Entre fevereiro e março de 2020, o periódico científico Journal of Thrombosis and Hemosthasis publicou quatro artigos abordando a relação intrincada, complexa e ainda pouco compreendida entre a covid-19 e trombogênese
Giulia Granchi, Viva Bem
Com diagnóstico de covid-19 confirmado há cerca de 15 dias, o jornalista, músico e escritor Rodrigo Rodrigues, apresentador do Troca de Passes do canal SporTV, está em coma induzido após ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Unimed Rio, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, na noite do último sábado (25).
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De acordo com o boletim médico divulgado hospital, Rodrigo teve um quadro de trombose venosa cerebral (TVC) e precisou passar por um procedimento cirúrgico para diminuição da pressão intracraniana.
Veja o boletim médico do hospital
“Boletim Médico 27/07/2020, 18h
O Hospital Unimed-Rio informa que, após a realização de novos exames, o paciente Rodrigo de Oliveira Rodrigues segue em coma induzido, em estado grave, monitorizado em unidade de terapia intensiva.
No último domingo, 26/07, o paciente foi submetido a procedimento para diminuição da pressão intracraniana em decorrência de trombose venosa cerebral. Rodrigo havia dado entrada na emergência da nossa unidade no sábado, 25/07, com quadro de cefaleia, vômitos e desorientação, além de diagnóstico prévio de Covid-19.
Paulo Henrique Ribeiro Bloise – Diretor Médico do Hospital Unimed-Rio”
O que é a trombose venosa cerebral?
A trombose venosa cerebral ocorre quando um coágulo de sangue entope uma veia do cérebro. “O sangue fica mais espesso, o que pode ocorrer por diversas razões, como uma propensão natural do paciente ou até relação com a covid-19, criando um coágulo e impedindo a passagem do sangue e do líquido cefalorraquidiano“, explica Guilherme Torezani, neurologista do Hospital Icaraí, no Rio de Janeiro.
“Com a passagem obstruída, o acúmulo de fluidos vai gerando pressão — o que causa sintomas como forte dor de cabeça — e pode gerar um tipo AVC que chamamos de infarto venoso“, acrescenta Torezani.
De acordo com o médico, é possível tratar o quadro antes que aconteça o AVC. “É preciso que ocorra a suspeita, como por uma dor de cabeça muito forte, incomum para aquele paciente“, indica.
Quando não há atendimento rápido e o acidente vascular cerebral ocorre, o quadro pode deixar sequelas importantes como dificuldades na fala, cegueira, paralisia, ou até levar à morte. “Uma vez que o processo de infarto venoso já começou, o tratamento é usar anticoagulantes para dissolver o coágulo“, afirma o neurologista.
Principais sintomas:
-Dor de cabeça intensa;
-Visão embaçada;
-Convulsões;
-Alterações da consciência;
-Formigamento ou paralisia num lado do corpo;
-Boca torta;
-Dificuldade para falar e de compreensão;
-Tontura e perda de equilíbrio
Há relação entre a Covid-19 e a coagulação do sangue?
Entre fevereiro e março de 2020, o periódico científico Journal of Thrombosis and Haemostasis publicou quatro artigos abordando a relação intrincada, complexa e ainda pouco compreendida entre a covid-19 e trombogênese (formação de trombos, a coagulação de sangue).
Por enquanto, o que os cientistas sabem é que o novo coronavírus induz em casos mais graves, uma tempestade de citocinas (emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes) que leva à ativação de coagulações, causando fenômenos trombóticos.
“O que passamos a entender é que o vírus entra pelo epitélio respiratório (mucosa que se estende da cavidade nasal até os brônquios), agride-o e deixa os brônquios e os alvéolos com a membrana exposta, criando algo parecido com um machucado. Isso faz o corpo querer estancar a ferida, e a resposta do organismo é a coagulação, entrando em estado de hipercoagulabilidade, o que na verdade, não resolve o problema“, explica a pneumologista Elnara Marcia Negri, do Hospital Sírio Libanês.
O que causa a trombose?
De acordo com o neurologista Leandro Teles, médico do Hospital Oswaldo Cruz (SP), em geral, alguns dos fatores de risco para a formação de coágulos, são:
-Alterações genéticas hereditárias (e por isso é importante saber o histórico familiar de quadros trombóticos)
-Tabagismo
-Presença de tumores ou neoplasias
-Doença reumatológica Síndrome Antifosfolípide
-Uso de anticoncepcional para mulheres ou reposição hormonal
-Pós-cirúrgico e imobilização prolongada (aumenta o risco especialmente para trombose nos membros inferiores)
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