“Chorei, porque é difícil”, diz músico vítima de racismo ao tentar fazer exame da Covid
“Chorei, porque é difícil. Senti um aperto no pescoço, uma falta de ar”. Músico tenta fazer exame da Covid-19 no Rio de Janeiro e é discriminado por ser negro
O que era pra ser a simples realização de um exame se tornou mais um episódio de preconceito racial. É isso que aponta o compositor e instrumentista Pretinho da Serrinha. De acordo com o artista, ele sofreu discriminação quando foi a uma clínica na Zona Sul do Rio de Janeiro na última quarta-feira (21).
Pretinho se dirigiu à Policlínica Granato, em São Conrado, para fazer um exame para diagnóstico do novo coronavírus. Na semana anterior, ele já havia estado no mesmo local – e afirma que foi mal atendido. Em entrevista ao ‘Notícia Preta’, o carioca explicou a situação.
“Quando cheguei para fazer o exame, uma senhora me atendeu e perguntou o que eu pretendia. Respondi que queria fazer o exame PCR, e ela logo rebateu: ‘O senhor não está no lugar errado, não? Não está querendo ir à policlínica?’. Ela se referia a uma unidade que tem ali perto, no pé da comunidade da Rocinha. Eu respondi que não, e ela insistiu: ‘Mas o senhor sabe o valor? Custa 450 reais, o senhor sabe disso?’”, contou Pretinho.
A partir daí, de acordo com o artista, foi um festival de justificativas infundadas. Pretinho revela que “travou” diante da cena e começou a se tremer, mas se esforçou para responder mantendo a educação.
“A atendente chamou a médica, e a médica nem me deu ‘boa tarde’ quando chegou. Já veio com ‘O senhor sabe quanto custa o exame?’. E, aí, eu não me segurei: ‘Vocês acham que não tenho dinheiro pra pagar um exame só porque sou preto? É isso? Eu sei onde estou, sei o valor! Não perguntariam isso se eu fosse branco, perguntariam?’. E começou um tal de ‘não é bem assim, meu marido é negro’ e um monte de justificativas. É complicado. Eles jogam o valor já pra assustar, partindo do pressuposto que não temos condições de pagar”, disse.
Passado o momento, Pretinho da Serrinha conseguiu realizar o exame. Já no carro, voltando para casa, a realidade escorreu pelo rosto.
“Chorei, irmão. Chorei, porque é difícil. Senti um aperto no pescoço, uma falta de ar. Quando entrei no carro, só quis falar com meus amigos no grupo (de WhatsApp), todos pretos. Sabia que eles iam me entender. Só de falar aqui com você, já está me doendo de novo”, encerrou.