"Vocês mexeram com a pessoa errada. Sou filha de juiz, de gente poderosa", gritava a mulher ao humilhar funcionários no Leblon. O pai dela, que não é juiz, se pronunciou após a repercussão do vídeo. Jovem negro ofendido perdeu a mãe recentemente vítima de covid-19
Em vídeo que viralizou nas redes hoje (20), uma mulher aparece humilhando funcionários de um quiosque no Leblon e diz ser “filha de juiz” e de “homem poderoso”. As imagens foram gravadas há um mês, embora só agora divulgadas. O pai da mulher nega que seja “poderoso”.
Em entrevista ao jornal O Globo, o idoso disse que não é juiz e pediu desculpas. “Eu não sou juiz, eu não sou poderoso, não sou nada. Só sou um geólogo aposentado. Liguei para o quiosque e pedi desculpas, é o que eu posso fazer. Mas não estou justificando, de forma alguma, o que minha filha fez”, afirmou.
Ele disse ainda que, neste momento, a filha está internada em uma clínica para tratamento de dependência química, e “assim que sair de lá ela deverá responder pelos seus atos”.
Julio Quintanilha, um dos funcionários ofendidos, denunciou o caso nas redes sociais. A mãe dele morreu recentemente de coronavírus e a irmã de menos de dois anos passou duas semanas internada.
Dias antes das imagens que viralizaram, Julio Quintanilha já havia sido xingado pela mesma mulher de “preto feio”. O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância como injúria racial.
Quintanilha conta que o vídeo que viralizou foi gravado no dia 25 de julho, mas que antes disso, no dia 20, houve um primeiro episódio com a mesma mulher.
“Antes de tudo começar, ela tinha visto a gente (funcionários do quiosque) ali e falou que se a mãe dela a visse conosco, ela ia tomar uma surra. Eu perguntei por quê. Ela falou: ‘Minha família é socialite, eu sou cineasta, meu pai é juiz'”, relembra.
“Antes de ir embora, ela derrubou a mesa e falou: ‘Seus pretos feios’. A gente sabe que existe o racismo, mas quando se vê materializado de forma tão ridícula. Normalmente, você vê um olhar desconfiado no supermercado ou quando corre para atravessar e seguram a bolsa. Mas, quando você ouve preto como se fosse ofensa, é estranho. Porque ser preto para mim é bom”.
Na segunda vez em que a viu, quase uma semana depois de ter sido ofendido, Julio Quintanilha disse aos colegas de trabalho que não a atenderia.
“Avisei ao grupo (de WhatsApp) que a racista estava no quiosque e não a atendi, mas os rapazes atenderam normalmente. É feio quando você vê isso uma, duas vezes. E como funcionário ter que agir normalmente é péssimo”.
Quase um mês depois do caso, Quintanilha resolveu desabafar numa rede social e escreveu sobre o caso. Os vídeos com os ataques viralizaram. Ao lado da irmã, que estava internada, ele diz que só teve tempo de falar sobre o caso agora.
“Foi uma avalanche nesses 20 dias. E eu tinha conseguido esse emprego há um mês. Minha intenção não era nem abrir processo pensando no desgaste financeiro e emocional”, finaliza.
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