Filho de pastor evangélico, homem preso por abusar de mais de 60 crianças passava grande parte do seu tempo defendendo Jair Bolsonaro e o golpe de 1964 e fazia sucesso nas redes. Antes da identidade do homem ser revelada, Damares Alves disse que investigação do caso "serviria de modelo para o Brasil"
Nas redes sociais, Syllas Souza Silva, de 31 anos, se autodenominava “cidadão de bem”. Com publicações de cunho religioso, o homem falava frequentemente em ‘Deus’ e tinha milhares de amigos virtuais.
No entanto, a face oculta de Syllas não era exposta em seus perfis na internet. Pelo menos 60 crianças e adolescentes foram vítimas sexuais do homem.
Nascido em uma família extremamente religiosa no pequeno município de Tutóia, no Maranhão, ele colecionou vítimas entre 11 e 14 anos de idade.
Manipulador, obrigava meninos e meninas a enviar fotos e vídeos com conteúdo pornográfico. Em algumas ocasiões, convenceu crianças e adolescentes a introduzir objetos no ânus ou a se masturbar.
Syllas foi preso no último dia 20 de junho pela Polícia Civil do Distrito Federal e segue isolado em uma cela no Complexo Penitenciário da Papuda.
Com 3.558 amigos no Facebook e 1.584 seguidores no Instagram, o pedófilo usava suas páginas para demonstrar fervor pela religião. Seu pai é pastor evangélico em uma pequena cidade do interior.
Política
O pedófilo não usava as redes sociais apenas para falar de religião. Fã de Jair Bolsonaro (sem partido), Syllas gastava grande parte do seu tempo online para defender o atual presidente e o golpe militar de 1964.
Filiado ao Partido Social Democrata Cristão, Syllas também costumava marcar os prefeitos que governaram seu município em diversas publicações.
Após ser detido, Syllas foi levado de avião para o Distrito Federal. Na ocasião, as fotos e os vídeos feitos pela Polícia foram borrados. Por isso, só agora a imprensa descobriu a identidade do homem.
Antes do nome de Syllas vir à baila e o Brasil descobrir o seu perfil, a ministra Damares Alves chegou a afirmar que a investigação sobre o caso “serviria de modelo para o Brasil”.
Vítimas
Vítimas do pedófilo chegaram a cogitar cometer suicídio com medo do vazamento das fotos e vídeos de nudez. A investigação teve início após os pais de uma adolescente de 13 anos registrarem ocorrência. Para ganhar a confiança dos jovens, Syllas se passava por uma adolescente usando um perfil falso.
De acordo com a polícia, o pedófilo admitiu que cometeu crimes em todas unidades da Federação, “só não se recorda do Acre”, disse o delegado-chefe da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga), Josué Ribeiro.
Segundo ele, as investigações podem tomar uma proporção tão grande que não está descartada a possibilidade de enviar para os estados de origem todas as denúncias que estão chegando.
“Precisamos aguardar as conversas de outros dois perfis que já identificamos para saber o tamanho desse caso”, diz Josué.
Outra dúvida que pode ser tirada com o acesso às conversas que o criminoso manteve com crianças e adolescentes é descobrir se havia uma rede de pedofilia por trás do homem ou se o homem agia sozinho.
Segundo a delegada Elizabeth Frade, que coordenou as apurações na 12ª DP, já existem elementos suficientes para enquadrar o pedófilo também no crime de estupro de vulnerável em ambiente virtual. “Ele não recebia apenas as fotos. Também ameaçava divulgar nas redes sociais, fazer uma exposição em grande escala”, conta.
As exigências ficavam cada vez maiores. De acordo com a investigadora, vídeos enviados por crianças mostram que o pedófilo tinha a intenção de se satisfazer. “Obrigava as crianças a colocar objetos no ânus, se tocar…”, lista Elizabeth.
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