Homem que estuprou 5 mulheres é beneficiado com prisão domiciliar e decisão causa revolta. Justiça aceitou tese da defesa de que a última vítima “saiu viva da casa do réu, o que indica que a abordagem dele não foi violenta”. A mulher se suicidou semanas depois. Casos aconteceram no Chile
Martín Pradenas, de 28 anos, é acusado de estuprar cinco jovens entre os anos de 2010 e 2019 no Chile. A sua última vítima, Antonia Barra, de 21 anos, cometeu suicídio após denunciar o crime e não receber apoio nem de pessoas próximas nem da Justiça.
Durante a apuração do caso, a Justiça determinou sua prisão domiciliar enquanto aguarda o julgamento. O fato da prisão preventiva não ter sido emitida provocou uma avalanche de repúdio nas redes sociais, panelaços e protestos em frente à casa de Pradenas, na cidade de Temuco, no sul do país.
Em várias partes do país, grupos de mulheres participaram da convocação do coletivo ‘LasTesis’, conhecido mundialmente. “Foi estabelecido um prazo de investigação de 120 dias e então saberemos se haverá um julgamento ou se haverá mais tempo para coletar evidências. Depois vem a prévia do julgamento oral e então o julgamento”, disse ao jornal La Tercera a advogada Camila Maturan, da Corporación Humanas.
O caso foi reconstituído com base em trocas de mensagens pelo WhatsApp. Em 18 de setembro de 2019, Antonia acordou em uma cabana em Pucón com Martín Pradenas em cima dela. Ela disse que gritou para ele sair, se vestiu e foi embora.
A vítima afirma que foi estuprada por Pradenas, mas não quis denunciá-lo por medo da reação de seus pais. Ela ligou para o ex-namorado para contar a situação, mas ele a gravou, a insultou e depois encaminhou a conversa, que acabou chegando a Pradenas no mesmo dia. No dia 13 de outubro de 2019, Antonia Barra enviou uma mensagem se despedindo do ex-namorado e se suicidou.
Outros casos
Outras duas vítima que Martín Pradenas é acusado de ter estuprado são menores de idade. A vítima de 2010 tinha 16 anos e a de 2012 tinha 13 anos. Antonia foi a única vítima com mais de 20 anos de idade entre as atacadas pelo estuprador.
O promotor Miguel Rojas conseguiu que todos os casos fossem incluídos em uma única ação, visando dar mais força a uma possível condenação – já que ganharam volume e contaram com os testemunhos das demais vítimas.
Apesar desse esforço, a Justiça chilena preferiu aceitar o argumento da defesa de Pradenas, de que “Antonia Barra saiu viva da casa de Pradenas, o que indica que sua abordagem não foi violenta, e que provavelmente esse nem mesmo foi o motivo pelo qual ela se suicidou”.
Amigas de Antonia apresentaram ao tribunal dois áudios nos quais ela contou que estava em depressão pelo abuso que havia sofrido.
Pai de Antonia
“Somos uma família normal, da chamada classe média do Chile. Com muito esforço, sacrifício, estudo, conseguimos ter uma vida de paz. Temos cinco filhos, um homem, quatro mulheres… são cinco, embora uma delas já não esteja mais connosco”, disse Alejandro Barra em entrevista à BBC Mundo.
“A decisão da minha filha [de tirar a própria vida] foi muito dolorida para nós. E percebemos que tinha a ver com vergonha, com dor”, acrescenta o homem.
“Hoje eu penso: quantas meninas são iguais à minha filha, que, por vergonha da exposição, pelo medo de represálias, não denunciam. Uma garota deve ser aplaudida pela coragem de denunciar um criminoso”, continua.
“Porque minha filha sentiu falta de que eu e de que a sociedade disséssemos a ela: tudo tem uma solução. Agora eu digo às meninas: denunciem seus abusadores. Não pensem que serão desacreditas e ridicularizadas nas redes, porque tudo isso pode ser resolvido. Tudo, exceto a morte”, finaliza Alejandro, que tem lutado de maneira incansável em busca de Justiça.
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