"Ele ainda tava tentando lutar pela vida, mas os policiais só nos deixaram socorrê-lo depois que ele não esboçava mais reação". Jovem sai de moto para comemorar aniversário e é executado pela PM durante abordagem. Crime foi registrado em vídeo
Rogério Ferreira da Silva Júnior saiu de moto para comemorar o aniversário de 19 anos, mas morreu baleado na tarde de domingo (9) após ter sido abordado por dois policiais militares de motocicletas, na Zona Sul de São Paulo. O jovem estava desarmado e levou um tiro à queima-roupa.
O PM que atirou no rapaz alegou que disparou em legítima defesa porque achou que ele estivesse armado e fosse atirar. No entanto, imagens de câmeras de segurança mostram Rogério parando a moto quando os PMs se aproximam.
Os próprios policiais admitem não terem encontrado nenhuma arma com a vítima. Os dois agentes da PM foram afastados preventivamente dos serviços de rua para o que o caso seja investigado pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM.
Inicialmente, a Polícia Civil e a Corregedoria da PM concordaram com a versão dos policiais e entenderam que se trata de “legítima defesa putativa”. Mas as imagens e as testemunhas desmentem essa versão.
Nas imagens é possível ver o momento em que dois policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) cercam Rogério, que reduz a velocidade da moto até parar perto da calçada.
Na sequência, o jovem leva um disparo à queima-roupa. Segundo o boletim de ocorrência do caso, Rogério foi baleado momentos antes de cair. Os policiais envolvidos são Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli e Renan Conceição Fernandes Branco. O autor do disparo é Giacomelli.
Outros vídeos, gravados logo em seguida por testemunhas com seus celulares, mostram Rogério agonizando sem socorro médico. As imagens circulam nas redes sociais.
Os PMs fazem um cordão de isolamento para impedir a aproximação da população, que demonstram revolva e acusa os agentes de execução. “Aqui é o menino, gente”, grita desesperada uma mulher que filma Rogério.
“Até então, para mim, ele tinha caído, alguma coisa assim. Nem imaginei que fosse tiro, porque não tinha sangue por perto. O tiro foi fatal. Não foi [de] hemorragia que ele morreu, essas coisas. Foi do tiro mesmo. Aí eu parei, ainda tentei socorrer ele, os policiais não deixaram, fizeram o procedimento lá deles, falaram que já tinham chamado reforço e tal, não sei o quê”, disse o amigo que emprestou a moto para Rogério.
“Só deixaram a gente tentar socorrer ele depois que ele não esboçava mais nenhuma reação”, falou o amigo de Rogério. “Porque de início, quando eu cheguei lá, ele estava vivo ainda. Ele estava tentando lutar ainda, estava agonizando, estava tentando respirar, estava até… lutando pela vida ali. Se deixasse socorrer, não sei, só Deus sabe, mas eu acho que ainda teria chances dele viver”.
Segundo testemunhas, uma amiga da família de Rogério, que é enfermeira, rompeu o cordão de isolamento dos PMs para tentar fazer massagem cardíaca no jovem, que posteriormente foi levado por parentes e amigos ao Pronto Socorro Municipal Augusto Gomes de Mattos, no Sacomã, onde morreu.
O caso chegou a ser levado para o 26º Distrito Policial (DP), no Sacomã, mas depois a investigação foi transferida para o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no centro da capital.
Segundo parentes e amigos de Rogério, o 26º DP se recusou a registrar a ocorrência, que seguiu para o DHPP somente no final da noite. O boletim de ocorrência só foi finalizado na manhã desta segunda-feira (10) após 15 horas de espera da família e amigos de Rogério na frente do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa.
O caso foi registrado como “resistência, homicídio simples decorrente de intervenção policial, desobediência, dano qualificado, dirigir sem permissão ou habilitação, trafegar em velocidade incompatível e permitir direção de veículo automotor a pessoa não habilitada”.
A mãe do jovem está inconsolável. “Era aniversário dele, ele estava muito feliz. Eu comprei bolinho para ele. A gente não conseguiu cantar os parabéns porque veio um e tirou a vida do meu filho”, disse Roseane da Silva Ribeiro, mãe de Rogério. “Eu quero justiça porque isso foi uma maldade, uma injustiça muito grande que fizeram com meu filho”.
Segundo Roseane, o filho trabalhava numa empresa de logística e estava fazendo curso de cabeleireiro, já que a mãe é cabeleireira.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o caso está em apuração pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM.
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