Alunas dizem que não se surpreendem com comentário flagrado nas redes, pois conduta racista do professor em sala de aula já havia sido denunciada e extremismo se agravou no período eleitoral. Em outra publicação, o professor debochou da menina de 10 anos estuprada e insinuou que ela poderia ter se defendido
O professor Murilo Vargas, que dá aula de espanhol na escola CEM 804, no Distrito Federal, republicou a foto de uma modelo negra de cabelo crespo e a chamou de “cosplay de microfone”.
Na publicação, realizada nesta quinta-feira (20), o professor debocha de uma postagem que constava a seguinte frase: “Não consigo ouvir o seu racismo por causa do volume do meu cabelo”.
Internautas reagiram com críticas. A comunidade escolar onde ele trabalha iniciou uma campanha pela demissão do professor. A Secretaria de Educação afirma que vai “apurar o assunto”.
“A Secretaria de Educação reafirma a sua missão educacional de assegurar o respeito à diversidade e à pluralidade na rede pública de ensino e, com isto, contribuir para que se propague em toda a sociedade.”
Uma estudante de 17 anos disse que já presenciou o professor chamar uma aluna negra de “macaca” em sala de aula. Questionada se a turma procurava a diretoria, ela afirmou que sim. “A gente contava, mas era a palavra dele contra a nossa”.
Segundo a aluna, a postagem do professor nas redes sociais foi uma oportunidade de tornar o caso público. “É a primeira vez que a gente consegue registrar ele fazendo isso”, afirmou.
Uma outra aluna, menor de idade, disse que o comportamento de Murilo se agravou no período eleitoral. “Ele deixava claro o posicionamento dele de extrema direita e criticava alunos que eram de esquerda. Ele chegou a comentar que ‘esquerdista não morre nem com tiro na cabeça pois não tem cérebro para poder matar’”, conta. Ela reforça que a diretoria sabia da situação, mas nunca tomou providências.
Em outra publicação, o professor insinuou que a menina de dez anos estuprada pelo tio não deveria ter feito o aborto e que ela poderia ter se protegido da violência sexual sofrida. Em uma das publicações ele diz “Entre a criança e o bebê, fico com quem era completamente incapaz de se defender”.
Investigação
Na manhã desta sexta-feira (21/8), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), informou que vai apurar o caso.
A Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil da Seccional do Distrito Federal (OAB-DF) também publicou nota de repúdio em relação ao comentário com conteúdo racista feito por um professor da rede pública de ensino.
De acordo com a nota, o comentário do professor trouxe constrangimento para grande parcela das mulheres negras, “já que os padrões as obrigavam a mudar sua beleza natural para serem socialmente aceitas. Por isso, o ataque à mulher negra que assume seu cabelo e sua ancestralidade deve ser veementemente combatido”.
“Realça-se que com a ‘piada’ do professor, figura que aparenta autoridade, outros usuários passaram a fazer comentários de cunho racista, inclusive, com alusão ao holocausto e a grupos nazistas, o que demonstra que a dita piada desencadeou o ataque à comunidade negra”, observa a nota assinada pela presidência da comissão da OAB-DF.
“Racismo não é mal-entendido, é crime! Portanto, repudiamos os fatos ocorridos e lembramos que muito embora seja garantida a liberdade de expressão, esta não deve jamais ultrapassar os limites da dignidade da pessoa, ou mesmo do coletivo, como foi o caso. Especialmente, tratando-se de pessoa que exerce tão relevante e essencial profissão, a docência”, continua.
Por fim, a Comissão de Igualdade Racial afirma que vai requisitar às autoridades responsáveis a apuração da postura do servidor público em sala de aula e nas redes sociais.
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