Admirador de Trump morre após greve de fome para salvar presidente do coronavírus
Morre 'devoto' de Trump que fez greve de fome para salvar presidente dos EUA da Covid-19. Homem chegava a rezar todas as manhãs diante de uma estátua do ídolo
New York Times
Na Índia, onde multidões admiram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um fazendeiro rural o idolatra como um deus, orando para uma estátua em tamanho real de Trump em seu quintal todas as manhãs. “No início, todos na família pensaram que ele estava mentalmente perturbado, mas ele persistiu e todos finalmente mudaram de ideia”, disse Vivek Bukka, primo do fazendeiro Bussa Krishna.
Quando Trump anunciou que tinha o coronavírus, a notícia devastou Krishna. O fazendeiro postou um vídeo choroso no Facebook, no qual dizia: “Estou muito triste porque meu deus, Trump, contraiu o coronavírus. Peço a todos que orem por sua rápida recuperação.”
Ele parou de comer para mostrar solidariedade com o sofrimento de seu ídolo por causa da covid-19, disse sua família. Ele caiu em uma depressão profunda. No domingo, ele morreu de parada cardíaca. A devoção de Krishna o tornara uma pequena celebridade em seu país e ele era o assunto das manchetes nacionais. Sua morte foi notícia em toda a Índia.
Vivek disse que seu primo estava em boa forma física e não tinha problemas de saúde ou histórico de doenças cardíacas. Não há evidências que liguem a morte de Krishna ao seu jejum.
Não há indicação de que a Casa Branca ou Trump – que disse ter se recuperado do vírus e se sentido “poderoso” depois de ser tratado com um coquetel de drogas – conhecia seu maior fã na Índia. Muitos dos intelectuais urbanos do país não gostam do presidente americano, e ele é regularmente ridicularizado nas plataformas de mídia social indianas.
O presidente tem apoio em outros cantos da sociedade indiana. Um estudo de fevereiro do Pew Research Center descobriu que 56% das pessoas entrevistadas na Índia disseram que Trump “faria a coisa certa no que diz respeito aos assuntos mundiais”, ante 16% quando foi eleito.
A popularidade de Trump em algumas partes da Índia é notável porque o culto à personalidade que ele tentou cultivar – uma figura assumidamente ousada que conduziu os Estados Unidos a um novo futuro brilhante ao mesmo tempo que defendeu o “America First” – reflete como o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, projeta-se para seus próprios apoiadores.
Krishna, um fazendeiro viúvo na casa dos 30 anos que vivia no vilarejo de Konne, no estado de Telangana, ao sul da Índia, era devoto de Trump por cerca de quatro anos. Ele se tornou um fã quando o presidente apareceu para ele em um sonho, disseram seus parentes, e previram que o time nacional de críquete da Índia derrotaria seu arquirrival, o Paquistão, em uma partida no dia seguinte.
A Índia venceu, disse Vivek, “e a partir daquele dia ele começou a adorar Donald Trump”.
Mas o fazendeiro também admirava o presidente como líder, disse Vivek, 25, que mora perto da cidade de Hyderabad. Seu primo não falava inglês, e os meios de comunicação locais onde ele morava davam pouca atenção à política americana. Então, ele confiou no primo para traduzir artigos e vídeos para ele.
Vemula Venkat Goud, chefe do vilarejo de Konne, disse que o jovem fazendeiro também se sentiu atraído pelos “modos diretos e discurso direto” de Trump.
Os vizinhos não sabiam muito sobre a política americana e não tinham opinião sobre Trump, acrescentou. Mas como Krishna era um grande fã, eles abraçaram sua causa como uma cortesia, mesmo que parecesse um pouco estranho.
Conforme a devoção de Krishna por Trump se intensificou, ele começou a jejuar todas as sextas-feiras para apoiá-lo e encomendou a construção de um santuário em seu quintal com a estátua em tamanho real, disse Vivek. Ele o adorava com rituais hindus por uma ou duas horas todas as manhãs, como alguém faria ao orar para Krishna, Shiva, Ganesha ou outros deuses no panteão hindu.
Um vídeo de Krishna que circulou amplamente online mostra-o realizando um ritual de oração, ou pooja, diante de um altar que contém uma foto de Trump.
Em outra, ele usa uma camiseta com os dizeres “Trump” em letras maiúsculas brancas enquanto derrama água sobre a cabeça da estátua, que está usando uma gravata vermelha e fazendo sinal de positivo. A estátua de Trump tem uma guirlanda de flores frescas em volta do pescoço e um tilak vermelho – um símbolo tradicional feito de vermelhão ou pasta de sândalo e usado em cerimônias religiosas – na testa.
A obsessão de Krishna com Trump ecoa a de pessoas em outros países distantes. No Afeganistão, um casal deu ao terceiro filho o nome de Donald Trump. O pai admirava a riqueza de Trump. Mais tarde, porém, dizendo que não se sentia mais seguro como apoiador de Trump, ele e sua família fugiram do Afeganistão.
A criação de uma estátua por Krishna à semelhança de Trump também não é única. Um arquiteto construiu uma estátua gigante de madeira do presidente americano com dentes de vampiro na Eslovênia, o país natal da primeira-dama, Melania Trump. Alguns críticos denunciaram isso como um “desperdício de madeira”.
O criador dessa estátua, Tomaz Schlegl, um arquiteto, disse à Reuters: “Quero alertar as pessoas sobre o aumento do populismo e seria difícil encontrar um populista maior neste mundo do que Donald Trump.”
Uma escultura de madeira em tamanho natural da primeira-dama perto da cidade de Sevnica, no leste da Eslovênia, onde ela cresceu, foi incendiada. O artista responsável pela encomenda substituiu-o por uma estátua de bronze.
Krishna, fez uma tentativa corajosa de encontrar seu ídolo. Ele viajou para a Embaixada dos Estados Unidos em Nova Délhi antes da viagem de Trump à Índia em fevereiro para tentar marcar um encontro, disse Venkat, o chefe da aldeia.
“É muito triste que o sonho dele nunca tenha se tornado realidade”, acrescentou. Krishna manteve a fé até o fim.
Quando soube do diagnóstico de coronavírus de Trump, ele se trancou em seu quarto, disse Vivek. “Tentamos forçá-lo a comer, mas ele quase não se alimentou”, disse ele.
No domingo, Krishna desmaiou e seus parentes o levaram ao hospital. Ele foi declarado morto na chegada. Krishna deixou seus pais e seu filho de 7 anos.
Venkat disse que os moradores estavam discutindo a melhor forma de manter o santuário Trump de seu vizinho.