Candidatos de Bolsonaro não decolam nas grandes cidades. Em São Paulo, aliados e apoiadores espalham fake news e publicam mensagens de desespero após Boulos ultrapassar Russomanno
O primeiro turno da campanha eleitoral de 2020 se aproxima do fim com uma indefinição na maior cidade do Brasil. Os candidatos Guilherme Boulos (PSOL), Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB) disputam uma vaga no segundo turno. De acordo com as pesquisas, a primeira colocação ficará com Bruno Covas (PSDB).
Tanto Ibope como Datafolha apresentaram uma novidade nesta última semana: Boulos ultrapassou Russomanno numericamente pela primeira vez desde o início da campanha.
A ascensão de Boulos o colocou como o principal alvo do gabinete do ódio bolsonarista, já que Celso Russomanno é o candidato do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo.
Nas últimas horas, as redes bolsonaristas apressaram-se para disseminar um vídeo com informações falsas produzido pelo blogueiro militante Oswaldo Eustáquio. O tema chegou aos treding topics do Twitter.
No vídeo, Oswaldo Eustáquio afirma que empresas fantasmas teriam recebido dinheiro de Guilherme Boulos. Russomanno chegou a levar o tema para o debate da TV Cultura, ao dizer que uma “equipe de reportagem” teria divulgado nas redes sociais que procurou duas produtoras, mas não encontrou ninguém nos locais indicados.
A “equipe de reportagem” que Russomanno cita era, na verdade, Eustáquio, que já foi preso dentro da investigação do inquérito das fake news.
“A tal da produtora de cinema, que eles dizem que é uma empresa fantasma, tem filmes que foram para mostras internacionais de cinema”, disse Boulos em agenda de campanha nesta tarde. “É um absurdo. Russomanno se aproveitou de o endereço estar desatualizado para dizer que a empresa é fantasma. É um nível de leviandade, de desespero.”
As duas produtoras são de uma diretora de cinema freelancer e de uma equipe que trabalha remotamente durante a pandemia de covid-19. Ambas estão registradas e foram declaradas nos gastos da campanha.
Prisão
O blogueiro Oswaldo Eustáquio já foi preso pela Polícia Federal em 26 de junho. Ele é um dos principais envolvidos no inquérito das fake news. A PF alegou que ele estava utilizando táticas para não ser localizado e o prendeu para amenizar o risco de fuga.
Ele é investigado na Operação Lume, inquérito que apura financiamento, apoio e organização de atos antidemocráticos que defendem o retorno da Ditadura Militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).
O blogueiro já apareceu em lives com o ex-deputado condenado no processo do “mensalão” Roberto Jefferson, quando o líder do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) defendeu que haveria uma tentativa de golpe contra Jair Bolsonaro (sem partido). Ele também foi assessor da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, durante o governo de transição.
Justiça
A Justiça Eleitoral determinou que o Google retire imediatamente do ar o vídeo com informações falsas produzido pelo blogueiro Oswaldo Eustáquio.
“O cenário delineado pela matéria”, afirmou o juiz eleitoral Emílio Migliano Neto na decisão, “não encontra lastro nem sequer em indícios […] permitindo-se, sem temor, de ser adjetivado de sabidamente inverídico, extravasando o debate político-eleitoral.”
“O perigo do dano, para o candidato representante [Boulos], decorre da proximidade do pleito eleitoral, pois sua imagem irremediavelmente prejudicada em razão da não suspensão do vídeo veiculado”, afirma a decisão.
Na internet
O tom de desespero na internet tem tudo para durar até o domingo de eleição. “Atenção paulistanos, se as pesquisas dizem que Covas e Boulos estão na frente, quer dizer que é tudo o contrário. Russomanno lidera com folga”, afirmou um militante bolsonarista.
“ATENÇÃO paulistanos. Boulos não está ganhando de Russomanno, isso é um golpe armado pela esquerda. Todos que irão votar em Russomanno precisam votar de preto, como sinal de protesto”, escreveu outra.
“Pessoal, vamos de Russomanno ou preferem a ideologia de gênero para seus filhos nas escolas e a vachina?”, publicou o deputado Gil Diniz, conhecido como ‘Carteiro Reaça’.
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