes causadas por acidentes ofídicos no Brasil. Especialistas explicam como evitar acidentes e o que fazer em caso de picada
Na última semana, ganhou destaque na mídia nacional o caso de um estudante de Brasília (DF) que foi picado por uma cobra Naja e ficou em coma. Mais tarde, descobriu-se que o jovem tinha mais de 15 animais contrabandeados dentro de casa. A Naja é uma espécie exótica, originária da Ásia e da África, e não pode ser criada no Brasil.
A cobra cascavel, por sua vez, é encontrada em diversas regiões do Brasil. E um dos maiores especialistas na espécie é o marmoreiro Dirley Bortolanza, de 62 anos.
Dirley caçava cobra desde os três anos de idade em Mandaguari, no Norte do Paraná. “Pegava umas cobrinhas perto do cemitério, levava bronca do meu pai e assim eu fui crescendo”, diz.
O homem mantém em casa 152 cascavéis e uma jararaca. “Elas estão aqui em casa em um caixão que eu tenho, no qual vou ser enterrado quando morrer. Elas ficam do meu lado a noite inteira e não me mordem nem nada. Se você trata com carinho, elas ficam super tranquilas. Você não pode pegar pela cabeça, tem que ser pelo rabo”.
Dirley não sai caçando cobras na natureza. As serpentes são recolhidas por ele a pedido de moradores e até do Corpo de Bombeiros. “Quando alguém me liga de madrugada falando que tem uma cobra na casa deles, eu me arrepio todo e vou correndo. É uma adrenalina muito grande e além disso, as pessoas agradecem pela ajuda, ficam felizes”.
O marmoreiro recolhe serpentes que invadem a cidade e apresentam risco à população, mas elas não ficam por muito tempo com ele, já que são levadas pelos órgãos ambientais responsáveis. “Aqui tem muita cascavel e eu vou pegá-las nas residências, nunca na floresta. Normalmente vão para o Instituto Butantan, mas pela pandemia elas estão tendo que ficar mais aqui em casa”, falou.
Apesar da convivência diária com as serpentes venenosas desde a infância, Dirley nunca foi picado por uma, mas os parentes preferem não correr o risco. “Minha mãe nunca vem me visitar. Com minha esposa e filho elas não fazem nada, só que ficam dentro do quarto e no caixão quando não estou”.
Dirley explica o que deve ser feito caso alguém se depare com uma cobra em casa: “O ideal é você pegar uma vassoura e colocar em cima dela até alguém ir socorrer. Chame os bombeiros ou alguém que tenha capacidade”.
Serpentes como cascavel e jararaca são venenosas e, em caso de ser picado, a vítima precisa procurar com urgência uma unidade de saúde para tomar um soro de combate ao veneno.
Cascavel
As cobras cascavéis estão presentes em todo o continente americano e são as principais responsáveis por mortes causadas por acidentes ofídicos, ou seja, causados por mordidas de cobras. Além disso, a espécie ‘Crotalus Durissus’ está entre as mais venenosas do mundo.
Fabiano Maximino, médico infectologista, confirma que os acidentes mais comuns são com as cobras jararaca e cascavel. “A picada gera alterações que levam a sangramentos de diversos sistemas, como o urinário, sangramentos gengivais, nasais e no trato intestinal”, disse.
“Em caso de acidente o indicado é lavar o local com água e sabão, elevar o membro atingido, deixar a pessoa calma, em um local sem sol até que chegue o socorro”, afirma o Major Araújo, do Corpo de Bombeiros.
Outra dica dada pelo militar é a de não amarrar o membro, impedindo a circulação no local. “Se o acidente for de jararaca, o veneno fica no local, causando necrose, que pode pode ocorrer a necessidade de amputação do membro”, atentou.
A cascavel pode ser encontrada nos cerrados, regiões áridas e semi-áridas do Nordeste, assim como nos campos das regiões Sul, Sudeste e Norte.
Quando se fala em cascavel, a primeira lembrança certamente é do barulhinho do chocalho. O som emitido por um guizo na ponta da cauda é emitido como alerta para inimigos ficarem longe.
Como evitar acidentes com animais peçonhentos
♦ No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que serpentes estão em maior atividade.
♦ Não mexer em colmeias e vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, contatar a autoridade local competente para a remoção.
♦ Inspecionar calçados, roupas, toalhas de banho e de rosto, roupas de cama, panos de chão e tapetes antes de usá-los.
♦ Afastar camas e berços das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários.
♦ Não depositar ou acumular lixo, entulho e materiais de construção junto às habitações.
♦ Evitar que plantas trepadeiras se encostem às casas e que folhagens entrem pelo telhado ou pelo forro.
♦ Não montar acampamento próximo a áreas onde normalmente há roedores (plantações, pastos ou matos) e, por conseguinte, maior número de serpentes.
♦ Evitar piquenique às margens de rios, lagos ou lagoas, e não encostar-se a barrancos durante pescarias ou outras atividades.
♦ Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios (sempre com uso de EPI).
♦ Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés.
♦ Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos.
♦ Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros;
♦ Controlar roedores existentes na área e combater insetos, principalmente baratas (são alimentos para escorpiões e aranhas).
♦ Caso encontre um animal peçonhento, afaste-se com cuidado e evite assustá-lo ou tocá-lo, mesmo que pareça morto, e procure a autoridade de saúde local para orientações.
O que fazer em caso de acidente
♦ Procure atendimento médico imediatamente.
♦ Informe ao profissional de saúde o máximo possível de características do animal, como: tipo de animal, cor, tamanho, entre outras.
♦ Se possível, e caso tal ação não atrase a ida do paciente ao atendimento médico, lave o local da picada com água e sabão (exceto em acidentes por águas-vivas ou caravelas), mantenha a vítima em repouso e com o membro acometido elevado até a chegada ao pronto socorro.
♦ Em acidentes nas extremidades do corpo, como braços, mãos, pernas e pés, retire acessórios que possam levar à piora do quadro clínico, como anéis, fitas amarradas e calçados apertados.
♦ Não amarre (torniquete) o membro acometido e, muito menos, corte e/ou aplique qualquer tipo de substancia (pó de café, álcool, entre outros) no local da picada.
♦ Especificamente em casos de acidentes com águas-vivas e caravelas, primeiramente, para alívio da dor inicial, use compressas geladas de água do mar. A remoção dos tentáculos aderidos à pele deve ser realizada de forma cuidadosa, preferencialmente com uso de pinça ou lâmina. Procure assistência médica para avaliação clínica do envenenamento e, se necessário, realização de tratamento complementar.
♦ Não tente “chupar o veneno”, essa ação apenas aumenta as chances de infecção local.
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