Trabalhador negro humilhado, espancado pelo PM e falsamente acusado de roubo ficou preso por cinco dias. Ministério Público recuou e desistiu de denunciar o entregador. Nas redes sociais, o policial Felipe da Silva Joaquim paga de influencer e até compartilha seus “parceiros comerciais”
O Ministério Público de São Paulo recuou e desistiu de acusar o motoboy André Andrade Mezzette, 29 anos, preso neste sábado (29/8). Ele era acusado de tentar um roubo contra o PM Felipe da Silva Joaquim, que paga de influenciador digital nas redes sociais.
André permaneceu preso por cinco dias, até ser solto na última quarta-feira (2/9). A Justiça reavaliou a decisão de prendê-lo preventivamente pelo homem ter emprego e endereço fixo, itens ignorados em um primeiro momento.
A família de André sustentava desde o início que o PM forjou uma tentativa de roubo para incriminar o jovem negro, que acabara de realizar a entrega de uma pizza e fazia um intervalo no trabalho.
Até então, o Ministério Público de São Paulo apoiava a decisão de encarcerar o entregador negro. Contudo, o promotor Celso Élio Vannuzini mudou o entendimento apontado pelo órgão e decidiu arquivar o inquérito policial sobre a suposta tentativa de roubo.
Também na quarta-feira, o promotor analisou as provas, entre elas uma filmagem, e concluiu não haver indícios de que André teria tentado roubar o policial. Ainda assim, ele responderá em liberdade até a decisão judicial que o inocente do suposto crime.
Segundo o PM Felipe, André estava parado na Rua Capinzal, região do Tremembé, zona norte da capital, quando teria feito menção de sacar uma arma e anunciou um assalto.
Felipe, que estava à paisana, reagiu e o prendeu. As imagens mostram o policial agindo com agressividade e empurrando o entregador para a parede. O PM ainda teria o xingado de “verme”, “arrombado” e “noia”.
“Todavia, além da abordagem ter sido feita de forma agressiva, não restou evidenciada a suspeita do policial”, defende o promotor Vannuzini. O representante do Ministério Público garante não haver “qualquer prova segura e insuspeita” de que o homem teria tentado roubar o policial ou de ter feito menção de sacar uma arma.
Influencer
O soldado Felipe usa as redes sociais para exaltar a PM, compartilhar abordagens com agressões e divulgar seus “parceiros comerciais”.
Em um dos vídeos divulgados por ele, a PM persegue um motoqueiro que bate a moto em uma parede antes de ser abordado. Pela batida, intitulou a gravação como “ele achou que era Harry Potter (bruxo protagonista dos livros infanto-juvenis), tentou passar através da parede”.
Felipe promove o trabalho dos policiais da Rocam (Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas) ao som de rappers, como Hungria, Pregador Luo e PapaMike, este último um integrante do gênero “rap policial”.
Os vídeos de Felipe também são compartilhados no canal de YouTube ‘Rocam Norte’, aparentemente ligado ao soldado. Depois do caso de agressão, o canal retirou todos os vídeos do ar.
VÍDEO:
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