Redação Pragmatismo
Saúde 25/Nov/2020 às 18:31 COMENTÁRIOS
Saúde

Nora de Bolsonaro se desculpa após chamar movimento antivacina de "coisa de retardado"

Publicado em 25 Nov, 2020 às 18h31

Em lapso de lucidez, esposa de Eduardo Bolsonaro chama movimento antivacina de "coisa de retardado", mas é pressionada a se desculpar em seguida. Tanto o marido dela como o sogro são adeptos de teorias conspiratórias contra vacinas

Heloísa Bolsonaro vacina
Heloísa Bolsonaro

Esposa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Heloísa Bolsonaro criticou nesta quarta-feira (24) o movimento antivacina, que questiona a necessidade de imunização de crianças e adultos. A declaração foi uma resposta a um seguidor que perguntou a Heloísa se Geórgia, sua filha recém-nascida, tomará todas as vacinas.

“Geórgia toma e tomará todas as vacinas para cada fase. Não sabia que existia um movimento antivacina, mas agora sabendo, só pode ser coisa de retardado”, escreveu. “Depois, quando o filho tiver uma doença, quero ver ele agradecer aos pais por terem poupado ele da dor do ‘pic’. Pqp, né? Por essas e outras a gente vê a volta de doenças antes erradicadas.”

A posição de Heloísa contraria a do próprio marido, Eduardo, e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ambos são adeptos de teorias conspiratórias antivacina que costumam ser mundialmente disseminadas por grupos de extrema-direita.

Recentemente, Eduardo e o pai defenderam que a vacina contra a covid-19, quando liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e distribuída à população, não deve ser obrigatória.

A mais recente manifestação de Jair Bolsonaro contra a vacinação obrigatória contra a covid-19 foi feita diante dos 20 líderes das maiores economias do mundo que participam da cúpula do G20, organizada pela Arábia Saudita.

Obrigada a pedir desculpas

O lapso de lucidez de Heloísa Bolsonaro durou apenas o tempo em que suas redes foram inundadas pela militância bolsonarista antivacina. Ou seja, por gente que apoia o seu marido e o seu sogro.

Heloísa voltou atrás e disse que “errou” ao criticar o movimento antivacina. “Sobre o que falei anteriormente sobre o movimento antivacinação: errei ao emitir opinião sobre algo que, como disse, não conheço (e detesto opinião atoa). Mas agora, como mãe, eu olho para a minha filha e só penso em protegê-la, de todas as formas. Mas não sei sobre o movimento, seus argumentos. Opinei com base no que já ouvi. Se você possui suas convicções, ignore”, disse ela.

“E o movimento antivacina não é coisa de retardado, me desculpem. São apenas pessoas que pensam diferentes, ou possuem informações que eu não possuo”, continuou.

Movimento antivacina

Ao longo dos últimos anos, o Brasil percebeu uma queda de cobertura vacinal do calendário básico de imunização. No ano passado, nenhuma das vacinas básicas teve meta alcançada pela primeira vez. Especialistas apontam que há vários motivos para isso. Um deles é o fortalecimento do movimento antivacina.

Uma prova disso é que 75% das pessoas afirmaram na última pesquisa Datafolha, de outubro, que queriam se vacinar contra a covid-19. Ou seja, um em cada quatro brasileiros não sabe se vai ou não quer tomar a imunização.

Os três principais argumentos do movimento antivacina são: que as vacinas contêm ingredientes perigosos; da defesa da liberdade de escolha; de promoção de serviços de saúde alternativa.

Deixar de se vacinar ou de vacinar seus filhos não tem efeito individual como muita gente pensa. “Vacina não é uma decisão individual que você pode tomar e que não vai ter consequências para a sociedade. Vacina é um ato de saúde coletiva”, explica Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.

“Quando você deixa de se vacinar, deixa de gerar imunidade de rebanho, que é o que protege as pessoas vulneráveis. Quando você tem uma boa parte da população vacinada, a doença para de circular, e daí aquelas pessoas que por algum motivo não podem se vacinar —ou porque são imunocomprometidas ou porque são bebês muito pequenos — ficam protegidas. É assim que a doença não tem como chegar nas pessoas vulneráveis”, completa.

Guido Levi, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirma que debater a importância e segurança das vacinas é algo completamente fora de propósito nos dias atuais.

“Elas são nossa maior estratégia de saúde pública. As vacinas aumentaram em 30 anos a expectativa de vida da população nos últimos dois séculos”, diz, citando erradicação de doenças como a varíola e poliomielite.

Entretanto, ele diz que profissionais da área têm notado um “crescimento muito grande” na desinformação e alerta que isso já tem reflexos percebidos na sociedade, como foi a volta do sarampo.

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