Líder espiritual é acusado de manipular e estuprar 14 mulheres na Bahia
Líder espiritual usava suposta superioridade religiosa para cometer crimes contra seguidoras. Uma das vítimas sofreu abusos por 12 anos. Em um dos casos, homem sugere que adolescente abusada não vá com sua mãe ao ginecologista para que não se descubra a perda da virgindade
O MP-BA (Ministério Público da Bahia) investiga denúncias de abuso sexual e psicológico de 14 mulheres contra o líder espiritual Jair Tércio Cunha Costa, ex-grão-mestre de uma loja maçônica.
Jair desenvolve uma doutrina pedagógica que é estudada em retiros espirituais. Ele nega as acusações feitas. Em nota enviada por meio da assessoria de imprensa, a GLEB (Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia) informou que, “tão logo que tomou conhecimento dos fatos referentes ao Maçom envolvido no mês de julho do corrente ano, adotou internamente as medidas necessárias e ele está respondendo a uma sindicância, tendo sido cautelarmente afastado das atividades regulares na maçonaria, com seus direitos maçônicos suspensos”.
A promotoria não deu mais detalhes sobre o caso porque o processo está em segredo de Justiça para preservação dos depoimentos de novas vítimas que podem vir a surgir. O MP-BA só deve se manifestar quando o processo for concluído. A solicitação de investigação foi feita pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e pelo projeto Justiceiras, uma rede de apoio a mulheres que sofrem violência.
A primeira mulher a denunciar o caso foi Tatiana de Amorim Badaró, que afirmou ter sofrido abusos psicológicos e sexuais entre 2002 e 2014.
“Todo o tempo (sofri) um terrorismo psicológico e ameaça de retaliação espiritual. Ele disse que a espiritualidade deve cobrar, porque você teve oportunidade de viver perto de um iluminado e não aceitou”.
Ela afirmou que o líder retirou toda a sua autonomia e passou a controlar sua vida. “Eu não pude escolher minha profissão. Ele determinou que eu tinha que fazer pedagogia. Eu fui obrigada a trabalhar na escola que ele fundou. Me afastei de minha mãe por ordem dele e tive que mudar o número do meu celular, apagar meu email e criar outro para que ninguém da minha vida tivesse contato”, explicou.
Tatiana declarou que foi chamada por Jair para auxiliar em uma tarefa, mas acabou abusada por ele. “Uma vez, ele me chamou na casa dele para ajudar a preparar uma palestra que ele ia dar. Ele disse que precisava equilibrar minha energia. Na semana seguinte, ele passou a mão em mim dizendo que estava equilibrando meus chacras. Na seguinte, ele penetrou dizendo que ele precisava colocar a energia dele dentro de mim”.
Além das denúncias de abusos investigadas pelo MP-BA, também há um boletim de ocorrência registrado em Salvador em que um homem conversa com uma menor de idade. A adolescente questionou o homem, cuja voz é atribuída a Jair Tércio, se ele retirou a virgindade dela e que a sua mãe queria levá-la ao ginecologista.
O interlocutor pediu que a jovem não atendesse o pedido. “Você não vai. Esqueça isso, minha filha. Pelo amor de Deus, viu?”, disse o homem, que ainda negou ter abusado da adolescente. “Comigo não é relação, não. Comigo foi carinho, foi amor”, justificou-se.
informações do portal Universa