Religião

Mãe perde guarda da filha após levar menina para ritual de candomblé

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Mãe perde a guarda da filha de 12 anos após a adolescente passar por ritual de iniciação no candomblé. Denúncia foi feita pela avó evangélica

(Imagem: Cynthia Britto/WikiDanca)

Uma mãe perdeu a guarda da filha de 12 anos após a adolescente passar por um ritual de iniciação no candomblé. O caso aconteceu na cidade de Araçatuba (SP).

A ação foi movida pelo Conselho Tutelar da cidade após uma denúncia feita pela avó da menina, que é evangélica. A defesa da família afirma que o caso é de intolerância religiosa.

Segundo o portal UOL, o conselho recebeu uma denúncia anônima dizendo que a jovem era vítima de maus-tratos e abuso. Junto de policiais militares, os conselheiros foram até o terreiro.

A adolescente chegou a relatar que não estava sofrendo qualquer tipo de abuso, mas, sim, passando por um ritual. A mãe, que trabalha como manicure, explicou que, durante a cerimônia, a menina não poderia deixar o local.

Mesmo com as justificativas, mãe e filha foram levadas para a delegacia. Só foram liberadas depois de a jovem passar por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), que não encontrou nenhum tipo de hematoma ou lesão. A adolescente só estava com a cabeça raspada — segundo ela, estava se tornando filha de Iemanjá.

Nestes rituais, o novo adepto fica 21 dias recluso no terreiro. Durante o retiro espiritual, recebe banhos de ervas e é exposto a fundamentos da religião. A ideia é que ele se purifique, entre em contato com o axé (que, na língua iorubá, significa “força” ou “poder”) e, de acordo com a tradição, renasça conectado com valores ancestrais da crença. Deste ponto de vista, a passagem pelo terreiro é uma gestação. Raspar o cabelo é um ato sagrado e simboliza tudo isso.

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“Nossos fundamentos e ritos estão garantidos por lei (…) Jamais devem ser confundidos com ato de tortura ou lesão corporal. Ressaltamos que, no Brasil, tais fundamentos são preservados há mais de 350 anos e, sendo de matriz africana, são fundamentados há séculos”, afirma o centro cultural que representa religiões de matriz africana em Araçatuba.

Mesmo sem indícios de violência ou abuso, familiares críticos da religião fizeram outra denúncia. Dessa vez, registraram um boletim de ocorrência em que apontaram que a adolescente estava sendo mantida à força no terreiro. Isso fez policiais irem novamente até o local. Não encontraram ninguém, pois a adolescente já estava em casa.

Os familiares não desistiram e, junto do Conselho Tutelar, denunciaram o caso à Promotoria. Alegaram que houve lesão corporal por causa do cabelo raspado. Entraram na Justiça, que transferiu a guarda para a avó materna. Há uma semana, mãe e filha só conversam por celular e se veem durante visitas curtas.

“O pior de tudo é que em nenhum momento ouviram minha filha ou a mim. Simplesmente a tiraram de mim. Eu nunca a obriguei a nada, esse sempre foi o sonho dela. Ela está chorando a todo momento, me liga de dez em dez minutos querendo vir para casa”, desabafa a mãe.

“Eu estou arrasada. Já estava antes por conta do preconceito. Agora que tiraram minha filha de mim, tiraram o meu chão. Nunca imaginei passar por isso por conta de religião. Eu estava presente o tempo inteiro, acompanhei tudo, nada de ilegal foi feito, que constrangesse a ela, ou que ela não quisesse, sem consentimento dela, ou sem o pai ou a mãe, foi tudo feito legalmente”, acrescentou a mulher.

O pai de santo Rogério Martins Guerra classifica a situação como lamentável: “Eu já vi perseguição, preconceito, pessoas que são agredidas e apedrejadas na rua, terreiros que são incendiados. Mas nunca algo assim. É uma tristeza profunda”.

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