Ídolo bolsonarista e ex-conselheiro de Trump, Steve Bannon é preso por lavagem de dinheiro e fraudes em campanhas online. Investigação detalhou como funcionava o esquema do guru da extrema-direita. Presidente dos Estados Unidos já se pronunciou
Steve Bannon, ex-estrategista-chefe da Casa Branca da gestão de Donald Trump, foi indiciado e preso nesta quinta-feira (20) sob a acusação de desviar dinheiro de uma campanha de apoio à construção de um muro entre os Estados Unidos e o México — uma das promessas da campanha de Trump em 2016.
Três supostos cúmplices também foram presos. Eles teriam usado fundos de campanha de forma inconsistente com aquele que havia sido propagandeado.
A campanha “We Built That Wall” (nós construímos o muro, em tradução literal) arrecadou US$ 25 milhões (cerca de R$ 142 milhões, na cotação atual) que foram doados de centenas de milhares de pessoas.
Segundo o Departamento de Justiça, ao menos US$ 1 milhão (R$ 5,64 milhões, na cotação atual) teria ido para o próprio Bannon, que usou o dinheiro em outras de suas organizações ou para ele mesmo.
Ao menos uma parte desse montante “foi usado por Bannon para cobrir centenas de milhares de dólares em despesas pessoais dele”, disseram os promotores.
Além dessa fraude, Bannon também é indiciado por conspiração para lavagem de dinheiro. Cada um dos crimes pode levar à pena máxima de 20 anos de prisão.
Promotores federais em Nova York anunciaram que além de Bannon foram acusados Brian Kolfage, Andrew Badolato e Timothy Shea.
O esquema
Para esconder o fluxo ilícito de dinheiro os quatro faziam repasses do montante arrecadado com a campanha por uma organização sem fins lucrativos de Bannon e por uma empresa de fachada controlada por um dos outros acusados, segundo a acusação.
Kolfage foi descrito como o rosto público e fundador da campanha, recebeu milhares de dólares que usou para ele mesmo, segundo a acusação.
A rede MSNBC ouviu pessoas ligadas a Bannon que afirmaram que ele não deverá se declarar culpado. Ele deverá ser ouvido em uma corte ainda na tarde desta quinta-feira.
“Esse caso serve de aviso para outros fraudadores, de que ninguém está acima da lei, nem sequer um veterano de guerra com necessidades especiais ou um estrategista milionário”, afirmou, em nota, o inspetor encarregado do caso, Philip R. Bartlett.
Conselheiro de Trump
Donald Trump afirmou que se sente muito mal pela prisão de seu antigo estrategista. O presidente dos EUA afirmou que não lidava com Bannon há muito tempo e que não conhecia o projeto de onde os fundos teriam sido desviados.
“Eu não gostava daquele projeto. Eu pensei que ele era motivado só por exibicionismo”, disse ele. “Construir um muro entre os EUA e o México com dinheiro privado seria algo inapropriado”, afirmou Trump.
Ídolo bolsonarista
Bannon é líder do grupo The Movement, que reúne conservadores no mundo todo. Em janeiro de 2019, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse em uma rede social que Bannon o escolheu para liderar o movimento no país. “Satisfação em ser o líder do The Movement para América Latina ao lado de Steve Bannon”, escreveu Eduardo na legenda de uma imagem em que aparece abraçado a Bannon.
No mês seguinte, em fevereiro, Eduardo publicou outra foto ao lado de Bannon. “Bate papo agradável agora com Steve Bannon, unindo forças contra o domínio cultural esquerdista/marxista”, disse o deputado. A marcação na rede social indica que os dois estavam em Washington.
Em março do mesmo ano, Bannon encontrou-se com o presidente Bolsonaro em um evento na embaixada do Brasil nos EUA definido pelo Palácio do Planalto como “jantar com formadores de opinião”, em Washington. Bannon sentou-se do lado esquerdo de Bolsonaro – à direita estava o escritor Olavo de Carvalho.
Há quase um ano, em setembro de 2019, Eduardo voltou a se encontrar com Bannon, desta vez em Nova York. Eduardo estava na cidade para assistir ao discurso de seu pai na Assembleia Geral da ONU.
Na mesma época, Eduardo convidou Bannon para vir ao Brasil participar de um seminário no Senado, num evento intitulado Ambientalismo e Geopolítica, mas o americano acabou não vindo.
Reuters
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