Vacina de Oxford: voluntário que morreu era médico recém-formado
Médico voluntário na pesquisa sobre a vacina de Oxford tomou placebo. Ele tinha 28 anos, atuava na linha de frente contra a Covid desde março e trabalhava em dois hospitais
O médico João Pedro Feitosa, de 28 anos, participava dos testes da vacina de Oxford e morreu no último dia 15 em decorrência de complicações da Covid-19.
João fazia parte do grupo de voluntários que tomou um placebo. Ou seja, Feitosa não recebeu uma dose do imunizante em desenvolvimento, mas sim uma substância que não tem efeito no organismo — o que é feito neste tipo de estudo para conseguir avaliar as diferenças entre reações de quem toma ou não.
Formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano passado, Feitosa atuava na linha de frente contra a Covid desde março. Trabalhava em dois hospitais, um público e outro particular, ambos na Zona Norte carioca, e chegou a dar plantões em um hospital de campanha.
João Feitosa Atuava sob o risco de contágio com a mesma coragem que teve para se voluntariar e ajudar nas pesquisas pela vacina. Amigos, a reitoria da UFRJ, a Faculdade de Medicina e ex-colegas publicaram textos em homenagem ao jovem médico.
Colegas lembraram que ele dizia que a maior dor ao lidar com pacientes com Covid era ir para casa pensando no sofrimento de quem ficava confinado nos hospitais, sem contato com as pessoas que amavam.
O caso foi revelado nesta quarta-feira (21) pelo jornal “O Globo”. À tarde, a universidade divulgou uma nota lamentando a morte de João Pedro Feitosa.
Após a morte de João, tanto os desenvolvedores da vacina (AstraZeneca e Universidade de Oxford) quanto os envolvidos na aplicação dos testes (Unifesp e IDOR) afirmaram que estão impedidos de dar detalhes por questões éticas, mas ressaltaram que não houve indicação para suspensão do estudo.
Além disso, lembraram que a pesquisa é baseada em um “estudo randomizado e cego, no qual 50% dos voluntários recebem o imunizante produzido por Oxford”.
Em nota, a Universidade de Oxford ressaltou que os incidentes com participantes do grupo controle são revisados por um comitê independente e que a “análise cuidadosa” não trouxe preocupações sobre a segurança do ensaio clínico.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que foi notificada do óbito na segunda (19), e que foi informada que o comitê independente que acompanha o caso sugeriu o prosseguimento do estudo. “O processo permanece em avaliação”, disse a Anvisa.
A vacina desenvolvida em parceria entre o laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford é a principal aposta do governo federal para uma futura campanha de vacinação contra o novo coronavírus.
O estudo está na fase 3 dos testes, e eles começaram no Brasil em junho. Nesta fase, a eficácia da vacina é verificada a partir do monitoramento de milhares de voluntários. No país, 8 mil voluntários já participam do estudo.