Redação Pragmatismo
Academia 02/Jul/2020 às 20:07 COMENTÁRIOS
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Pesquisa mostra que coronavírus já estava em Florianópolis em novembro de 2019

Publicado em 02 Jul, 2020 às 20h07

Estudo foi divulgado nesta quinta-feira pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadores dizem que, até o momento, essa é a amostra mais antiga do novo coronavírus nas Américas

coronavírus florianópolis
Aglomeração no centro de Florianópolis (SC) em tempos de pandemia

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) divulgou, nesta quinta-feira (2), que partículas do novo coronavírus (Sars-CoV-2) foram encontradas em duas amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019.

O primeiro caso diagnosticado de coronavírus no Brasil só ocorreu em 25 de fevereiro. Era um paciente de 61 anos que foi internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Intitulado “SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019”, o novo estudo tem participação de pesquisadores da UFSC, da Universidade de Burgos, da Espanha, e da start-up Neoprospecta/BiomeHub, de Florianópolis.

Conforme a UFSC, até o momento a amostra coletada no esgoto de Florianópolis é a mais antiga do novo coronavírus nas Américas. Embora a primeira descrição do Sars-CoV-2 seja de 31 de dezembro de 2019, pesquisas semelhantes constataram que ele estava presente no esgoto de Wuhan, na China, em outubro, e na Itália, no início de dezembro.

“O vírus circulava antes mesmo de termos ciência sobre a sua rotina em pacientes ou em humanos, sejam assintomáticos ou sintomáticos. (…) Pode ser que em outros locais já havia antes de outubro, porque esse estudo especifica que havia a partir de 27 de novembro” , disse a doutora em Biotecnologia Gislaine Fongaro, do Laboratório de Virologia Aplicada da UFSC, uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho.

Gislaine ressalta que em pesquisas semelhantes feitas em esgoto na China e na Itália foi constatado que o Sars-CoV2 estava em circulação antes dos primeiros registros da doença, porque o vírus demora semanas para ser expelido por quem foi contaminado.

“O esgoto já era testemunha de que o vírus estava por ali. E isso, falando na infecção viral, é um fato previsto, porque quando você está excretando o vírus, é porque ele já teve todo o trânsito no sistema respiratório, passou no sistema gastrointestinal e está sendo excretado. Então, são pessoas que já estão com 15, 20 dias de infecção”, explicou.

A pesquisa

Foram analisadas amostras congeladas de esgoto bruto — que tinham sido coletadas por outros estudos dentro da universidade — do final de outubro do ano passado até o início de março de 2020 da rede pública da região central de Florianópolis. A ideia dos pesquisadores foi investigar o material como ferramenta epidemiológica.

“Trabalhar com amostras de esgoto é uma rotina, sempre se deixam amostras reservadas num banco de amostas em vários laboratórios”, falou Maria Elisa Magri, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental.

As amostras entre 30 de outubro e 6 de novembro não tinham o Sars-CoV-2. Na de 27 de novembro, a carga era de 100 mil cópias de genoma do vírus por litro, considerada baixa pelos pesquisadores. As quantidades subiram em 11 de dezembro e 20 de fevereiro e, em 4 de março, foi constatado um milhão de cópias de genoma de Sars-CoV-2 por litro de esgoto.

Conforme Gislaine, para se chegar aos resultados de que eram mesmo partículas do novo coronavírus, foram feitos testes com base em quatro marcadores para o genoma do vírus. Para cada amostra foram realizadas, pelo menos, oito testagens.

“A princípio, se fez para o primeiro, viu que se tinha uma positividade, vamos fazer uma conferência, e aí foi realizado para outros marcadores. Uma enzima de codificação viral, uma outra que codifica para uma proteína spike, que é bem famosa em função da mutação do Sars-CoV-2, uma outra que codifica para uma proteína de envelope do vírus, e um outro fragmento de núcleo capsídeo”, explicou.

Após essa etapa no Laboratório de Virologia Aplicada, foi feita nova extração do material genético original para testes no Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia, no Hospital Universitário da UFSC. Depois, os fragmentos foram sequenciados, e o resultado ficou pronto nesta quinta. Para a pesquisadora, a conclusão de que se trata do novo coronavírus é segura.

“Quando tivemos os testes repetidos, confirmados, interlaboratorial e agora com sequenciamento, não se trata de resultado preliminar. Se tratam de resultados confiáveis e a certeza que é isso mesmo. Claro que esse trabalho tem perspectiva de se fazer sequenciamentos do genoma total, de fazer, quiçá, outras coletas, inclusive agora que estamos com um número mais conhecido de casos positivos”, disse Gislaine.

A BiomeHub, start-up de Florianópolis com laboratório envolvido na pesquisa, é responsável pelo sequenciamento metagenômico. Nesse caso, foi recebida a amostra do esgoto, extraído o DNA e transformado em RNA, por ser um vírus de RNA. Depois, realizado o sequenciamento. A ideia é saber, por meio de análise biocomputacional com base em informações de banco de dados públicos, se a cepa identificada no estudo é a mesma que circula neste momento em Santa Catarina.

Para Gislaine, a pesquisa pode ser uma ferramenta epidemiológica para que se possa fazer a rastreabilidade, entender a evolução do vírus, e ajudar na implementação de programas sentinelas.

com informações da UFSC e do G1

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