Povos indígenas

Povos indígenas no Brasil: a gripe antes, a “gripezinha” hoje.

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo
Político

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, trouxeram na bagagem, além de piolhos e a ganância por riquezas de qualquer tipo, doenças cujos nativos não tinha anticorpos para combatê-los. O que para os europeus poderia ser uma simples gripezinha, curada com sete dias de cama (ainda não havia vitamina C em cápsulas), para os chamados indígenas podia ser mortal.
Quer dizer, não só a pólvora europeia matava aqueles chamados de índios porque Cristovão Colombo quando na América chegou acreditava ter aportado na índia. Doenças leves mataram milhares de nativos.
Os maiores inimigos para os exploradores não eram vírus invisíveis, mas animais silvícolas e tribos “hostis”, isso é, grupos que não aceitavam pacificamente serem escravizadas ou cortarem pau-brasil o dia todo para, à noite, ganhar um objeto mágico: um espelhinho.
Esses perigos, contudo, eram contornados com relativa facilidade pelos exploradores. Uma vez dominados pela força e/ou pela aculturação, as tribos “amigas” conduziam os colonizadores mata adentro ensinando os perigos e armadilhas naturais das florestas e de tribos rivais.
Hoje, um vírus oriundo da China, mas trazido ao Brasil por brasileiros que foram e voltaram da mesma Europa (talvez até descendentes daqueles europeus que em algum momento colonizaram nosso país), assola parte dos resistentes índios que remanesceram no País.

: Leia aqui todos os textos de Delmar Bertuol

Devido à condição periférica das demarcações indígenas, essa população está muito vulnerável à mortandade por coronavírus. Embora a taxa de mortalidade dessa doença seja relativamente baixa (existe taxa baixa quando se trata de morte?), é sabido que quanto menos acesso aos serviços básicos de saúde, mais risco se corre ao se contrair o vírus. Ainda mais, quanto menos condições sociais e de moradia, mais fácil de ser acometido pela doença.
O pensador Karl Marx afirmou que a história se repete. A primeira vez como tragédia. A segunda, como farsa.
Talvez não concordemos de todo com o pensador alemão. As relações humanas e sociais são muito dinâmicas e precisam ser interpretadas em diferentes contextos. A analogia no que tange a situação atual dos indígenas e sua relação com o coronavírus e as doenças que sofreram no século XVI é compulsória. O que lá no longínquo século para os europeus gananciosos era apenas um resfriado, pros nativos podia ser mortal. E o que hoje para a maioria pode não passar duma “gripezinha”, para os remanescentes índios também está matando.

*Elaborado em co-autoria com o professor Maximiliano Longo para as disciplinas de História e Geografia da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Salgado Filho, de Novo Hamburgo/RS.

: *Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e
estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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