Delegado tentou obstruir investigação de operação que mira Cristiane Brasil
Delegado tentou obstruir investigação de operação que mira Cristiane Brasil, aliada de Jair Bolsonaro e filha de Roberto Jefferson. Policial chegou a destruir documentos, recolher computadores e R$ 100 mil que estavam em um cofre
O delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Mario Jamil Chadud, tentou obstruir a investigação criminal da Operação Catarata II, deflagrada nesta sexta-feira (11).
Na decisão em que aceita a denúncia do Ministério Público e torna réus 25 suspeitos de desvios em contratos de assistência social no governo do estado e na Prefeitura do Rio, a juíza Ana Helena Mota Lima Valle, da 26ª Vara Criminal, cita a influência da organização criminosa para burlar a lei e desviar dinheiro.
Entre os mencionados está o delegado da Polícia Civil Mario Jamil Chadud, que, segundo as investigações, esteve em uma empresa para retirar provas pouco antes de uma operação policial em 2019.
Mario é um dos presos nesta sexta-feira (11) na operação do Ministério Público do Rio e da Polícia Civil que investiga contratos de assistência social entre 2013 e 2018.
Os promotores acreditam que Mario Jamil Chadud sabia da operação e por isso foi ao local buscar documentos, computadores e R$ 100 mil que estavam em um cofre. Ele é acusado também de obstrução de Justiça.
“Registre-se que o denunciado MARIO JAMIL é delegado da Policia Civil, exerce cargo público por indicação política, e foi visto retirando objetos (dinheiro e computadores) da sede da empresa SERVILOG demonstrando, assim, grande influência e perigo a instrução criminal. Destaque-se, ainda, que o fato de algumas testemunhas serem policiais, o que, em tese, afastaria o argumento da necessidade de garantia da instrução criminal, não é verificado no caso em tela, dado que, no decorrer da investigação, um dos delegados, o mais atuante, foi retirado do caso”, diz a juíza.
Imagens mostram o delegado esperando o elevador e depois já nele, seguindo para o andar da Servilog para retirar o material e o dinheiro do cofre. “As imagens são gritantes. Não são apenas depoimentos. Há imagens, relatórios que mostram que não só foram retiradas provas da sede da Servilog como após a retirada o senhor Mario Jamil Chadud retornou ao bloco 22 para monitorar as equipes policiais a distância e saber o que as equipes estavam fazendo”, disse o promotor Cláudio Calo.
Dinheiro vivo
Segundo a investigação, o secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes, e a ex-deputada federal Cristiane Brasil receberam propina em dinheiro. Cristiane, que ainda está foragida, é aliada do presidente Jair Bolsonaro e filha do corrupto confesso Roberto Jefferson.
Segundo o Ministério Público, as propinas eram recebidas de três formas, dependendo do político envolvido. “Em espécie, na maioria das vezes, na sede a Servlog Rio, sede do “QG” do grupo criminoso; através de depósitos bancários em dinheiro em contas correntes bancárias de terceiros e através de pagamento de despesas pessoais do próprio político, como locação de bens imóveis”.
Os promotores citam ainda que duas assessoras políticas de Cristiane – Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo e Suely Soares da Silva – também denunciadas, eram as “mulheres da mala”, ou seja, recebiam as vantagens indevidas “a fim de blindar” a ex-deputada.
“Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo (20ª) e Suely Soares da Silva (21ª) eram as “mulheres da mala” de Cristiane Brasil (4ª), ou seja, quem recebiam as vantagens econômica indevidas (“propinas”), ora através de entregas de dinheiro em espécie, pessoalmente; ora através de depósitos de dinheiro, em espécie, em contas correntes51; ora através cobrança do pagamento dos valores da locação52 (título do “e-mail: “FWD: Aluguel Cris”), a fim de blindar a ex- vereadora carioca e ex- deputada federal”, diz o documento.
Cristiane foi secretária de Envelhecimento Saudável da Prefeitura do Rio e chegou a ser nomeada ministra do Trabalho no governo Temer, mas teve a posse suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de condenações na Justiça Trabalhista.