Thais Reis Oliveira, Carta Capital
Aos 27 anos, o deputado João Campos (PSB) será o mais jovem prefeito do Recife . O candidato do PSB venceu com 56,2% dos votos uma apimentada disputa a prima Marília Arraes, do PT, pela prefeitura do Recife.
Primos e herdeiros da principal dinastia política de Pernambuco, a dupla há anos rivaliza por protagonismo. O filho de Eduardo Campos, morto prematuramente em 2014, João se apressou em tomar as rédeas do PSB. Sem espaço no partido fundado pelo avô, Marília filiou-se ao PT e encarnou a oposição ao partido do avô no estado.
Em comerciais de TV modernos e bem executados – a campanha custou, segundo dados do TSE, 7,8 milhões, contra 4,5 mi da rival – Campos se vendeu como um “prefeito da nova geração”, um jovem que olha para o “futuro” e gostaria adaptar o Recife à quarta revolução industrial.
No segundo turno, apostou no antipetismo. O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco chegou a determinar que a coligação pessebista tirasse do ar uma propaganda que acusa a Arraes de ser contra o Prouni municipal e a Bíblia.
Também foram distribuídos na cidade panfletos apócrifos que a acusavam de defender a legalização das drogas, aborto, ideologia de gênero. “Tirou a Bíblia da Câmara do Recife, pertence ao PT que persegue os cristãos em todo o Brasil, votou contra o perdão das igrejas”. diz o texto. O PSB negou a autoria do material.
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A trajetória da bisneta de Miguel Arraes no partido de Lula é bastante sinuosa. O PT pernambucano sempre manteve uma relação muito próxima com o PSB. À boca pequena, a ala recifense do partido é chamada de “queijo do reino”: vermelha por fora e amarelo — cor do PSB — por dentro. Em 2018, ela teve a candidatura ao governo rifada em um acordo nacional pela neutralidade do PSB nas eleições presidenciais. O enredo só não se repetiu em 2020 por iniciativa do ex-presidente.
Mesmo pontuando menos que o parente no primeiro turno, a petista largou na frente. No segundo turno, as últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope davam a ambos 50% das intenções de voto.
Em rodas de conversa, aliados da petistas resumiam a disputa entre uma ‘mulher forte e guerreira’ contra um ‘boy de prédio’. Além de explorar o desgaste dos anos de PSB no poder, a campanha atacou a pouca idade e experiência do primo, dez anos mais jovem. No último debate entre os dois, chegou a dizer que a prefeitura “não é pirulito para dar a um menino”.
Para neutralizar o amplo arco de apoio do primo, Arraes amealhou aliados conservadores. Conseguiu o apoio do PTB, que estava com o rival Mendonça Filho (DEM) no primeiro turno, e do Podemos, partido de Delegada Patrícia, candidata de Bolsonaro na cidade.
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